sábado, 30 de janeiro de 2010

Mercado Municipal

Juro que para mim não é fácil levantar cedo no dia em que até o Todo Poderoso descansou. Pense bem, até a potência do onipotente precisa de uma folguinha. Mesmo assim, programei meu despertador para o mesmo horário dos dias inúteis e acordei por volta das 7h. 

Eu e namorido fomos ao Mercado Municipal, escolher algumas delícias para montar uma cesta de presente de aniversário para o sogrinho. Para mim o ineditismo da situação resume-se a ter levantado antes das 10h num sábado, mas para namorido foi bem mais legal, porque ele não conhecia o lugar, que é um dos meus preferidos.

Frutas, temperos, cafés, carnes, peixes, legumes, verduras, vinhos, sucos, queijos, pães, pimentas, biscoitos, doces, enfim, de tudo um pouco. Do simples ao mais exótico. Uma profusão de aromas, cores e sabores. Uma vontade imensa de levar quase tudo!

Como diz o Giovanni, personagem do filme Estômago, é ali que começa a arte de cozinhar. Um passeio pelo Mercado Municipal é no mínimo inspirador para novas experiências gastronômicas. E como o alimento (e uma boa bebida para acompanhar) é uma das formas mais antigas de demonstrar carinho - começa com a relação entre mãe e filho e segue por toda a vida -, pelos corredores do Mercado a gente encontra uma série de opções para presentear quem a gente quer bem. :)

Beijos!

Inovações culinárias

O clima em Curitiba nessa sexta-feira foi algo realmente fora do comum. Além de muita, mas muita chuva mesmo, passamos o dia aos sobressaltos com trovões balançando as janelas e clarões de relâmpagos que iluminavam um dia particularmente escuro. Por fim, por volta das 20h, abriu o maior sol, como se estivesse amanhecendo, e dois enormes arco-íris nos acompanharam no caminho para casa.

Com tanta água desabando, muita gente desmarcou compromissos, faltou ao dentista, os salões de beleza ficaram vazios e, provavelmente, os bares também. E eu ainda não havia feito nada de diferente no dia. Almocei no mesmo restaurante de sempre, trabalhei, cumpri meus prazos, naveguei na internet... Nada de novo.

Felizmente, o friozinho e a chuva fizeram o clima perfeito para pilotar o fogão e preparar uma sopinha de batatas, frango e champignon, servida dentro de um pão italiano coberto de azeite de oliva por dentro e por fora, e levado ao forno até ficar crocante. O momento foi ideal para também abrir o vinho que o Dé ganhou de Natal da melhor sogra do mundo - a dele. 

E então a experiência diferente do dia foi preparar assim, de última hora, sem planejar, uma ocasião perfeita para celebrar o amor.

Clique para aumentar.
Breve desacordo entre o marcador de horas do forno micro-ondas e o do forno elétrico.


Beijinhos.

Um pouquinho mais de Yoga

Na quinta-feira à noite, eu e namorido fomos conhecer mais uma escola de Yoga, a Govardhana. Fizemos uma aula experimental com o Goura, que também dá aulas de Sânscrito, filosofia e instrumentos musicais indianos. Foi com certeza a melhor aula até agora, apesar de eu ter gostado muito também da aula do Mahamuni, que também vai dar aulas na Govardhana a partir desse ano. Mais para frente eu faço um post a respeito das minhas impressões nessa jornada por diferentes escolas de Yoga.

O que posso dizer, desde já, é que sempre que estou em "estado de Yoga", ou seja, toda vez que pratico, independentemente do método adotado pelo instrutor, sinto que isso é algo que eu estava buscando. Essa sensação de paz, de estar fazendo uma coisa boa pelo meu corpo e pela minha mente. Sentir que, mesmo em pouquíssimo tempo de prática, a consciência corporal começa a se expandir, fazendo com que eu cuide, naturalmente, de manter uma postura melhor, mais centrada. Não tenho dúvida de que o trabalho físico se reflete em outros planos - e vice-versa.

Além dos benefícios do Yoga em si, essa experimentação toda tem trazido ainda outros aspectos positivos, como o fato de eu e o Dé estarmos conhecendo vários lugares novos e pessoas diferentes, que, por sua vez, abrem as portas para novas experiências, como o jantar indiano para o qual fomos convidados. E, assim, o projeto segue trazendo resultados incríveis a cada dia.

Beijos

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Algo mais sobre o Elefante

Uma informação que dá um pouco mais de sentido ao filme é a razão da escolha de seu título. Em princípio, numa pesquisa feita no mesmo dia em que vi o filme, encontrei a explicação de que o nome teria sido inspirado num documentário de 1989, de Alan Clarke, o qual sugere que os problemas com os adolescentes seriam "como um elefante na sala de estar", algo que incomoda, mas as pessoas fazem questão de ignorar. Ou algo assim.

Sinceramente, essa explicação me pareceu apenas mais um adereço à lindíssima roupa nova do rei. Não acrescentou nada. 

Depois encontrei, nesta bem elaborada crítica na Revista Contracampo, uma justificativa bem melhor. Na verdade, Von Sant entendeu errado o motivo pelo qual Alan Clarke escolhera o título Elefante para seu documentário em 89. Ele achou que tinha a ver com "uma antiga parábola budista sobre um grupo de cegos examinando diferentes partes de um elefante. Nessa parábola, cada cego afirma convictamente que compreende a natureza do animal com base tão-somente na parte que lhe chega ao tato. Ninguém vê ou sente o objeto na sua totalidade, mas todos arriscam um palpite totalizante – e, naturalmente, equivocado. Mesmo após ter descoberto o verdadeiro motivo pelo qual o documentário de Alan Clarke se chama Elephant, Van Sant afirma que o seu filme, rodado numa high-school situada em Portland, tem mais a ver com a parábola dos cegos".

Isso sim faz sentido e dá pelo menos uma sunga para o rei cobrir suas partes pudendas. De fato, diante de grandes tragédias, como a que aconteceu em Columbine em 1999, as pessoas tendem a observar e justificar os fatos sob perspectivas limitadas. Cada grupo se ocupa de encontrar um ou outro culpado para o terrível incidente.

Von Sant procura mostrar todos os elementos possíveis sem fazer uma escolha declarada por qualquer um deles. Apenas mostra que estava tudo ali: pais ausentes, jogos violentos, a velha segregação de grupos na escola, o acesso à compra de armas pela internet, um documentário sobre nazismo na televisão... Enquanto a maior parte das pessoas escolhe um desses elementos como causa para o ocorrido - como os cegos que descrevem o elefante cada um de acordo com a parte que está tocando - em Elefante não há escolhas, apenas a imersão do espectador.

