quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Projeto Cuidar de Mim - parte 3

Hoje vou traçar algumas diretrizes para orientar o Projeto a um resultado prático (ou vários). Em primeiro lugar, todo projeto precisa de um objetivo. O meu, por óbvio, é cuidar de mim. Achou muito vago? Ótimo. Isso aqui é um projeto pessoal, e não um trabalho de conclusão de curso. Não quero delimitar coisa alguma. Quero sim é ampliar!

Então, sem mais suspense, a etapa atual do projeto consiste em fazer coisas diferentes. Só isso? Aham.

Há tempos tenho a nítida impressão de que o meu bem-estar é constantemente ameaçado, em diversas frentes, por um único inimigo, que se disfarça das mais variadas formas: a preguiça. Suas múltiplas facetas: procrastinação, hábito, monotonia, tédio, rotina, costume, prostração, falta de vontade, comodismo, indisciplina.

A preguiça de levantar da cadeira e movimentar o corpo, de aprender uma coisa diferente, de conhecer pessoas, de sair do marasmo, de acordar mais cedo, de levar adiante um plano, de experimentar algo novo, e até de pensar. Esta última é a mais perigosa de todas as formas de preguiça, e, curiosamente, a que atinge a maior parte das pessoas que conheço (provavelmente das que não conheço também).

As pessoas se acostumam a engolir as notícias do jornal como se as emissoras de TV e rádio fossem, de fato, veículos de transmissão da verdade, e não instrumentos de convencimento patrocinados por interesses, muitas vezes, diferentes e até contrários aos nossos. Assistem ao filme com mais indicações ao Oscar e não são capazes de formular uma opinião própria mais aprofundada sem antes ler a crítica da revista semanal. Vêm a novela e têm a capacidade de acreditar que a vida deveria mesmo ser daquele jeito - cobertura à beira-mar, casa de veraneio em praia de luxo, viagens ao redor do mundo em vôos de primeira classe e hotéis 5 estrelas. O próprio espectador, ao constatar que sua realidade está muito distante daquilo tudo, conclui, naturalmente, que sua vida é um fracasso. O pior: numa rodinha de amigos em que todos têm formação em nível superior, quase todos já viajaram por diversos países e falam mais de uma língua, têm ótimos empregos e ganham super bem - ou seja, a suposta elite cultural do país - o assunto gira em torno de uma pequena discussão sobre qual programa é mais legal: A Fazenda ou Big Brother.

Alguma coisa precisa ser feita. Já. Sei bem que é por passar pelo menos oito horas na frente do computador, sentada na mesma posição, cinco dias por semana, que eu tenho dores nas costas, nos ombros e no pescoço, além de um encurtamento muscular horroroso nas pernas e de uma vista cansada, com astigmatismo crescente. Por que eu permito que a preguiça e a rotina me façam mal assim?

É por tomar os relacionamentos por garantidos, que às vezes perco a compostura e ergo a voz com as pessoas que amo. Depois me arrependo. Por estar tão habituada à minha vida, muitas vezes deixo de dar valor e agradecer profundamente por tudo que tenho. Percebe? Ou precisa de mais exemplos?

No livro O Mundo de Sofia (um dos meus preferidos nessa vida), Jostein Gaarder explica que o que diferencia um filósofo das outras pessoas, é que estas se habituam ao mundo, à vida, a tudo que as cerca, e com isso se tornam indiferentes. Segundo o escritor, a principal característica de um filósofo é a capacidade de se surpreender.

Há um texto que me foi apresentado pela minha amiga Letícia - filósofa tanto por formação quanto segundo a definição de Gaarder - que descreve os efeitos da rotina sobre o ser humano. O artigo circula na internet há anos, e a autoria é atribuída a Airton Luiz Mendonça. Consta nos sites pela world wide web afora que o artigo teria sido publicado no jornal O Estado de São Paulo. Porém, em consulta ao site do periódico, não encontrei qualquer referência ao texto ou ao autor. 

Whatever. O que interessa é que o texto é bem interessante e você pode lê-lo na íntegra no site da Lê. Segundo o artigo, em termos gerais, somente experiências novas fazem o cérebro trabalhar pra valer. É que nas situações corriqueiras, repetidas à exaustão dia após dia, a mente funciona em modo automático. E faz todo o sentido, não? O exemplo que o texto dá é perfeito: depois de algum tempo que já aprendemos a dirigir, não precisamos mais ficar pensando "agora vou pisar na embreagem para passar para a segunda marcha, depois soltar da embreagem lentamente, ao mesmo tempo em que vou acelerando. Opa, vou também ligar o pisca avisando que vou virar à esquerda. Que bom seria se eu conseguisse fazer tudo isso e ainda mudar de estação em busca de uma música mais legal". A ação, ou melhor, as múltiplas ações acontecem de forma tão natural que parece evidente que o esforço do cérebro não é mais o mesmo de quando estávamos assimilando todas essas informações. Creio que seja desnecessário explicar os motivos pelos quais considero importante manter o cérebro em constante aprimoramento - embora muita gente prefira exercitar apenas a b... ela forma física.

Da mesma forma que o autor do texto mencionado, eu também vejo o lado positivo da rotina. Além de otimizar as coisas, como ele cita, eu percebo ainda o aspecto benéfico da disciplina. Afinal de contas, não adianta nada eu experimentar uma porção de coisas diferentes, descobrir várias que me servem, que são boas para mim, e não ser capaz de levar qualquer delas adiante. Além disso, há experiências novas que não se esgotam no período de um dia. Fazer um curso, por exemplo. Por isso meu projeto inclui, além de fazer coisas diferentes, incorporar à minha rotina aquelas de que eu gostar mais.
 
Tenho também a regra de que a coisa diferente do dia seja algo que me faça bem (ou, pelo menos, não faça mal). Tomar ácido, cheirar uma carreirinha ou bater o meu recorde pessoal no rodízio de pizzas com 24 pedaços*, portanto, estão fora de cogitação.

Amanhã conto um pouquinho mais sobre o plano que, inclusive, já está em fase de execução.

Beijo

* Realmente já comi 23 pedaços de pizza num rodízio. Mas isso foi praticamente em outra vida. Quando encarnei como ogra, sabe?

Um comentário:

  1. Guria, realmente inspirador! Muito bom te ver crescendo em todos os âmbitos (nunca paramos de crescer, né?). Estou nessa estrada também, procurando sempre o movimento (mas aquele que vá pra frente). Lembrei de um pedaço do filme Ratatoille, quando o ratinho fala: "Life is change, at least the part we influence. And it all starts when we decide." Bjão

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