segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A not so desperate housewife



Entre as minhas amigas o tema ainda é tabu. Se alguma resolve trazer o assunto à tona, rapidamente é marginalizada pelas demais ou sofre ameaças: “se nossas conversas de agora em diante forem sobre esse tipo de coisa, eu não apareço mais”.

Eu sofro. Preciso manter oculta essa minha paixão. Temo não ser compreendida e até ser rejeitada pelas pessoas que amo. Mas, enfim, preciso confessar: estou extremamente ansiosa e excitada com o fato de que, em breve, serei... Uma dona de casa! Calma, gente, não estou falando de abandonar o trabalho remunerado, colocar todas as contas nas mãos do namorido, começar a preencher formulários como “do lar” e passar os dias exclusivamente cozinhando, limpando, lavando, passando, costurando e confeitando.

Falo, sim, de um resgate de algumas coisas boas do passado que foram execradas pelo espírito feminista. Em defesa da igualdade de direitos e da proteção da mulher, foram feitas campanhas e passeatas, queimados sutiãs e impostos novos padrões de comportamento.

As mulheres saíram de casa, passaram a competir no mercado de trabalho e dedicar cada vez menos tempo às tarefas domésticas – processo que foi bastante facilitado pela invenção de abençoados eletrodomésticos. Até mesmo a moda ditava um novo jeito de ser, masculinizando as formas femininas com blazers, calças compridas, cortes retos, ombreiras gigantescas, coletes e até gravatas, com a intenção de diminuir as diferenças entre os gêneros e dar mais credibilidade às mulheres no ambiente profissional.

Todo esse processo foi necessário e, graças a ele, eu e a maior parte das mulheres da minha idade não tivemos que sofrer discriminações que muitas de nossas mães enfrentaram. Minha mãe conta o quanto era comum, e pior, até considerado normal os chefes darem em cima das funcionárias, e que era preciso muita habilidade para se livrar das investidas e ainda conquistar espaço e o respeito dos superiores – e mesmo dos colegas.

Evidente que ainda existem homens porcos ocupando cargos de chefia, mas hoje esse tipo de conduta não é mais aceita pela sociedade e as vítimas de comportamentos abusivos têm como se defender. Conquistas como essa se devem àquelas mulheres corajosas que vestiram calças e foram à luta. É certo que muitas mulheres no mundo todo ainda enfrentam condições de vida inaceitáveis e que há muito trabalho a ser feito para assegurar a proteção de seus direitos, mas é admirável o caminho que já percorremos.

Hoje podemos usar saias sem sermos vistas como seres frágeis, indefesos e menos capazes. Chegamos a um momento em que é possível um resgate da feminilidade. Não precisamos necessariamente ser agressivas para garantir nosso lugar. Podemos fazer uso de nossa sensibilidade, do nosso senso estético, da nossa capacidade de expressão e até mesmo – por que não? – da nossa intuição.

A grande vantagem de não precisar empenhar todos os esforços em provar alguma coisa é uma vida mais leve e divertida, é a coragem de gostar (e admitir que gosta) de coisas não tão sérias, profundas, profissionais, corporativas ou filosóficas. A gente se permite apreciar pequenos prazeres da vida que tornam bem mais fácil encarar os desafios do dia a dia.

Para minha sorte, não estou sozinha. A cada dia descubro mais mulheres inteligentes, batalhadoras e bem sucedidas que adoram coisas malucas como arrumar a casa e cozinhar. E antes de continuar, cabe aqui uma ressalva: não acho, de jeito nenhum, que essas coisas sejam atribuições ou mesmo prazeres exclusivamente femininos. A questão é que já faz muito tempo que “um homem que sabe cozinhar” se tornou uma coisa linda de se ver, objeto de desejo, motivo de aplausos e elogios. Enquanto entre as mulheres parece ser feio admitir que sabe fazer qualquer coisa mais complexa – e saborosa – do que um macarrão instantâneo.

Para mim, é uma verdadeira arte saber transformar a casa num lugar delicioso para voltar após um dia de trabalho árduo. Conhecer segredinhos modernos ou do tempo da vovó para deixar tudo arrumadinho, limpinho e cheiroso. Saber preparar uma refeição que seja mais do que um simples alimento, mas um motivo de alegria.

Na minha família sempre convivi com pessoas que demonstram afeto através da comida. Experimente sair da casa de uma das minhas tias sem comer (e muito): ofensa imperdoável. Em casa, ao chegar varada de fome, muitas vezes abri a geladeira e conclui: “putz, não tem nada”. E minha mãe vai lá e transforma o “nada” em uma deliciosa refeição preparada em questão de minutos. Saladas, omeletes, risotos, tortas salgadas e muitas outras delícias. Com ela aprendi que criatividade é o melhor tempero.