Mais um mérito do diretor, que escapou da receitinha de bolo de Hollywood.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Paço de novo

Então o namorido topou a aventura - ele sempre topa :) - e à noite voltei ao Paço da Liberdade na companhia de meu amado. Desfrutamos de outro projeto cultural da casa, a Mostra Carta Branca, em que cineastas são convidados para indicar sete filmes para serem exibidos na sala CinePensamento.

O filme de ontem, indicado por Eduardo Valente, foi o Elefante, de Gus Van Sant (o mesmo de Gênio Indomável), uma versão pessoal do diretor sobre o massacre na escola Columbine (que deu origem ao premiado documentário de Michael Moore).

Tenho a impressão (talvez por ignorância minha, não sei) de que determinados filmes são escolhidos pelos críticos por razões incertas para ocuparem o posto de obra prima do momento. E, assim como a roupa nova do rei, tais expoentes de genialidade também supostamente só podem ser enxergados por quem é inteligente. Por medo de dizer que achou uma bosta e ser tachado de estúpido, todo mundo sai da sala de exibição bradando elogios: "revolucionário", "de uma originalidade ímpar", "sensível como o teatro". Como diria namorido, sorry, but I'm allergic to bullshit.

Mesmo na minha ignorância eu consegui visualizar alguns pontos positivos no filme. Vamos a eles: as tomadas meio vagas focalizando nada por motivo algum, em muitos momentos conseguem atingir o que me parece ser o objetivo do diretor: conduzir à introspecção. Isso também é reforçado pela trilha sonora, com sons distorcidos de modo a introduzir o personagem no contexto quando interage com os demais e, logo em seguida, introjetá-lo novamente em seus próprios pensamentos (que o espectador não sabe quais são, então só resta imaginar). A câmera na nuca dos personagens, caminhando com eles, uma fotografia primorosa, a naturalidade com que os adolescentes desenvolvem as cenas e, principalmente, a ausência de picos de emoção mesmo nas cenas que, em tese, seriam as mais dramáticas, têm por resultado um filme que exige que o espectador reflita, pense, tire suas próprias conclusões, até porque não apresenta as causas nem tampouco as soluções.

Parece bom, né? E seria ótimo, não fosse o enorme esforço para ficar acordada até o final. Não é que o filme seja ruim, longe disso, mas não é brilhante nem inesquecível. Pronto, falei. Podem os psycho cults me achincalhar agora. O rei está pelado, minha gente, vamos parar de surtar, por favor. 

A primeira vez que me lembro de ter me deparado com o fenômeno "roupa nova do rei" foi em Dogville, que é do mesmo ano que Elefante, 2004. Inclusive, Dogville era o favorito do Festival de Cannes, e acabou perdendo para o Elefante. Sobre o filme do cão: ok que o diretor tenha lá seus méritos de economizar no orçamento riscando o cenário com giz no chão, de retratar a maldade do ser humano e a hipocrisia da vida em sociedade e não sei o que mais. Mas daí a dizer que isso é o ápice da genialidade é carregar demais nos paetês imaginários da roupa do rei. Eu achei o filme MUITO chato, e o ritmo devagar quase parando é ainda mais difícil de suportar com a ausência de cenários. Só despertei mesmo na apoteótica cena final, em que a grande e graciosa heroína Grace termina, por meio da vingança sangrenta, igualando-se aos seus algozes. Pff. Aí vem um pshyco cult articulando exageradamente: o me-lhor filme que já vi na-mi-nha-vi-da! 

Respiro fundo e concluo que preciso mesmo desenvolver mais a minha tolerância. Porque se desenvolver a força física, posso acabar partindo para a violência. Just kidding.

De qualquer forma, como se pode perceber, a experiência proporcionou alguma reflexão. É sempre bom conhecer coisas novas, mesmo que seja para não gostar delas. Ah, e o Paço me conquistou de vez: além dessa sala de exibição bacana (by the way, a exibição foi gratuita e aberta ao público, mesmo assim só tinha meia dúzia de espectadores) e da sala onde, mais cedo, eu havia visto o concerto de bandolim, tem mais várias outras atrações: a sala de internet (acesso gratuito), a biblioteca, a livraria e lojinha de souvenires, e o melhor de tudo: o café. Charmosíssimo, com flores amarelas sobre as mesinhas, com as enormes portas abertas com vista para as frondosas árvores da Praça Tiradentes. Lindo! Certamente voltarei.

Beijos

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Música no Paço da Liberdade e livros usados por aí

No horário de almoço de hoje fiz algo bem inovador: não almocei. Mas, calma, foi por um bom motivo. Andei sob o sol escaldante de meio-dia até a Praça Generoso Marques, a um quilômetro de distância. Meu destino era o Paço da Liberdade, que faz parte de um projeto de revitalização urbana chamado Arqueologia da Memória.

O prédio, construído no início do século passado (entre 1914 e 1916), é o único de Curitiba tombado nas três instâncias: municipal, estadual e federal. O Paço serviu de sede da Prefeitura, abrigando o gabinete de 42 prefeitos, sendo o último em 1969. Cinco anos depois, tornou-se sede do Museu Paranaense até 2002. De 2008 até 2009, o antigo prédio passou por uma grande restauração promovida pelo SESC/PR, e  passou a servir de espaço para diversos tipos de manifestação artística.

Eu nunca tinha estado lá dentro, mas já admirava o edifício por fora. Hoje tive a oportunidade de subir suas escadarias a admirar os detalhes internos da arquitetura restaurada pelos artesãos. Além disso, vi a exposição "Ler Vendo, Movendo", de Arnaldo Antunes, e assisti ao concerto solo (em princípio) para bandolim com Daniel Migliavacca. O concerto acabou não sendo exclusivamente solo, porque Daniel aproveitou a oportunidade para convidar o também bandolinista e compositor Jorge Cardoso para se apresentar para o público que lotou a platéia. Infelizmente, não pude ficar para ver os dois tocando juntos, porque o Daniel começou a tocar deselegantemente 30 minutos atrasado. Ainda bem que a bela música compensou esse deslize!

É sempre impressionante ver a perfeita integração entre um artista e seu instrumento musical, quando os dois parecem ser um só. Para quem ouve, a impressão é de que deve ser muito fácil produzir aquelas notas e acordes. Mas ao observar os movimentos ágeis e precisos do instrumentista, e a expressão de seu rosto num quase transe, nota-se que o entrosamento é resultado de anos de estudo, prática e dedicação intensa. Em tempos em que basta dinheiro para editar vozes e sintetizar arranjos, chamar o resultado de "música" e vender milhões de cópias, é bom demais presenciar a música de verdade sendo feita.

