segunda-feira, 30 de novembro de 2009

2012 - Realmente, uma catástrofe


Fui ao shopping com o namorido nesse domingo, com um objetivo exclusivo que não conseguimos cumprir por culpa de uma vendedora vaca estúpida mal educada sem vontade de trabalhar. Já que estávamos lá, resolvemos ir ao cinema, para não perdermos a viagem. Eu queria ver Julie & Julia, mas achei que o Dé iria acabar dormindo durante o filme, e eu ia me irritar com a insensibilidade masculina. Então assistimos ao 2012. E como eu não sou chegada ao subgênero de filmes-catástrofe, ele ficou me devendo a escolha do próximo, e vai ter que ficar acordado até o fim (nem que eu precise fazer cócegas para garantir que isso aconteça).

Quanto ao filme, ele é mais ou menos tão ruim quanto eu esperava. Na verdade um pouco pior. Pra variar, o trailler mostra tantas cenas repletas de efeitos especiais incríveis, o Cristo Redentor despencando, aquilo tudo, que no filme você espera ver muito mais. E você não vê muito mais. Não percebo grandes diferenças (exceto pelos cenários das maquetes) entre as cenas de destruição desse e dos outros filmes do mesmo diretor (Roland Emmerich), como Independence Day e O dia depois de amanhã. Ondas gigantescas, rios de lava, terremotos, grandes monumentos da história da humanidade ruindo, gente desesperada morrendo, bah. Tudo muito igual.

O Dé até quis argumentar: “ah, não foi tão ruim, você até chorou”. Okey, vamos combinar, eu choro em comercial de margarina. Sempre escorria uma lágrima furtiva quando passava aquele comercial do Gelol com o slogan “não basta ser pai, tem que participar”. Eu me debulho em lágrimas em último capítulo de novela. Eu me emociono assistindo ao jornal. Passei uma semana em depressão quando vi Titanic no cinema (dá-se um desconto: eu tinha uns 15 anos e era apaixonada pelo Leo). Enfim, minhas lágrimas não são um bom parâmetro de qualidade.

Sendo assim, é claro que eu choro cada vez que vejo uma cena de um pai se despedindo de uma filha por telefone antes do mundo explodir. Quando uma mãe desesperada só pensa em salvar a vida dos filhos. Quando um casal apaixonado se olha pela última vez antes de uma tsunami avacalhar com tudo. Eu não consigo não me imaginar no lugar da personagem. É a identificação que me comove.

O filme é puro clichê (SE VOCÊ NÃO VIU AINDA E NÃO QUER SABER DETALHES DA HISTÓRIA, PARE DE LER AQUI, EMBORA EU DUVIDE QUE TENHA ALGO NO FILME QUE VOCÊ NÃO TENHA VISTO AINDA). Já começa pelo chavão do pai separado (John Cusack) tentando se reaproximar dos filhos num acampamento (alguém realmente faz isso?), e pelas faíscas de amor mal resolvido quando se encontra com a ex-mulher (Amanda Peet).

Há uma cena em que um casal (a ex do Cusack com o atual marido, Thomas McCarthy) está fazendo compras, em plena crise conjugal. O marido diz “parece que tem algo nos separando”, e o chão começa a tremer. Naquele momento eu falei: “não, eles não fizeram isso...”. Sim, eles fizeram. [IRONIA MODE: ON] O absolutamente imprevisível . A fenda se abre no chão deixando o marido e a esposa em lados opostos do cannyon que se abriu bem no meio do mercado. Uau, surpreendente. Do mesmo jeito que uma outra fenda se abre no teto da capela Sistina, separando o dedo de Deus do dedo de Adão na famosa cena da criação retratada por Michelangelo.

Algo que irrita nesses filmes é o fato de o mocinho e o pessoal que vai se salvar junto com ele fazerem coisas altamente estúpidas. Como, por exemplo, quando o personagem do Cusack deixa a família no avião e vai procurar o mapa de localização das naves salvadoras, que está em mãos do profeta maluco que mora no meio da floresta (Woody Harrelson). É ÓBVIO que ninguém numa situação dessas levaria a filhinha de sete anos, não só pelo perigo da situação, já que a porra toda está desmoronando, explodindo, entrando em erupção, mas também porque a menina ia atrasar tudo! Mas, claro, no filme o cara leva a criança junto.