Tenho ainda muitas outras musas inspiradoras, que apresento com muita honra:

A Chris, autora do site/blog/livro “Casa da Chris”, é jornalista, tem uma estranha obsessão por eletrodomésticos, adora ponto cruz e dá dicas maravilhosas para casa, além de traduzir perfeitamente os dilemas enfrentados quando mulheres modernas resolvem assumir seu lado Martha Stewart. Eu tenho o livro e adoro, além de ser frequentadora do site há anos. O seu Almanaque das Festas Instantâneas também está na mira pra fazer parte da minha coleção.

A Mari Mari, do Brincando de Casinha, também é jornalista, além de criadora desse blog maravilhoso, que trata de uma forma extremamente divertida, leve e bem-humorada de questões da casa: decoração, obras, reformas, enfim, várias dicas sensacionais. Eu me identifico tanto com a forma como ela escreve que, embora ela não saiba que eu existo, pra mim parece uma amiga. A dupla de posts “Os piores erros da minha reforma – parte 1 e parte 2 salvaram minha vida. Desde então, “Mari Mari adverte...” virou jargão entre mim e o Dé (pequeno parêntese de mulher apaixonada: acho tão lindinho que o Dé presta atenção nas coisas que eu gosto e que eu falo e até lê os blogs que eu indico... ai ai... Pronto, passou).

A Faby, a Katita, a Clau e a Grasiele são as Rainhas do Lar. As duas primeiras são responsáveis pela minha parte favorita: as receitas deliciosas, escritas de um jeito que parece uma amiga explicando pelo telefone. A Clau dá dicas de harmonizações de vinhos e pratos, e a Grasiele ensina tudo sobre jardim, flores, plantinhas mil. Sempre me perco no índice de receitas do site, que ainda dá dicas fofas de acessórios e coisinhas especiais pra cuidar do reino, digo, do lar. Tem explicações fantásticas desde como escolher os alimentos no mercado e outros segredinhos que você não encontra nos livros de culinária comuns. Vale a pena também ler os comentários aos posts, sempre acabam rendendo alguma dica extra, uma sugestão de uma leitora, recomendações de quem errou ou acertou no preparo, ou uma pergunta de outra perdida igual você, cuja resposta dada pela Rainha esclarece algum termo estranho de que você nunca tinha ouvido falar (tipo "clarificar a manteiga"). Ah, as Rainhas também têm um livro, o Pequeno Livro de Cozinha: Guia para Toda Hora, que eu não li ainda, mas certamente será uma das minhas próximas aquisições. Detalhe: o Dé também lê o Rainhas (já executamos juntos algumas receitas), comenta com amigos do trabalho as coisas que aprende no site e não liga para as piadinhas.

Donna Smallin é a autora de um livro cujo título não vai fazer você parecer a mais culta nem a mais descolada da galera, mas pode mudar a sua vida: “Casa limpa e arrumada – organize-se para cuidar da limpeza sem deixar de viver”. Sério mesmo: é o máximo! Isso sim que é auto-ajuda, o resto é bobagem! Donna dá orientações sobre como limpar cada cômodo da casa, como se organizar, tem dicas para pessoas alérgicas, para quem tem animais de estimação, para quem tem crianças, ensina a preparar seus próprios produtos de limpeza (mais econômicos e menos agressivos ao meio-ambiente) e muito mais. O melhor de tudo, em minha opinião, é mostrar que é possível ter uma casa limpa, arrumada, gostosa de morar, sem com isso ter que abrir mão de todas as outras coisas boas da vida! Eu super recomendo!

A mestra Martha Stewart é apresentadora de televisão e empresária americana, considerada autoridade em assuntos referentes a casa, decoração, culinária e artesanato. Faz qualquer mulher normal se sentir uma absoluta incompetente por deixar suas plantinhas morrerem ressecadas (ou afogadas), por não preparar um banquete ao chegar do trabalho antes de passar roupas e organizá-las no armário por ordem de cores em degradê em cabides que você mesma fez, por não viver num reino encantado cheirando a lavanda e terminar a noite fazendo artesanato para decorar a casa. É tipo uma Bree Van De Kamp da vida real. Mas vale a pena aproveitar as dicas, sem sucumbir a muitas neuras.

Bem, essas são algumas das minhas fontes de inspiração, além das revistas de arquitetura e decoração (outra tara que eu tenho). Se nenhuma delas fizer o seu estilo, não tem problema. Você pode buscar o seu próprio jeito de cuidar do seu cantinho. O importante é deixar livre a dona (ou o dono) de casa que existe dentro do seu ser! Afinal, existe no mínimo uma pessoa amada na sua casa que merece esse carinho: você!

Beijinhos

Ps.: juro que não ganhei nadica de nada pra fazer propaganda das divas acima, ok?