É uma pena que eu tenha descoberto só essa semana que, desde o dia 10 de janeiro, Curitiba está sendo palco de 90 concertos de artistas diversos, parte da programação da 28ª Oficina de Música de Curitiba, que termina no dia 31. Ainda dá tempo de acessar o site e aproveitar algumas das atrações. Muitas delas, como a que eu vi hoje, são gratuitas.

Na volta para o escritório, entrei num sebo chamado Joaquim Livraria. Pequeno, porém cheio de material de qualidade. E estava tocando uma seleção de músicas francesas maravilhosas, fiquei com a maior vontade de perguntar o que era. Mas já eram quase duas horas, e eu nem tinha almoçado ainda! Ainda acabei dando uma paradinha em outro sebo, o Só Ler, bem menos charmoso e com muito mais livros e revistas. A maioria, claro, não vale nada. Pilhas e mais pilhas de revistas velhas de fofoca e resumo das novelas (finalmente descobri algo pior do que as revistas novas de fofoca e resumo das novelas), artesanato e mulher pelada, além de incontáveis volumes de enciclopédias antigas e aqueles detestáveis romances com nome de mulher (Júlia, Sabrina, Bianca). De qualquer forma, encontrei o que eu queria: livros de exercícios de Inglês em diversos níveis, totalmente novos, sem nenhum risquinho sequer a lápis, por R$ 3,00 cada um.

Parei na panificadora da esquina e comprei uma coxinha de frango e uma esfiha de carne, que me serviram de almoço ao chegar ao escritório, esbaforida e muito atrasada. Certamente já cumpri a meta de algo inédito para o dia, mas esse negócio é viciante, e já estou pensando se arranjo um programa legal para a noite, desde que namorido se interesse em me acompanhar em mais uma aventura.

Beijos

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Diversão barata e almoço com amigas

Ontem, após o trabalho, eu e namorido nos encontramos num shopping para um programa que é uma boa dica para o pessoal que gosta de cinema e também de gastar pouco (sim, um grupo bem pequeno de pessoas gosta dessas duas coisas): segunda-feira o ingresso no UCI custa R$ 8,00, de modo que a meia entrada sai por meros R$ 4,00.

Se você não tem carteirinha de estudante nem está pensando em ingressar numa pós-graduação ou algo do gênero, ainda existe uma chance: caso você seja cliente do Itaú, também paga meia no UCI.

Já no Cinemark, são os cliente da Claro que recebem o desconto de 50%, basta se cadastrar no Claro Clube. Com o meu cartão do Claro Clube, posso comprar dois ingressos pagando meia (alguns clientes só podem comprar um). Não estou a fim de fazer propaganda (até porque o Itaú, a Claro, o UCI e o Cinemark, ingratos, não estão me pagando nada). A intenção é só dar uma dica que pode ser interessante. Eu mesma só descobri ontem que pagava meia por ter conta no Itaú.

Além disso, outros cinemas têm dias com preços especiais bem reduzidos. É sempre bom dar uma pesquisada para garantir um entretenimento baratinho, não?

Assistimos ao Sherlock Holmes do Guy Ritchie. Diversão do começo ao fim. Muita ação, ritmo intenso e, especialmente, muito humor na repaginação de Holmes. Robert Downey Jr. está totalmente à vontade interpretando o detetive ainda racional, dedutivo e lógico, porém porcalhão, preguiçoso e muito, mas muito sarcástico. Jude Law faz um Watson mais macho do que a noção que eu tinha do médico antes de Ritchie dar sua versão bem humorada.

Talvez a "crítica especializada" (who the f*ck they think they are?) discorde. Talvez pense que as modernices de Ritchie irritam, que o clássico personagem foi corrompido, que sobram efeitos especiais, que o gancho para a continuação foi arrogância, que blábláblá whyskas sachê. Como eu sou amadora e, em geral, adoto critérios mais emocionais do que técnicos, tenho a liberdade plena de dizer que gostei.

Mudando de assunto, hoje almocei no charmoso Jacobina com as queridíssimas Loira e Grace. Almoço com boas amigas é assim: gargalhadas garantidas ou seu dinheiro de volta. Desagradável é o expediente de trabalho, que espreme o curto tempo livre entre dois períodos longuíssimos de escravidão/tédio produtividade.

Assim, o almoço termina muito antes do assunto. Tudo bem, já deixamos reservados diversos tópicos para a pauta da próxima reunião, especialmente os que não forem previamente discutidos em correspondências virtuais quase diárias. Isso, é claro, sem contar as novidades que as moçoilas trarão do Carnaval em Salvador. Ai, ai, isso não vai prestar.

Beijos

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

E o cinema brasileiro, hein, quem diria?

Não sei se acontece com vocês, mas eu geralmente assisto aos produtos do cinema nacional com uma complacência prévia, uma camaradagem para com os conterrâneos que se atrevem a lançar qualquer coisa em nosso cenário cultural. Muitas vezes, porém, nem a minha benevolência salva as produções brasileiras de irem para a lista de horas perdidas na minha vida.

Não é o caso de alguns filmes que vi recentemente. Note-se que nenhum deles é lançamento, mas eu não os havia visto ainda. Semana passada vi Meu nome não é Johnny. Excelente atuação de Selton Mello. O roteiro também é interessante por não abordar a fórmula batida de garoto que cresceu na favela e não viu alternativa fora do submundo do crime. Sem levantar a bandeira antidrogas ou anti qualquer coisa, o filme mostra de forma natural como o menino de classe média, de boa família, de boa educação e com tudo para "dar certo" na vida se enveredou sem querer nem pensar pelo tráfico. O tom é despretensioso. Embora o filme trate de assuntos pesados como uso e tráfico de drogas, criminalidade, cadeia, a trama vai além da crítica social, fazendo um bom entretenimento também, sem perder o ritmo intenso. Os personagens são do tipo que eu mais gosto: a gente não se identifica com um herói nem com um bandido, mas com um ser humano.

Ontem assisti a Tempos de Paz, de Daniel Filho. Ao contrário dos sucessos de bilheteria Se eu fosse você 1 e 2, do mesmo diretor, Tempos de Paz não é uma história novelesca transportada de modo desajeitado por atores globais para a telona (felizmente).

Já no início do filme eu estava extremamente emocionada, por razões pessoais. O filme retrata a chegada de imigrantes europeus ao Brasil, tentando escapar dos horrores da guerra, ainda que não possam fugir de suas lembranças. Meus avós vieram para o Brasil da Ucrânia nessas condições. Embora eu tenha poucas referências do meu avô, que faleceu quando minha mãe tinha apenas 4 anos de idade, posso imaginá-lo chegando à sua nova pátria, trazendo nos olhos a esperança de uma vida melhor, e no peito um coração amargurado pela tristeza da 1ª Guerra Mundial.

