sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A peçonha humana

Muita gente tem medo de aranhas, cobras, escorpiões e outros animais venenosos - também chamados de peçonhentos. Mas hoje eu quero alertá-los quanto ao perigo da peçonha humana.

Em primeiro lugar, há que se reconhecer que os seres humanos têm algo em comum com as aranhas: segundo li em diversos sites de biologia, todas são venenosas, embora o veneno de algumas seja inofensivo para nós. Os seres humanos são assim: todos têm o potencial para desenvolver e inocular seu veneno, mas alguns não o fazem, por razões diversas.

Muitos animais peçonhentos possuem características físicas que permitem que sejam reconhecidos. Os humanos venenosos, por outro lado, não têm qualquer sinal que facilite sua identificação. Apenas de olhar, muitas vítimas incautas seriam capazes de jurar estar diante de uma criatura inofensiva (o que acaba facilitando o bote do peçonhento).

Sabe-se que os animais atacam suas vítimas sempre por necessidade, seja para se alimentar ou para se defender. Muitas vezes temos a impressão de que o ser humano é diferente, por ser capaz de ferir, envenenar e até matar sem nenhum motivo.

Mas se olharmos com cuidado, perceberemos que nisto o bicho homem também não se diferencia de outros seres venenosos. Aquele que agride é sempre um animalzinho acuado, dominado por seus próprios medos e inseguranças, que se revelam em forma de agressão. É o preconceituoso que agride homossexuais, o playboy que espanca um mendigo, o metido a valentão que pratica qualquer das formas de violência contra a mulher.

Incapazes de assumir quem são, de encarar a realidade, de responsabilizar-se por seus atos, amedrontadas diante da imagem que têm de si mesmas, essas pessoas reagem tentando se impor de forma violenta. Figuras patéticas que são, não percebem que medo e respeito não se confundem jamais. De nada vale ser um imbecil temido, de quem se ri pelas costas. O covarde não enxerga isso porque é doente.

Não pensem, jamais, que estou justificando os atos de pessoas venenosas. A beleza de ser verdadeiramente humano também reside na capacidade de controlar impulsos doentios. Nem todo mundo que já foi ferido sente necessidade de ferir.

A pergunta é: o que fazer quando se é vítima do veneno humano? Por mais que a tentação inicial seja reagir utilizando a mesma arma, é melhor resistir. É preciso sempre lembrar que não se pode esperar respeito, gratidão, amor ou mesmo educação de quem não possui isso dentro de si. Tudo que o venenoso faz é colocar para fora o que lhe vai no âmago: tristeza, amargura, solidão, infelicidade. Devolver-lhe as palavras e atitudes cruéis só aumenta seu potencial venenoso.

A boa notícia é que o antídoto para a peçonha humana é simples e está ao alcance de qualquer pessoa, prescindindo inclusive de receita médica: é a felicidade. Existem fortes indícios de que o organismo humano, quando constantemente alimentado de afeto, carinho, respeito, convívio familiar, amizades verdadeiras e desinteressadas, pode chegar até mesmo ao ponto de tornar-se imune ao veneno alheio. Não é fantástico?

Posso falar por mim. Minha vida tem sido a cada dia o reflexo de meus atos. Buscando sempre fazer o bem, tenho recebido dádivas imensuráveis. A pirraça dos venenosos infelizes em querer me ver onde eles se encontram (no fundo da fossa) mais cedo ou mais tarde acaba virando piada. E nesse ponto vale a pena fazer valer o lugar-comum: rir realmente é o melhor remédio.


"A violência vem do medo de si mesmo, agredir é se humilhar"
(Poeta de Alhures)