sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Algo mais sobre o Elefante

Uma informação que dá um pouco mais de sentido ao filme é a razão da escolha de seu título. Em princípio, numa pesquisa feita no mesmo dia em que vi o filme, encontrei a explicação de que o nome teria sido inspirado num documentário de 1989, de Alan Clarke, o qual sugere que os problemas com os adolescentes seriam "como um elefante na sala de estar", algo que incomoda, mas as pessoas fazem questão de ignorar. Ou algo assim.

Sinceramente, essa explicação me pareceu apenas mais um adereço à lindíssima roupa nova do rei. Não acrescentou nada. 

Depois encontrei, nesta bem elaborada crítica na Revista Contracampo, uma justificativa bem melhor. Na verdade, Von Sant entendeu errado o motivo pelo qual Alan Clarke escolhera o título Elefante para seu documentário em 89. Ele achou que tinha a ver com "uma antiga parábola budista sobre um grupo de cegos examinando diferentes partes de um elefante. Nessa parábola, cada cego afirma convictamente que compreende a natureza do animal com base tão-somente na parte que lhe chega ao tato. Ninguém vê ou sente o objeto na sua totalidade, mas todos arriscam um palpite totalizante – e, naturalmente, equivocado. Mesmo após ter descoberto o verdadeiro motivo pelo qual o documentário de Alan Clarke se chama Elephant, Van Sant afirma que o seu filme, rodado numa high-school situada em Portland, tem mais a ver com a parábola dos cegos".

Isso sim faz sentido e dá pelo menos uma sunga para o rei cobrir suas partes pudendas. De fato, diante de grandes tragédias, como a que aconteceu em Columbine em 1999, as pessoas tendem a observar e justificar os fatos sob perspectivas limitadas. Cada grupo se ocupa de encontrar um ou outro culpado para o terrível incidente.

Von Sant procura mostrar todos os elementos possíveis sem fazer uma escolha declarada por qualquer um deles. Apenas mostra que estava tudo ali: pais ausentes, jogos violentos, a velha segregação de grupos na escola, o acesso à compra de armas pela internet, um documentário sobre nazismo na televisão... Enquanto a maior parte das pessoas escolhe um desses elementos como causa para o ocorrido - como os cegos que descrevem o elefante cada um de acordo com a parte que está tocando - em Elefante não há escolhas, apenas a imersão do espectador.

Mais um mérito do diretor, que escapou da receitinha de bolo de Hollywood.

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