Nos últimos instantes antes da lava-fogo-destruição-poeira-cósmica atingi-lo, ele procura minuciosamente pelo mapa na prateleira indicada pelo maluco. Abre o mapa do metrô, dobra de novo... Por que diabos o imbecil não cata todos os mapas e sai correndo pra conferi-los dentro do avião? Ah! E também para que o público possa apreciar todos os efeitos criados para o filme, é necessário que o protagonista passe por absolutamente todos os desastres possíveis, escapando ileso enquanto o restante dos seres vivos é varrido da face da Terra.

Ah, sim, não podemos esquecer do cara (Thomas McCarthy) que fez duas aulinhas num monomotor e, no momento de desespero, aprende a pilotar qualquer avião. E já sai fazendo manobras radicais, split, duplo looping, desviando de prédios em queda... Aí, quando já se transformou em candidato pra Esquadrilha da Fumaça, tem a chance de salvar a própria vida e da família simplesmente servindo de co-piloto, mas faz questão de ressaltar que não pode fazer isso, que não sabe pilotar, que precisa ser honesto... Alouuuuu, vai fazer charminho numa hora dessas?

O filme inteiro só consegue fazer uma única surpresa, e é uma surpresinha bem mixuruca. Os personagens passam o filme todo falando nas tais naves que foram construídas para salvar a elite do planeta, e finalmente o espectador descobre que não são naves espaciais, mas sim arcas gigantescas. Ooooohhh, tipo a arca de Noé, né, tia? É. Isso mesmo.

Aí é uma sequência de sacanagens: os caras se matam para conseguir entrar clandestinamente na arca, até que o pessoal lá dentro sofre um ataque de solidariedade e resolve abrir as portas para o povo entrar. Então o china que conseguiu o ingresso de cambista para a salvação acaba moendo as pernas, o chato do marido atual da mocinha, que só serve para atrapalhar o romance entre o casal principal, finalmente sai de cena com uma morte dolorosa. E então o cabo que os penetras usaram pra entrar fica enroscado nas engrenagens, impedindo a porta gigantesca da bagaça de fechar, e sem o fechamento da porta, os motores não ligam, e sem ligar os motores, a humanidade é extinta.

Nessa hora foi inevitável pensar: “isso que dá comprar arca made in China”.

De repente, um cara anuncia no alto-falante para o que restou da raça humana que não tem mais jeito, que todo mundo vai morrer, que não tem como chegar ao tal do cabo enroscado porque a área está toda submersa e seria uma missão suicida. Curiosamente, o povo não se desespera, não se instaura o pânico, tudo muito tranquilo.

O mocinho, ao ouvir as palavras “missão suicida”, pára pra pensar se vale a pena e tal, ignorando o fato de que, se ele não for, vai morrer do mesmo jeito, junto com o resto da galera, espatifada no Everest. Claro que nessa cena, assim como em muuuitas outras do filme, não poderia faltar um diálogo inútil, típico daqueles momentos em que NINGUÉM em sã consciência pararia para conversar.

O cara está indo salvar a arca da destruição iminente, o impacto será em poucos minutos, mas o filho pré-adolescente tem que querer ir junto, pra ajudar o pai. Em vez de o cara dizer pra mãe do menino: “segura esse moleque aí, cacete”, ele pára pra fazer aquele discurso emocionante.

[CANÇÃO EMOCIONANTE - EU CHORANDO]
“Filho, você já está me ajudando. Lembra o dia em que sua irmãzinha nasceu, e você se tornou o irmão mais velho dela? Então. Desde aquele dia você é o responsável por cuidar dela quando o papai não está por perto. Nesse momento, sua irmãzinha está se cagando de medo e precisa de você. Eu quero que você vá lá e diga algumas palavras doces para ela se acalmar, e se você fizer isso, eu fico tranquilo. Isso é tudo que seu velho pai poderia esperar de um filho num momento desses, em que o mundo está acabando, a humanidade chega ao fim, e essa voz sexy do computador anuncia que só faltam 2 minutos para o impacto fatal. Agora eu preciso tomar muito fôlego, por que ficarei sem respirar muito tempo. Embora só tenhamos 2 minutos para a porra toda explodir e afundar, essa cena vai durar ainda uns 15 minutos de intensa agonia, você vai ver. Se um dia, quando crescer, você virar protagonista de um filme-catástrofe, finalmente vai entender o estranho paradoxo do tempo. O cronômetro indica agora 30 segundos para o impacto, mas eu posso conversar com você por mais cinco minutos, e lançar olhares apaixonados para sua mãe, que, diga-se de passagem, eu nunca deixei de amar, e, olha lá, no cronômetro passou só um segundo. É incrível. Bom, é isso, meu filho, fique com Deus, se cuide, coma vegetais, estude bastante, não use drogas, cuide da sua mãe, use camisinha (não com a sua mãe, moleque pervertido), e não invente de ser escritor como seu pai, que isso não dá dinheiro”.