Assim como o protagonista, interpretado por Dan Stulbach, meu avô também era um artista, um ator, e veio para o Brasil emprestar seus braços para a lavoura. Quando a gente pensa na chegada desses imigrantes ao Brasil, tem uma ideia das perdas no aspecto material: deixar para trás casa, posses, pátria. Mas é muito mais doloroso perceber que ficaram para trás também referências, vizinhos, amigos, parentes, muitos deles mortos. E, ainda, a identidade. Para muitos, o início de uma nova vida deve ter sido uma oportunidade interessante, mas para outros deve ter significado dar adeus ao que eles de fato sabiam e gostavam de fazer, para assumir uma personalidade distante da sua própria, mas que era - simplesmente - possível.

As interpretações dos protagonistas - Dan Stulbach e Tony Ramos - conseguem fugir dos clichês e não apelar para o melodrama barato. Stulbach, num monólogo, arranca lágrimas de seu até então insensível  e inabalável inquisidor. Minhas, então, nem se fala. É verdade que, até dado momento, chega a ser engraçada a semelhança do ator que parece o Tom Hanks com o personagem deste último em O Terminal. Por alguns intantes, ele quase escorrega num caricaturismo. Por sorte, ele escapa dessa cilada e monta um personagem maravilhoso, digno de aplausos de pé.

O filme presta uma bela homenagem à arte do teatro, fala de sublimação através da arte. Homenageia também aos imigrantes que, como diz, a guerra fez brasileiros. Um espetáculo levado dos palcos para o cinema com grande sucesso.

Outro filme brasileiro visto ontem foi Estômago, do curitibano Marcos Jorge. Foi interessante ver a minha cidade retratada no filme, ainda que a história em si não escancare que se passa em Curitiba. Legal, para variar um pouco, o cenário urbano não ser representado por São Paulo ou Rio de Janeiro. Talvez os mais atentos tenham percebido que os detentos se referem a um fulano que foi transferido para Piraquara, o que é uma boa dica só para quem sabe onde fica Piraquara, claro. Mas para quem já viu de perto, desde a rodoviária, passando pelos botecos sujos e pensionatos pobres do Largo até o ponto daspu, é uma viagem ver esses lugares virarem cenário de filme.

Além disso, é mais um filme que consegue tratar de temas delicados como prostituição, cadeia, crimes, exploração e pobreza sem parecer documentário-denúncia. Pelo contrário, a trama se desenvolve com um humor inteligente e ritmo agradável. E mesmo que o enredo gire em torno do clichê do retirante nordestino que chega à cidade grande em busca de uma vida melhor, consegue superar o lugar comum e fazer o mesmo de um jeito diferente.

Gostei muito de ver o protagonista se desenvolvendo ao longo da trama. Bem na verdade, ele começa ferrado e termina pior. Mas, de uma forma bem peculiar, consegue resgatar um quê de dignidade e se destacar em seu meio social, ao ponto de esboçar até uma estranha felicidade. E ele faz isso através de um talento que, inicialmente, nem sabia que possuía: cozinhar.

Mais uma vez, a humanidade dos personagens é o que me conquista: nenhum deles é ícone insuperável de crueldade, nem tampouco exemplo de santidade. Não há heróis imbatíveis nem vilões detestáveis. Por fim, pode até ser que o filme não desperte muitas reflexões sobre as mazelas da sociedade. Seu mérito está justamente aí: em divertir de forma despretensiosa e inteligente, retratando a realidade sem propor soluções e respostas. É a simples (e tão rara) arte de saber contar uma boa história.

domingo, 24 de janeiro de 2010

O projeto segue

De hoje em diante os textos voltam a ter títulos variados. Caso contrário, o sucesso do PCM conduzirá a uma série nada criativa, chegando, talvez, ao "Projeto Cuidar de Mim - parte 1254,5". De qualquer forma, continuarei usando os marcadores "projeto" e "coisas diferentes" para que os assuntos relacionados possam ser facilmente localizados na aba correspondente no menu à sua direita.

Ontem acabei não escrevendo - às vezes fica difícil encontrar tempo para o mundo virtual quando muito nos ocupamos com o real. Mas hoje aproveito a chuva torrencial que frustrou meus planos de um passeio no parque para contar os acontecimentos recentes.

Nesse sábado eu e namorido recebemos três queridos amigos que ainda não conheciam o lardocelar. É tão bom ter visitas! Em primeiro lugar porque é algo que obriga a espantar a famigerada preguiça para colocar a casa em ordem. O prazer de ver tudo limpinho, cheiroso e organizado compensa a trabalheira.

Além disso, amigos sempre trazem uma energia renovadora. Ainda mais quando, junto com o bom papo e os abraços calorosos, presenteiam-nos com flores e espumante para celebrar. Um lanche gostoso, café fresquinho, um cheesecake de damasco e muito carinho foram meus principais artifícios empregados a fim de que eles tenham vontade de voltar sempre.

Hoje fiz uma coisa absolutamente inédita: acordei às 6h da manhã. Num domingo, gente! Fui fazer uma prova de concurso. Aquelas coisas que você pensa: onde eu estava com a cabeça quando fiz a inscrição? Bem, uma vez que a taxa foi devidamente paga e havia uma etiqueta com o meu nome colada numa carteira da PUC, ficar dormindo não me pareceu uma boa ideia, por mais tentadora que ela fosse.

Voltando ao lar, preparei um almoço aplaudido como sempre pelo meu maior fã e apoiador, grande entusiasta de minhas cada vez mais sofisticadas incursões culinárias.

O finzinho do domingo se aproxima, com aquela cara de dia lavado pela chuva. Se vocês me dão licença, vou ali viver e amanhã eu volto.

Beijos

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Updating

Foi publicado o desempenho individual nas duas fases do vestiba, e olha lá que bonita:










Depois eu conto como é ser a tia da turma.

...

Imaginando...

Professor: Bom, pessoal, algumas pessoas vieram pedir para eu liberar a turma mais cedo hoje por causa do amistoso da seleção, então quero saber se estão todos de acordo.

44 alunos em coro: SIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMM!!!

Oksana: De jeito nenhum. Eu vim aqui para aprender e... ei, não joga a cadeira em mim, tua mãe não te deu educação, não, moleque? No meu tempo não era assim, os jovens respeitavam os mais velhos, blá blá blá whyskas sachê.
..

