quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Paço de novo

Então o namorido topou a aventura - ele sempre topa :) - e à noite voltei ao Paço da Liberdade na companhia de meu amado. Desfrutamos de outro projeto cultural da casa, a Mostra Carta Branca, em que cineastas são convidados para indicar sete filmes para serem exibidos na sala CinePensamento.

O filme de ontem, indicado por Eduardo Valente, foi o Elefante, de Gus Van Sant (o mesmo de Gênio Indomável), uma versão pessoal do diretor sobre o massacre na escola Columbine (que deu origem ao premiado documentário de Michael Moore).

Tenho a impressão (talvez por ignorância minha, não sei) de que determinados filmes são escolhidos pelos críticos por razões incertas para ocuparem o posto de obra prima do momento. E, assim como a roupa nova do rei, tais expoentes de genialidade também supostamente só podem ser enxergados por quem é inteligente. Por medo de dizer que achou uma bosta e ser tachado de estúpido, todo mundo sai da sala de exibição bradando elogios: "revolucionário", "de uma originalidade ímpar", "sensível como o teatro". Como diria namorido, sorry, but I'm allergic to bullshit.

Mesmo na minha ignorância eu consegui visualizar alguns pontos positivos no filme. Vamos a eles: as tomadas meio vagas focalizando nada por motivo algum, em muitos momentos conseguem atingir o que me parece ser o objetivo do diretor: conduzir à introspecção. Isso também é reforçado pela trilha sonora, com sons distorcidos de modo a introduzir o personagem no contexto quando interage com os demais e, logo em seguida, introjetá-lo novamente em seus próprios pensamentos (que o espectador não sabe quais são, então só resta imaginar). A câmera na nuca dos personagens, caminhando com eles, uma fotografia primorosa, a naturalidade com que os adolescentes desenvolvem as cenas e, principalmente, a ausência de picos de emoção mesmo nas cenas que, em tese, seriam as mais dramáticas, têm por resultado um filme que exige que o espectador reflita, pense, tire suas próprias conclusões, até porque não apresenta as causas nem tampouco as soluções.

Parece bom, né? E seria ótimo, não fosse o enorme esforço para ficar acordada até o final. Não é que o filme seja ruim, longe disso, mas não é brilhante nem inesquecível. Pronto, falei. Podem os psycho cults me achincalhar agora. O rei está pelado, minha gente, vamos parar de surtar, por favor. 

A primeira vez que me lembro de ter me deparado com o fenômeno "roupa nova do rei" foi em Dogville, que é do mesmo ano que Elefante, 2004. Inclusive, Dogville era o favorito do Festival de Cannes, e acabou perdendo para o Elefante. Sobre o filme do cão: ok que o diretor tenha lá seus méritos de economizar no orçamento riscando o cenário com giz no chão, de retratar a maldade do ser humano e a hipocrisia da vida em sociedade e não sei o que mais. Mas daí a dizer que isso é o ápice da genialidade é carregar demais nos paetês imaginários da roupa do rei. Eu achei o filme MUITO chato, e o ritmo devagar quase parando é ainda mais difícil de suportar com a ausência de cenários. Só despertei mesmo na apoteótica cena final, em que a grande e graciosa heroína Grace termina, por meio da vingança sangrenta, igualando-se aos seus algozes. Pff. Aí vem um pshyco cult articulando exageradamente: o me-lhor filme que já vi na-mi-nha-vi-da! 

Respiro fundo e concluo que preciso mesmo desenvolver mais a minha tolerância. Porque se desenvolver a força física, posso acabar partindo para a violência. Just kidding.

De qualquer forma, como se pode perceber, a experiência proporcionou alguma reflexão. É sempre bom conhecer coisas novas, mesmo que seja para não gostar delas. Ah, e o Paço me conquistou de vez: além dessa sala de exibição bacana (by the way, a exibição foi gratuita e aberta ao público, mesmo assim só tinha meia dúzia de espectadores) e da sala onde, mais cedo, eu havia visto o concerto de bandolim, tem mais várias outras atrações: a sala de internet (acesso gratuito), a biblioteca, a livraria e lojinha de souvenires, e o melhor de tudo: o café. Charmosíssimo, com flores amarelas sobre as mesinhas, com as enormes portas abertas com vista para as frondosas árvores da Praça Tiradentes. Lindo! Certamente voltarei.

Beijos

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