Enquanto isso, o povo todo da arca observa emocionado, através das câmeras estrategicamente posicionadas. Quando você pensa que ele foi, ele volta, dá um beijo na testa do guri e diz “eu te amo”.
[MÚSICA DE SUSPENSE - EU ENXUGO AS LÁGRIMAS NA MANGA. SERÁ QUE NOSSO HERÓI VAI CONSEGUIR?]

Massss, claro, apesar de todas as recomendações, evidentemente, o maldito moleque teimoso vai atrás do pai, o que dá início a um outro diálogo desnecessário (“eu disse pra você não vir, blá blá blá”, "mas, pai, eu queria ajudar, blá blá blá whyskas sachê”). Depois de meia hora o mocinho finalmente consegue desenroscar o cabo, com a ajuda do filho (ufa, ainda bem que ele foi, né?). Na volta, por óbvio, ele fica desaparecido debaixo da água durante algum tempo, pra rolar aquela expectativa na galera “será que o mocinho morreu?”, mas eis que, quando todos já perdiam as esperanças, emerge nosso herói, aplaudido de pé, o salvador da humanidade. Parece que a essas alturas todo mundo já esqueceu que foi ele mesmo que, junto com sua turminha, deixou o cabo enroscado que impediu a porta de fechar e quase matou toda a galera.

Ainda há mais uma coisa importante a observar: os “escolhidos” para sobreviver foram os chefes de estado, alguns militares que comandavam a parada, um pessoalzinho que trabalhava pra casa branca e os felizardos que compraram a passagem por um bilhão de euros por cabeça. Na última hora, resolveram abrir as portas da esperança e deixar entrar o pessoal que se acotovelava do lado de fora. Essas pessoas eram, basicamente, os chinas operários que trabalharam na construção das arcas, e outros multibilionários que, embora tivessem pago a passagem, estavam sendo deixados pra trás porque uma arca estava meio detonada. Além dessa gente, também conseguiram se salvar uns animais, obras de arte, e as duas famílias que entraram clandestinamente.

Agora, raciocinemos. Primeiro que ninguém se preocupou em levar uns médicos, engenheiros, dentistas, químicos, ou seja, a classe média toda se estrepou lá fora, não sobrando ninguém com conhecimentos práticos pra tornar a vida suportável. Com exceção do escritor pobretão estadunidense e sua família e de uma galera de operários chineses, o que restou da humanidade foi um bando de políticos, militares de alta patente e gente podre de rica, sem o mínimo de consideração pelo próximo. Delícia de mundo novo, não? Sinceramente, acho que o pessoal que morreu frito na lava vulcânica levou a melhor.

Temos ainda outros clichês, como o presidente dos Estados Unidos, o homem mais poderoso da Terra, o abnegado chefe de uma nação que decide morrer junto com ela, ser negro (Danny Glover). O geólogo (Chiwetel Ejiofor) que possibilitou a salvação dos poucos felizardos, também é negro. E termina, claro, pegando a filha do presidente (Thandie Newton), que, aliás, foi responsável pela atuação mais desinteressante do filme. A onda do politicamente correto parece ter proibido selecionar atores negros para fazer papéis que não sejam de salvadores da humanidade. Deuzulivre ver num filme um cabra safado, um ladrão, um assassino que não tenha olhos azuis. Além de tudo, o único continente do mundo que não foi destruído, sendo, inclusive, elevado pelas forças da natureza foi – adivinha? – a África.

O gorducho insensível (Oliver Platt), que desperdiça uma passagem grátis porque não se incomoda nem em salvar a própria mãe esclerosada, claro, é branco. O gordo desgraçado que só pensa em si mesmo e nos filhos gordos medonhos, e usa as pessoas em seu benefício como bem entende, é russo. Nem tinha parado pra pensar, até agora, no preconceito hollywoodiano com os gordeenhos. O indiano (Jimi Mistry) que de fato descobriu que o planeta estava fervendo por dentro feito um forno micro-ondas, além de aparecer só umas 3 vezes, sem muito destaque, morreu na tragédia, com toda sua família. Não tem um único descendente de japa no filme. Ou seja, tudo muito igual.