Projeto Cuidar de Mim - parte 4,5

Uma atualização rapidinha. Depois de almoçar com mamãe e colocar a conversa em dia - pense que não faz nem dois meses que deixei de morar com ela, e antes os papos eram diários - e passar na loja da minha amiga para entregar a encomenda, peguei aquele trânsito gostoso do centro da cidade, escorrendo suor dentro do carro (muito sensual). Claro que Curitiba programou mais uma daquelas reviravoltas típicas do nosso clima. Inverno glacial pela manhã, forno de micro-ondas no almoço, provavelmente no final da tarde uma tempestade tropical e talvez uma nevezinha à noite.

Ainda no clima de coisas inéditas, ao chegar no escritório entrei no site da Federal e descobri que eu passei no vestibular! Ano passado, num dia de tédio, resolvi tentar algo novo e fiz minha inscrição no curso de Gestão da Qualidade. Não me pergunte o que vou fazer com isso, ainda não sei nem se vou concluir essa segunda graduação. Mas o plano então era dar pelo menos uma estudadinha. Porém, com a correria que foi a coisa de montar casa, obras, pedreiros, pintura das paredes (feita por nozes - eu e namorido), escolha de móveis, mil orçamentos e finalmente a mudança, lógico que não rolou.

Pense bem, se eu não consegui compreender nem tampouco decorar as fórmulas de física, cadeias nucleares, equações matemáticas, tabela periódica e sabe-se lá o que mais no 2º grau (na minha época o ensino não era médio), quando estudar era (devia ser) minha principal e praticamente única ocupação, imagine se ia fazer isso agora. Trabalhando o dia inteiro, ainda pra melhorar.

Quando passei na 1ª fase já foi uma surpresa. Fiz 45 pontos (de 80 questões), pensei que tinha ido super mal. Aí quando saiu o desempenho individual, descobri que essa pontuação foi a 2º maior do curso (o 1º foi 46). Essa molecada de hoje deve ser muito tapada mesmo!

A 2ª fase foi só redação. Ou "questões discursivas", como o pessoal resolveu chamar agora, talvez pra tentar não assustar as crianças com a temível palavra "redação". Claro que eu era a única pessoa da sala que não estava em pânico. Primeiro porque escrever é totalmente a minha área, é onde eu me acho. Segundo porque ser reprovada não mudaria absolutamente nada na minha vida. Não ia levar bronca da mãe, nem precisar passar outro ano no cursinho, nem perder a viagem de férias, nem ver os amigos avançando enquanto eu ficava pra trás.

Agora voltei do horário do almoço, entrei no site pra ver a lista de aprovados e... tcharam, lá está o meu nome. Pena que a festa de comemoração não é aqui na Reitoria, se não podia atravessar a rua, me atirar na lama e voltar pro escritório. Pena.

Projeto Cuidar de Mim - parte 4

As pessoas mais interessantes que eu conheço são aquelas tomadas por algum tipo de inquietude interna. Não são necessariamente agitadoras sociais, excessivamente impulsivas ou dadas a manifestações efusivas. Muitas vezes possuem o semblante tranquilo e a fala mansa. Mas ao descerrarem o peito e revelarem o que lhes vai no âmago - coisa que fazem com sobriedade e cautela - é possível ao observador mais atento constatar o que têm em comum. Uma incapacidade de se conformarem, de se acomodarem aos moldes que lhe são sugeridos.

Sabe aquela pessoa com quem um dia, sem saber bem porque, talvez numa mesa de bar, a partir de um assunto aleatório você acabou se enveredando em profundas divagações sobre a origem e o destino da humanidade, elocubrações sobre as razões e o sentido da vida, inspirações mil sobre o sentido do universo? Gente que gosta de pensar um pouco, como se diz, outside the box, ir além do papinho brabo sobre as notícias (?) da vida dos famosos, lidas em revistas e sites de fofocas. Eu confesso que às vezes só de olhar para uma pessoa eu concluo que ela não serve pra esse tipo de conversa, o que é um preconceito da minha parte. É tão bom quando a gente se surpreende com a revelação de um inconformado sob as vestes de um bem-ajustado cidadão. Não é à toa que um dos sinônimos para revelar é rebelar-se.

O que isso tudo tem a ver com o meu projeto pessoal? É que a minha ideia de cuidar bem de mim tem muito a ver com o conselho do professor de Sofia no best seller de Jostein Gaarder: "Não quero que você pertença à categoria dos apáticos e dos indiferentes. Quero que viva a sua vida de forma consciente".


Assim quando digo que estou em busca de algo diferente - um despertar de consciência, novas formas de coexistir, um caminho para algo maior, um sentido para a existência - não significa, necessariamente, que para ter sucesso na minha empreitada, eu precise encontrar alguma coisa. Talvez o sentido esteja na própria busca, a beleza da viagem pode estar no caminho, e não no destino final. Uau, como acordei filosófica hoje. Deve ter sido alguma coisa no café da manhã.


A proposta de experimentar coisas diferentes é toda muito legal, por vários motivos. Sinto-me muito mais viva. É ótimo deitar na cama à noite e lembrar de um dia em que algo, de fato, aconteceu, para além das minhas fantasias e divagações. Tão gostoso saber que não permiti que transcorresse um dia inteirinho da minha vida sem aprender nada, sem conhecer uma pessoa, sem fazer algo de bom pra alguém (nem que esse alguém seja eu mesma). Tão insossos e, até mesmo, tristes eram os dias em que eu acordava, trabalhava, voltava para casa e não tinha nada, absolutamente nada de novo escrito no livro da minha história. Além de tudo, ainda há a vantagem implícita de sempre ter assunto, para falar ou escrever aqui.


O desafio pode parecer muito difícil, mas juro que não é. Quer um exemplo? Algo simples que qualquer pessoa pode fazer pra tornar o dia de HOJE diferente do de ontem: almoce num lugar que você não conhece ainda. Ou, ainda, depois do almoço, em vez de voltar correndo para o escritório, dê uma volta, olhe as vitrines, as árvores, conheça melhor o bairro em que você trabalha. Passando de carro a gente nunca percebe os detalhes. Vá a uma banquinha e compre uma revista de um assunto totalmente diferente do que você está acostumado a ler: games, arquitetura, softwares, ciência, religião. Só fuja das revistas de fofoca, por favor.