Por fim, você não vê a hora que o filme chegue ao fim. O roteiro se arrasta, permeado de participações relâmpago de personagens que têm poucos minutos pra tentar se despedir dos parentes e fazer uma oração antes de ir pelos ares. Longas cenas retratam a politicagem por trás dos bastidores. Quanto aos tão anunciados e esperados efeitos visuais, algumas cenas são realmente incríveis e outras, totalmente decepcionantes. E aí o filme termina assim, com o espectador vislumbrando a criação de uma nova ordem mundial, fundada exclusivamente pela aristocracia do planeta e mais alguns felizardos certamente trabalhando para os primeiros.

Resumindo: Roland Emmerich, por gentileza, quero meus 158 minutos de volta.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Detestáveis eufemismos

Eufemismo é uma figura de linguagem usada para disfarçar uma ideia desagradável. Anunciar o falecimento de uma pessoa parece mais suave do que dizer que ela morreu. Acontece que a noção de desagradável é bastante subjetiva. Por isso, às vezes acontece de alguém eufemizar uma situação que eu diria exatamente como é, porque a mim ela não desagrada.

Assim, acredito que determinados eufemismos causam mais mal do que bem. Expressam mais preconceito do que o termo que pretendem disfarçar. Ou terminam por revelar justamente os sentimentos que o eufêmico gostaria de ocultar.

Um desses casos que me incomodam é ouvir alguém chamar uma pessoa negra de morena. Como se negro fosse xingamento. Como se fosse uma coisa feia, impronunciável. O cara é quase azul de tão preto, e alguém diz: sabe aquele rapaz moreninho? Consegue ser pior do que a construção político-sacalmente-correta afro-descendente. Coisa ridícula, em minha opinião, pois já se referiram a mim como branca (sem contar branquela, palmito, gasparzinho, transparente) e eu nunca pensei em mover uma ação judicial por racismo, porque deixaram de reconhecer a minha origem, chamando-me acertadamente de euro-asiático-descendente, considerando que meus avós maternos eram ucranianos e que meu pai é sírio (e partindo do pressuposto de que meus ancestrais não tenham se miscigenado loucamente no passado).

Além disso, cabe aqui um pequeno teste: você acha que o termo afro-descendente seria o que melhor define, por exemplo, a Daiane dos Santos? Saiba então que um estudo encomendado pela BBC Brasil traçou o perfil genético da atleta e descobriu que ela tem 40,8% de ancestralidade europeia, 39,7% africana e 19,6% ameríndia. Ou seja, também seria certo chamá-la de euro-descendente, ameríndio-descendente...

Pra complicar um pouco mais, é bom ter em mente que os países da África Setentrional têm predominância de povos caucasianos e semitas, ou seja, nem todo afro-descendente é negro.


O dicionário apresenta, dentre outras definições para as palavras preto e negro, a de indivíduo da raça negra. O IBGE considera preto e pardo como cores de pele, sendo que ambas fazem parte da raça negra (não a banda do língua presa, por favor). Sendo assim, por que razão algumas pessoas insistem em se referir a indivíduos pretos ou negros ou, que seja, afro-descendentes, como moreno, moreninho, escurinho, de cor (como se existisse gente incolor)? Por que essas pessoas consideram necessário clarear a cor de alguém? A razão é tão óbvia que inventar qualquer coisa para não reconhecê-la pelo próprio nome - preconceito - seria outro detestável eufemismo.

É evidente que o que define as pessoas não é a cor da pele. Ademais, a maior parte dos cientistas concorda que toda a humanidade descende de um mesmo tronco ancestral. Ou seja, não estou aqui querendo incitar a categorização de seres humanos. Só estou dizendo que, se for para identificar uma pessoa pela cor da pele (se não for possível pelo nome, que é bem melhor), que seja pela palavra certa, e não por um eufemismo racista. É uma forma mais velada de racismo, não desperta tanto asco quanto piadinhas ofensivas de gente grotesca, mas é preconceito sim.

Outra coisa que me revolta é a mania que algumas pessoas têm de dar  outros nomes para a profissão de empregada doméstica. Existe todo um tabu em dizer que dispensou a empregada mais cedo para ela ir ao médico. Ai, que horror, empregada. Poutz, como me irrita esse discurso!

Vamos recorrer, mais uma vez, ao dicionário. Segundo ele, empregado doméstico é aquele que recebe paga por serviços domésticos. A lei assegura direitos a esses trabalhadores (não necessariamente do sexo feminino, e que podem exercer outras atividades além de faxina e limpeza).