Segue resumex das coisas inéditas que fiz essa semana: segunda-feira conheci o Centro de Estudos Budistas Bodisatva e participei de uma meditação e estudo do Budismo Theravada. Na terça, fui a um sebo no horário de almoço e encontrei o fantástico livro da Hellen Keller, The Story Of My Life, em inglês (o que me ajuda a aperfeiçoar o vocabulário), comprei e comecei a lê-lo. À noite conheci o Gaya Yoga Spa e fiz uma aula experimental de Vinyasa Yoga. Na quarta fui passear pelo centro na hora do almoço - e não comprei nada, o que realmente é inédito! - e à noite fiz uma aula experimental também de Vinyasa Yoga no Gandiva (deu pra reparar que estou tentando escolher uma linha e um local para praticar Yoga?). Na quinta fiz mais uma aula experimental, dessa vez de Iyengar Yoga, na Casa Máy. Depois fui ao supermercado exercitar a paciência  (a tarefa é tão enfadonha que faz a gente considerar a hipótese de se mudar pra uma comunidade hippie e produzir o próprio alimento). E, ao chegar em casa, fiz uma dúzia de chocolates eróticos, encomenda de uma amiga. Outro dia posso explicar melhor essa história. Além disso, todo dia tenho lido coisas diferentes na internet - longe dos sites de grandes conglomerados, da imprensa vendida e manipulada.

Agora estou indo almoçar com mamãe num restaurante que ainda não conheço, e depois vou entregar os  caralhinhos chocolatinhos pra minha amiga.

Amanhã prometo dar mais umas ideias para imprimir um ar de novidade nessa sua rotina cansada.

Beijos

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Projeto Cuidar de Mim - parte 3

Hoje vou traçar algumas diretrizes para orientar o Projeto a um resultado prático (ou vários). Em primeiro lugar, todo projeto precisa de um objetivo. O meu, por óbvio, é cuidar de mim. Achou muito vago? Ótimo. Isso aqui é um projeto pessoal, e não um trabalho de conclusão de curso. Não quero delimitar coisa alguma. Quero sim é ampliar!

Então, sem mais suspense, a etapa atual do projeto consiste em fazer coisas diferentes. Só isso? Aham.

Há tempos tenho a nítida impressão de que o meu bem-estar é constantemente ameaçado, em diversas frentes, por um único inimigo, que se disfarça das mais variadas formas: a preguiça. Suas múltiplas facetas: procrastinação, hábito, monotonia, tédio, rotina, costume, prostração, falta de vontade, comodismo, indisciplina.

A preguiça de levantar da cadeira e movimentar o corpo, de aprender uma coisa diferente, de conhecer pessoas, de sair do marasmo, de acordar mais cedo, de levar adiante um plano, de experimentar algo novo, e até de pensar. Esta última é a mais perigosa de todas as formas de preguiça, e, curiosamente, a que atinge a maior parte das pessoas que conheço (provavelmente das que não conheço também).

As pessoas se acostumam a engolir as notícias do jornal como se as emissoras de TV e rádio fossem, de fato, veículos de transmissão da verdade, e não instrumentos de convencimento patrocinados por interesses, muitas vezes, diferentes e até contrários aos nossos. Assistem ao filme com mais indicações ao Oscar e não são capazes de formular uma opinião própria mais aprofundada sem antes ler a crítica da revista semanal. Vêm a novela e têm a capacidade de acreditar que a vida deveria mesmo ser daquele jeito - cobertura à beira-mar, casa de veraneio em praia de luxo, viagens ao redor do mundo em vôos de primeira classe e hotéis 5 estrelas. O próprio espectador, ao constatar que sua realidade está muito distante daquilo tudo, conclui, naturalmente, que sua vida é um fracasso. O pior: numa rodinha de amigos em que todos têm formação em nível superior, quase todos já viajaram por diversos países e falam mais de uma língua, têm ótimos empregos e ganham super bem - ou seja, a suposta elite cultural do país - o assunto gira em torno de uma pequena discussão sobre qual programa é mais legal: A Fazenda ou Big Brother.

Alguma coisa precisa ser feita. Já. Sei bem que é por passar pelo menos oito horas na frente do computador, sentada na mesma posição, cinco dias por semana, que eu tenho dores nas costas, nos ombros e no pescoço, além de um encurtamento muscular horroroso nas pernas e de uma vista cansada, com astigmatismo crescente. Por que eu permito que a preguiça e a rotina me façam mal assim?

É por tomar os relacionamentos por garantidos, que às vezes perco a compostura e ergo a voz com as pessoas que amo. Depois me arrependo. Por estar tão habituada à minha vida, muitas vezes deixo de dar valor e agradecer profundamente por tudo que tenho. Percebe? Ou precisa de mais exemplos?

No livro O Mundo de Sofia (um dos meus preferidos nessa vida), Jostein Gaarder explica que o que diferencia um filósofo das outras pessoas, é que estas se habituam ao mundo, à vida, a tudo que as cerca, e com isso se tornam indiferentes. Segundo o escritor, a principal característica de um filósofo é a capacidade de se surpreender.

Há um texto que me foi apresentado pela minha amiga Letícia - filósofa tanto por formação quanto segundo a definição de Gaarder - que descreve os efeitos da rotina sobre o ser humano. O artigo circula na internet há anos, e a autoria é atribuída a Airton Luiz Mendonça. Consta nos sites pela world wide web afora que o artigo teria sido publicado no jornal O Estado de São Paulo. Porém, em consulta ao site do periódico, não encontrei qualquer referência ao texto ou ao autor. 

Whatever. O que interessa é que o texto é bem interessante e você pode lê-lo na íntegra no site da Lê. Segundo o artigo, em termos gerais, somente experiências novas fazem o cérebro trabalhar pra valer. É que nas situações corriqueiras, repetidas à exaustão dia após dia, a mente funciona em modo automático. E faz todo o sentido, não? O exemplo que o texto dá é perfeito: depois de algum tempo que já aprendemos a dirigir, não precisamos mais ficar pensando "agora vou pisar na embreagem para passar para a segunda marcha, depois soltar da embreagem lentamente, ao mesmo tempo em que vou acelerando. Opa, vou também ligar o pisca avisando que vou virar à esquerda. Que bom seria se eu conseguisse fazer tudo isso e ainda mudar de estação em busca de uma música mais legal". A ação, ou melhor, as múltiplas ações acontecem de forma tão natural que parece evidente que o esforço do cérebro não é mais o mesmo de quando estávamos assimilando todas essas informações. Creio que seja desnecessário explicar os motivos pelos quais considero importante manter o cérebro em constante aprimoramento - embora muita gente prefira exercitar apenas a b... ela forma física.

Da mesma forma que o autor do texto mencionado, eu também vejo o lado positivo da rotina. Além de otimizar as coisas, como ele cita, eu percebo ainda o aspecto benéfico da disciplina. Afinal de contas, não adianta nada eu experimentar uma porção de coisas diferentes, descobrir várias que me servem, que são boas para mim, e não ser capaz de levar qualquer delas adiante. Além disso, há experiências novas que não se esgotam no período de um dia. Fazer um curso, por exemplo. Por isso meu projeto inclui, além de fazer coisas diferentes, incorporar à minha rotina aquelas de que eu gostar mais.
 
Tenho também a regra de que a coisa diferente do dia seja algo que me faça bem (ou, pelo menos, não faça mal). Tomar ácido, cheirar uma carreirinha ou bater o meu recorde pessoal no rodízio de pizzas com 24 pedaços*, portanto, estão fora de cogitação.

Amanhã conto um pouquinho mais sobre o plano que, inclusive, já está em fase de execução.

Beijo

* Realmente já comi 23 pedaços de pizza num rodízio. Mas isso foi praticamente em outra vida. Quando encarnei como ogra, sabe?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Projeto Cuidar de Mim - parte 2

Logo depois de ter escrito o primeiro texto acerca do PCM (Projeto Cuidar de Mim), passei a calcular o meu próximo passo. Como já deixei claro no texto anterior, existe um forte interesse pela questão material. Dinheiro, casa, carro, conforto, uma certa tranquilidade de pagar as contas em dia, eventualmente conseguir fazer uma viagem bacana, essas coisas.

Estou ciente de que esse interesse é uma coisa exclusivamente minha, já que os meus prezados leitores são todos milionários. Então, gente, pra vocês que não sabem como é esse negócio de carnê, prestação, parcelamento, renegociação de dívida, vender a alma pra pagar o cartão de crédito, eu explico: meu sonho é ser pobre um dia na vida. Sim, porque ser pobre todo dia tá f...

Deixemos o exagero de lado, que a coisa não está tão feia assim. Comparando a tempos passados (e também à situação da maior parte da população brasileira), a coisa está linda, está maravilhosa, merece foto na Caras. Meu nome está limpinho como a minha consciência, o trabalho vai bem, o lardocelar está lindo, perfeitinho, coisa de sonho mesmo. É possível, portanto, seguir na linha "vamos em frente", sempre atenta, é claro, a eventuais oportunidades de ganhar rios de dinheiro sem fazer nada com alguma coisa diferente, e, quiçá, super divertida. Sonhar ainda é de graça, né?

É fato, porém, que não é possível seccionar a vida em prateleiras como as do meu armário. Se eu cuidar exclusivamente do aspecto material/financeiro, como tem feito muita gente cheia da grana - e, portanto, bem sucedida nesse plano material - , corro o sério risco de terminar como grande parte dessas pessoas: infartada; depressiva; suicida; solitária; infeliz... E uma série de outras possibilidades que dispenso, valeu a oferta.

A meta principal, diria até que essencial do Projeto é o meu próprio bem-estar. Claro que acho ótimo se puder fazer bem também a outras pessoas, especialmente aquelas que eu amo. Digamos que isso seja um bônus. A fórmula é simples: minimizar as coisas ruins (ou, ao menos, seus efeitos) e maximizar as boas (ou, igualmente, prolongar seus efeitos).

Como conseguir isso? Não conheço a resposta certa, se é que ela existe. Mas tenho um plano infalível promissor (e, no mínimo, divertido) para tentar descobrir.

Amanhã eu conto.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Telefone pisca-pisca

Para quem ainda não sabe o que pensar sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos, em torno do qual a imprensa tem feito um esforço extraordinário para criar polêmica (enquanto não morrer outro Michael Jackson, a pauta jornalística fica uma pobreza...), a cientista política, historiadora e jornalista, especialista  em eleições, partidos políticos e Estado brasileiro, comentarista política da Rádio CBN e da Globonews, âncora do CBN Rio, Lucia Hippolito, transmite de forma clara e didática a sua importante opinião sobre o caso.



Para que nenhum detalhe dessa brilhante lição seja ignorado, vou transcrever o áudio:

ROBERTO NONATO: Oi, Lucia Hippolito, boa noite.

LUCIA HIPPOLITO: Boa noite, Nonato. Boa noite, ouvintes da CBN.

ROBERTO NONATO: Bom, Lucia... O presidente Lula assinou o decreto que cria um grupo para elaborar o anteprojeto da Comissão da Verdade, sobre violações de direitos humanos no regime militar. E, para tentar resolver aquela crise entre os ministros da Defesa e dos Direitos Humanos, o texto não usa a palavra ‘repressão’, Lucia. É uma tentativa de apagar o incêndio entre os ministros, né?

LUCIA HIPPOLITO: Olha, Lolito (???), eu... eu... eu, particularmente, acho uma coisa muito complicada. Acho que o presidente cometeu um... um... um erro político... no sentido de co... de cometer um moonte de... de... de... erros... É... De... de... de... de criar um monte de empresas (essas empresas de direitos humanos são lucrativas, né?), um monte de brigas... nesse problema (ou programa, talvez. Ficou difícil). Agora, eu acho o seguinte: desse ponto de vista exclusivo... das... das... ah... aaah... ele num... das, das... dos direitos humanos, do ponto de vista dos direitos humanos... eu vou dizer uma coisa procê... é...

ROBERTO NONATO: Ô, Lucia... A gente vai tentar refazer o contato pra voltar daqui a pouco em melhores condições... (sobriedade seria uma melhor condição?)

LUCIA HIPPOLITO: Éééé... esse... o telefone tá... táp... tá tá piscando (que lindo!)... tá... ele tá cortando a linha... ele tá... por favor... (a voz some)

ROBERTO NONATO: Tá, ok (tipo: "aham, claro, tá"). Só um instantinho, por favor. Seis horas e trinta e oito minutos, daqui a pouco a gente volta com ou...

Meus sinceros agradecimentos ao Azenha e ao Vermelho pela divulgação desse maravilhoso vídeo, e, especialmente, à Professora Lucia, por finalmente me fazer entender os perigos do álcool a razão de tantas controvérsias.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O que é aquilo?

O vídeo abaixo, um curta do grego Constantin Pilavios, é capaz de traduzir com grande sensibilidade e em poucos minutos algo que eu precisaria de vários parágrafos para verter em palavras. Se você assistir ao vídeo, creio que eu não precise dizer nada.





Em tempo: conheci o filme pelo Sedentário & Hiperativo.

Claro que não chorei. É que sofro de uma irritação da córnea que faz os olhos lacrimejarem diante de pequenos vídeos emocionantes, entende?

Beijos

Enquanto isso, no escritório...