Mas sempre tem alguém embalado pelo espírito político-imbecilmente-correto que vai se referir à empregada como secretária. Paira no ar a dúvida: será que a intenção é promover a faxineira a um patamar que o empregador considera mais digno, com uma palavra mais gentil, ou será que esse empregador quer parecer mais importante dando a entender que tem uma secretária particular? Seja lá qual for a razão, o equívoco é evidente, já que secretária, de acordo com o dicionário, é a pessoa que exerce o secretariado em sociedades e corporações. Escreve correspondências e exerce outras atividades do gênero. Nada a ver com o serviço doméstico. Também a lei estabelece direitos diferentes para as secretárias, já que o trabalho é diferente, a forma de contratação é diferente, enfim, já deu pra entender.

É claro que, como sempre, dá pra ficar pior: conheço gente que se refere à empregada doméstica simplesmente como moça. Às vezes, para ser mais específica, a pessoa diz a-moça-que-trabalha-comigo ou a-moça-que-trabalha-lá-em-casa. Somente pelo contexto é possível identificar a quem a fala se refere. E em outras vezes, a frase sai ainda mais estapafúrdia, quando a pessoa economiza nos detalhes e lamenta: minha moça faltou de novo, a casa está uma bagunça. MINHA MOÇA? Cadê o certificado de compra? Vê aí se essa sua moça tá no prazo de validade. E se a sua moça se sentir injustiçada, será que ela deve procurar saber de seus direitos no Sindicato das Moças? Será que a lei estabelece piso salarial para a classe das moças?

Eu acho horrível. Não consigo ver problema em reconhecer alguém como empregada doméstica, que é uma profissão tão digna quanto qualquer outra. Não entendo como ofensa. Para mim, o eufemismo aqui é mais uma clara manifestação de preconceito. Bobagem. Chato mesmo é ser desempregada, e não empregada. ;)

Ps.: Adoraria ouvir a opinião de uma pessoa negra e também de uma empregada doméstica sobre o assunto. Vai que eu tô falando bobagem? Se ninguém se manifestar aqui, vou perguntar pessoalmente e depois conto no blog.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Enfim, SEXta.

No final da tarde de ontem, enquanto eu me matava para terminar a bendita contestação, chegou e-mail do chefinho: "Oksana, você já finalizou o agravo retido da Sbrubles1? Quando é o prazo?". Desconsiderando o fato de que eu nem sequer me lembrava que tinha esse agravo para fazer, verifiquei no sistema que o prazo é segunda e respondi: "Ainda não, entrego amanhã".

Não contente, ele responde: "Ok. Conseguiu falar com o Charles (assunto - Chinalá2)?". Desconsiderando o fato de que eu havia desistido de tentar falar com tal pessonha desagradável, rapidamente telefonei e recebi mais uma desculpa esfarrapada da secretária, e respondi: "Não consegui. Liguei hoje e disseram que ele não estava e que é pra ligar amanhã".

E assim eu fico pensando cá com minhas teclas (que pensar com botões é tão last week) que talvez o chefinho tenha algum trauma de infância ou qualquer tipo de desvio psicológico que faz com que ele seja uma dessas pessoas que nunca estão satisfeitas com nada! Nossa, essa frase sem nenhuma vírgula exige um super fôlego pra ler em voz alta (fumantes, não tentem)!

Então, estamos aqui, em mais uma bela SEXta-feira de sol, calor, céu azul, crateras espalhadas pela cidade abertas pelo temporal de ontem à noite... Por falar em ontem à noite, claro que eu e meu amado namorido estivemos em nossa casita, fazendo todo um trabalho braçal. Demos a primeira demão de tinta no quarto 1 (é o de casal, mas acho divertido chamar os quartos pelos números), a terceira e última no teto do corredor, a segunda e última na parede da sala que vai receber a textura, e colocamos massa corrida nos vãos dos caixilhos das portas. Saímos de lá meia noite e meia. Aí até chegar em casa, tomar banho-dormir (nem tive forças para comer), já viu, né?

Além de tudo, tivemos que desviar um trecho da rua que estava alagado, onde alguns carros anfíbios se encontravam cobertos de água até acima das calotas. Então precisamos passar por cima do canteiro central e seguir pela faixa exclusiva para os ônibus. A Flecha Prateada3 não teve dificuldades, mas um pobre caminhão atolou e ficou por ali mesmo.

Esse negócio de comprar imóvel é um grande aprendizado, sabe? Se um dia formos comprar outra casa (e não construir, como pretendemos), certamente estaremos atentos a detalhes que nunca percebemos antes, como, por exemplo, se a casa foi construída sobre um antigo cemitério indígena o rejunte dos azulejos foi bem feito, se os caixilhos das portas foram bem colocados, se o teto foi bem pintado, se a água no box escorre para o ralo ou para o lado oposto, se a obra foi feita por seres humanos ou por ornintorrincos estrábicos, essas coisas.

O papo está ótimo, mas preciso começar finalizar o agravo retido antes que o chefinho apareça com mais 18 mil tarefas. Tenho também que enviar conteúdo para o blog Voluntários em Ação, do qual sou colaboradora (não escrevo, só envio notícias coletadas na internê). E ainda fazer as lembrancinhas para meu pequeno chá de panela. Além, é claro, de dar um jeito de extrair a massa corrida debaixo das minhas zunhas, e fazer aquele esforço sobre-humano para manter as pálpebras abertas.

Torçam por minha sobrevivência.

Notas:
1) O nome da cliente foi alterado para proteger sua identidade e eu não ser demitida
2) O nome da cliente foi alterado para proteger sua identidade e eu não ser demitida.
3) Celta do namorido.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Dois palitos

Sempre que meu chefinho me passa mais algum selviço e eu faço aquela cara de oh, man, ele se sai com essa: "isso aí você faz em dois palitos". Bem que eu queria saber (e aposto que nem ele sabe) a origem de tal expressão, mas o fato é que hoje estou mesmo é precisando de dois palitos para manter os zolhinhos abertos. Zentsi, que soninho!

Ocorre que eu e meu namorido compramos uma casa. Uma casinha linda, de três quartos, com quintal, árvore, todo um sonho. Aí aquele pequeno projeto humilde foi tomando proporções inimagináveis, tcheepo assim, ahm, já que a casa é NOSSA, não uma coisa assim toda alugada, vamos investir, néam? E aí é investimento que não se acaba mais.

Primeiro foi a cozinha e o closet planejados. Escolhidos depois de nada menos que 15 projetos e respectivos orçamentos. Sim, eu disse QUINZE ORÇAMENTOS. Se você já foi alguma vez a uma loja de móveis planejados e assistiu todo faceiro ao processo de confecção do projeto - arrasta pra lá, puxa pra cá, estica aqui, encolhe acolá - no programinha de computador (Promob), você não imagina a gastura que é ver esse negócio acontecer pela quadrigésima milésima nona vez. Dá uma vontade de chacoalhar o cerumano ali e ver se ele acelera a bagaça porque já é a oitava manhã de sábado que você deixa de dormir pra ficar vendo a cozinha virtual acontecer.

Mas eu nem imaginava que aquilo era só o começo. Depois veio a reforma. Sim, porque a casa é nova, mas o construtor parece ter contratado a mão de obra de chimpanzés cegos e mancos. Assim, embora o porcelanato usado no chão seja bonito, não dava pra gente se conformar com aquele rejunte da grossura de um tornozelo, e com o piso todo desnivelado. Simplesmente não ia combinar com a beleza dos móveis planejados. Sentiu a armadilha?

Uma coisa levou à outra, e de repente estávamos decididos a colocar piso laminado e uma cerâmica nova na cozinha. Para isso, nosso pedreiro arrancou os rodapés de porcelanato, que serão substituídos pelos de madeira. Com essa manobra inteligente, obrigamo-nos a repintar a casa toda por dentro - note que a pintura era novinha da silva, mas arrancar os rodapés obviamente deixou a parte inferior das nossas paredes parecendo cafofo de miss laje.

Não vou nem tocar em outros detalhes como a área de serviço que cobrimos, o piso da garagem que era de brita e hoje está cimentado, e tantas outras coisas que às vezes nos fazem cogitar se nosso pedreiro vai acabar morando lá e a gente não. Importante agora é o quesito pintura.

Todo mundo que já montou casa e/ou fez uma reforma sabe que qualquer servicinho que você pede custa um rim ou órgão de maior importância vital. Como arranjar um profissional que preste é coisa da maior dificuldade, a gente até paga com a consciência leve o nosso pedreiro, o Cliverson (queria o quê? um Pedro de Alcântara Machado?), porque o cara é firmeza mesmo. De absoluta confiança, faz um trabalho caprichado, preciso, e ainda limpa tudo antes de ir embora. Difícil acreditar, né? Um pedreiro limpinho. Pois ele passa esponja úmida pra tirar resíduos de rejunte, argamassa, cimento ou uaréver, varre o pó, enfim, o cara é dez. E o preço que ele cobra é o  mesmo praticado por aí, fizemos outros orçamentos também. E olha como eu consegui fugir do assunto de novo.