A sala em que eu trabalho é bem grande e subdividida em três ado-a-ados (cada um no seu quadrado). O meu ado costumava ser da minha amiga Loira, que saiu do escritório no ano passado e, desde então, o chefinho - muito provavelmente traumatizado pela saída da Loira - não contratou mais ninguém. Modos que o ado do meio, que era meu, está vazio há meses.

Lá do outro lado da sala, no último ado (considerando o meu como primeiro), fica minha colega de senzala, Helô. Eu e Helô todos os dias temos um diálogo parecido e que, embora verse sempre sobre o mesmo tema, nunca (me) cansa. Exemplo:

Eu: Helô...
Helô: Oi?
Eu: Falta muito pras 6 horas?
Helô: Um pouquinho. São 9h15 agora.

Tempos depois:

Eu: Helô?
Helô: Oi?
Eu: E agora, já são 6 horas?
Helô: Quase... São 9h18.

Muito tempo depois:

Eu: Helô?
Helô: Oi?
Eu: Só me explica uma coisa.
Helô: Hum?
Eu: Por que não são 6 horas ainda?

Mil anos depois:

Eu: Droga, por que não são 17h58 agora?
Helô: Em algum lugar do mundo já é.
Eu: Helô? Por que estamos aqui e não nesse lugar?

Helô nunca tem boas respostas para minhas perguntas.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Projeto Cuidar de Mim - parte 1


Cuidar melhor de mim não é exatamente uma meta de ano novo por dois motivos: o primeiro é que não foi uma decisão tomada há 6 dias; o segundo é que não é uma determinação com prazo de validade, e mesmo que houvesse ele não seria de apenas doze meses.

Dito isso, quero registrar desde já alguns avanços. Antes, ainda, confesso que a tarefa – que deveria ser bastante simples – pareceu-me excessivamente complexa. Como um jogo de sudoku (novo vício) em que não sei por onde começar. O tempo transcorre enquanto observo os quadrinhos e seus poucos algarismos iniciais. Linhas, colunas, quadrados. Busco uma solução lógica que assegure a colocação perfeita do primeiro número. A partir dele, sei que os outros virão.

Assim tem sido a observação da minha vida. Sim, antes de começar a organização, é preciso observar, detectar falhas, traçar algum plano. Decidir o que deve ser dispensado, determinar onde guardar o que está fora de lugar, perceber o que está faltando e como/onde conseguir. Porém, quando não se sabe nem por onde iniciar o plano, bem, estagnar não é uma boa escolha. A contemplação deve ter fim, e a ação deve começar, de um jeito ou de outro. Como disse Regina Brett, “when in doubt, just take the next small step” (quando estiver em dúvida, apenas dê o próximo pequeno passo).

É óbvio que não sou a única com a sensação de que algo está faltando, algo está errado, algo está incomodando, sei lá, algo tem que mudar. Por alguma razão, eu sempre soube (porque, é claro, eu mesma decidi isso) que não teria força de vontade para me empenhar na implementação de melhorias em outras áreas da minha vida enquanto a afetiva estivesse uma bagunça. Cada pessoa sabe (ou deve saber) por qual prateleira começar a arrumar o armário. Qual cômodo deve receber prioridade na hora da faxina. Porque se não der tempo de limpar tudo... Não é?

Então agora essa área está muito bem, obrigada. Mas perceba: eu disse que está bem, não disse “resolvida”. Qual a diferença? Simples: o amor guardado dentro da gente, buscando quem o mereça, não é exatamente um problema que careça de solução. Além disso, e mais importante ainda, “solução” pressupõe “desfecho”, “termo” (até mesmo na medida em que representa o fim de um problema), e o amor está longe disso.

Amor é cultivo. É diário. É contínuo. Muitos amores terminam não por motivos terríveis como traições e desilusões, mas por mera desatenção. Há casos em que a sintonia termina (ou simplesmente se constata que ela nunca existiu), e terminam lado a lado dois desconhecidos. Em outros, a intimidade é superestimada e termina o encanto. Grosserias, indelicadezas, descontar frustrações. Logo com a pessoa amada? Como assim? Descontar no chefe seria melhor, mas ninguém o faz.

Existem casos, também, em que uma pessoa tem grandes sonhos, e seu par não oferece um mínimo de suporte, sequer emocional. Em alguns casais, há aquele que brilha, que se destaca, que cresce, e o outro fica à sombra até desaparecer. Em outros, a ternura simplesmente se esvai, na rotina cinza e fria, e então quais os motivos para permanecer ao lado de alguém sem carinho, solidariedade, respeito, cumplicidade, calor? Tem também aqueles que se unem exclusivamente por atração física, que não basta para segurar a barra do dia-a-dia.

Deve haver ainda outras milhares de possíveis razões para um amor não sobreviver, e apenas uma para que ele prospere: a vontade de ambos. Aquele cuidado constante e eterno por quem a gente quer bem.

No casamento dos meus amigos Tati e Felipe, o celebrante (Des. Salvatore Astuti) disse que quem quer ser feliz deve continuar solteiro. Casamento é para quem quer fazer feliz. Ontem fez um mês que eu e o Dé estamos morando juntos, e nesse tempinho tenho confirmado, a cada dia, a verdade desse pensamento.

Não tenho nenhuma dúvida de que o sucesso de uma união só é possível quando ambos estão dispostos a abrir mão de muita coisa em nome da felicidade de seu amor. Assim, nenhum fica desatendido, já que um cuida do bem estar do outro. Não tem lugar para egoísmo numa vida a dois, pelo menos não numa que seja feliz.

É por isso que o Dé vai de ônibus para o trabalho e deixa o carro dele comigo quando tem reunião muito cedo, pra que eu possa dormir mais um pouquinho. É por isso que eu preparo algo para comer à noite mesmo que eu não esteja com fome. É por isso que ele lava a louça depois que eu termino de cozinhar. É por isso que eu lavo as roupas dele. E assim por diante. Também por isso que a gente conversa, compartilha, acrescenta e apoia um ao outro, sonha junto.

Dizer que o amor requer cuidados contínuos pode dar a impressão de que é um trabalho desgastante, quando, na verdade, é a coisa mais gratificante que existe. Mas, por falar em gratificação, isso leva à próxima prateleira que pretendo arrumar. Estando a afetiva em ordem (e em constante manutenção), é hora de começar a dar um jeito na material.

Eu não gosto de falar de projetos em andamento, e sim de resultados, portanto, aguardem novidades. Mas tenham paciência! Como eu disse, cuidar de mim não é a meta do ano, e sim de uma vida. Apesar da pressa para organizar a minha vida no aspecto material, isso exige cautela e passos precisos. Talvez as próximas notícias não cheguem nesse ano ainda. Mas chegarão.

By the way, feliz 2010!

Beijinhos