Bom, desde que percebemos que a pintura seria necessária, eu quis encarar a tarefa e economizar uns tostões. Mas o Dé achava que seria muito complicado e talz, e a minha sogra ficava o tempo todo botando uma pilha que não valia a pena a gente cansar tanto, que era melhor pagar pra alguém fazer, que coitadinhas das crianças (eu e ele). Mesmo assim, o Dé concordou comigo e começamos o trabalho.

Como a parede em que ficará o closet é uma parede externa e num quarto que não bate tanto sol, resolvemos aplicar um impermeabilizante nesse quarto, batizado de quarto 2. Como o quarto 3 fica do mesmo lado da casa e um dia será o quarto do bebê, resolvemos impermeabilizá-lo também. E, claro, já que estávamos com a mão no vedapren parede mesmo, já garantimos a brancura eterna do teto do banheiro. Xô, mofo! Fora, bolor! Mofo e bolor não são duas palavras horrorosas? Fronha também, né? Ops, foco no assunto, Oksana, foco.

Ao final desse sábado fatídico, tínhamos dado somente a primeira das três demãos necessárias do impermeabilizante, que vem antes da tinta (pelo menos duas demãos). E já não conseguíamos erguer os braços acima da cabeça e a cada passo parecia que o fêmur ia se descolar da bacia [EXAGERO MODE: ON]. O Dé tentava não parecer muito pessimista, mas eventualmente deixava escapar um "será que vamos conseguir?", "será que vamos sobreviver?". Okey, okey, acabei me rendendo.

No domingo, então, liguei para um pintor indicado por uma amiga da minha mãe, que se disse impressionada com o capricho e com o preço baixo que ele cobrou. Lá foi o Junior fazer orçamento para nozes. O cara tem quase dois metros de altura, imagino que deve ser uma vantagem no serviço, nem precisa de escada ou do cabo extensor para o rolo de pintura. Dá pra pintar o teto sem esticar o braço. Expliquei pra ele o serviço, que já compramos a tinta e todo o material necessário.

Ele passeou pela casa, sentiu a textura da parede nas mãos calejadas. Disse que pintura nova é uma beleza, que não precisa lixar nada nem usar massa corrida, que está acostumado a pintar cada parede que é só buraco, uma tristeza. A nossa expectativa por um preço muito baixo era crescente. Concluiu dizendo que terminaria o serviço em cerca de cinco dias. E queria R$ 400,00, que poderíamos pagar em duas vezes: uma no 2º dia de pintura e outra no 5º, quando ele terminasse. Sim, porque meu salário eu também recebo uma vez a cada 3 dias. Você não?

Eu e o Dé ficamos naquela de um tentar decifrar o que o outro estava pensando, mas a telepatia estava desligada ou fora da área de serviço. Eu disse ao Junior Gigante que iríamos pensar e, se fosse o caso, voltaríamos a telefonar pra ele.

Enfim, sós, o Dé me confessou que estava se sentindo mais Michelangelo do que nunca, super a fim de jogar umas tintas naquelas paredes. E o Gigante que vá tapar buraco de algum teto horroroso por aí. É que R$ 400,00 são uma verdadeira fortuna pra quem ainda precisa colocar cortinas, mobiliar o resto da casa, comprar utensílios, eletros, terminar de pagar o pedreiro, além das astronômicas faturas de cartão de crédito em que parcelamos o máximo possível as compras de material de construção, isso tudo sem contar, é claro, o financiamento dos móveis planejados e da própria casa. Se sobrar algum, é capaz até de a gente se alimentar. E quem sabe um dia eu possa voltar a ir ao salão fazer minhas unhas (dinheiro jogado fora agora que elas estão todas destruídas e encardidas de impermeabilizante).

Todo esse relato emocionante foi só pra ver se ganho uma casa prontinha e mobiliada no Construindo um Sonho do Gugu explicar a razão de eu estar parecendo um zumbi sorumbático me arrastando pelo escritório a cada 15 minutos em busca de mais 250ml de café. É porque todos os dias eu e o Dé estamos saindo do trabalho e indo direto para o nosso 3º turno, quando colocamos roupinhas surradas e encarnamos os pintores felizes daquele que será em breve nosso lar, doce lar. Aí a gente fica até onze da noite pintando (coisa que quase não cansa o corpinho véio), depois vai pra casa tomar banho-comer-dormir e acorda 6h da manhã pra trabalhar.

Não, não vestimos macacões jeans (péssimo), não pintamos a cara um do outro e terminamos nos amando em meio às tintas. A coisa não é hollywoodiana assim. É certo que brotam inesperadas declarações de amor entre uma pincelada e outra. Acho que é pela felicidade de ver a parceria ilimitada, um amor que resiste às intempéries, que encara o que poderia ser visto como dificuldade apenas como mais um passo do caminho. Sem perder a ternura e o bom humor.

Ai, Senhor, agora dai-me forças pra fazer essa contestação, pra depois voltar aos pincéis e rolos de pintura. Forças e dois palitos, por favor!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

G-zus, quequé ilson?

Não sei qual pode ser a causa dos sintomas, mas estou disposta a fazer um coquetel de neosa, anti-histamínico, maracugina, AAS infantil, atroveran, mentos e coca light pra ver se passa.

Talvez seja a TPM ou algo estranho que eu comi. Sei lá, mas parece que alguma coisa aqui dentro fez soar o gongo do instinto maternal. Hoje, na hora do almoço, a coisa foi crítica. Passando em frente à banca de revistas, li rapidamente na capa de uma revista de fofocas a manchete: "Thiago Lacerda e Vanessa Lóes serão pais de uma menina". Okey, sô uat? Pobrema, minha gente, foi que meus zolhos encheram-se de água instantaneamente e eu segui meu rumo querendo crer que tivesse sido um cisco.

Uótafok, man!

Mas aí que navegando por uns blogs bons e lendo textos antigos (ai, meu chefe me mata),  li no maravilhoso (e infelizmente encerrado) Garotas que Dizem Ni esse trecho de um dos textos de despedida:

"E a Flá conheceu (e não só isso) uma criaturinha muito fofa e amada, no meio de toda essa história. Primeiro, pelo teste positivo. Depois, pelo ultrassom. Até que, na tarde do dia 30 de janeiro de 2005, Vivi e eu conhecemos em pessoa aquela coisinha de touca, pelo vidro do hospital. E o nascimento da Sassá tem sido uma alegria para todos nós."

Vou ter que confessar que a simples menção ao teste positivo já me deu de novo aquele nó na garganta e os olhos marejaram, toda uma emoção, sabe?

E toda vez que eu e o Dé, por alguma razão, começamos a divagar acerca de nossos futuros filhotes, imaginando o quanto os avós vão babar na criança (eca), e o Dé torce por uma menininha com meu senso de humor (perdoa, ó Pai, pois ele não sabe o que pede), e eu termino sonhando à noite que estou embalando uma coisinha fofa em meus braços, claro que me desperta todo um siricotico maternal.

Bom, enquanto essa aflição não passa, fico aqui entoando o mantra é-fofinho-mas-faz-cocô e tentando me convencer de que fraldas descartáveis, roupinhas, produtos de higiene, móveis para o quarto, plano de saúde e todos os demais apetrechos necessários para uma infância saudável custam tão caro que eu teria que vender o corpo pra pagar, e de filho da puta o mundo já tá cheio.


Pronto, falei.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Menina moça

Já estava prontinha pra sair para o trabalho. Ao colocar o celular na bolsa, ele começou a tocar. Número estranho, prefixo 81. Atendi e uma voz feminina pronunciou umas palavras que não entendi.

- Como? - perguntei.

Ela repetiu e lá pela 4ª vez compreendi a frase, apesar da voz de sono e do sotaque tão diferente do meu:

- É de residência de Ivan?

- Não, senhora.

- Ah, então você me desculpe, é que aqui na lista telefônica esse número tá como de Ivan, instrutor de natação, ali do lado do clube tal, e eu pensei que fosse a esposa de Ivan.

- Não, senhora, esse número é um celular de Curitiba.

- Então você saiba que mora numa cidade muito linda, viu? Já passei por aí uma vez. E eu falo aqui de Pernambuco. Você já ouviu falar de uma cidadezinha pernambucana que tem a maior festa de São João do mundo, chamada Caruaru? Pois é aqui que eu vivo, numa cidade pequena porém muito linda, viu? E eu preciso é falar com Ivan, que é instrutor de natação da terceira idade, sabe? Porque eu tenho 74 anos, mas não parece, não, viu? O povo me pergunta se eu tenho 64, eu digo "que isso? Tenho 58 só de casada", viu? Em todo caso eu agora só digo que sou menina moça. Então você me desculpe, viu?

- Imagina, não tem problema, não! Um bom dia pra senhora, tá?

- E pra você também, viu?

E foi assim que uma menina moça pernambucana de 74 anos me fez sair de casa já achando graça da vida.