domingo, 20 de dezembro de 2009

Chegou a hora




É chegada a hora de fazer um balanço. Vamos precisar de: madeira, pregos, duas cordas e um lugar para pendurar. Ok, finjam que eu não escrevi isso.

Só para não perder a mania de dividir o tempo em fatias e explicar depois da (in)digestão qual foi o sabor de cada uma, vou dizer algo sobre o ano de 2009.

Se eu não tivesse aprendido nada na vida, diria que foi um ano difícil, muito difícil. Contaria as desventuras que passei, as decepções que sofri. Costumava ouvir dizer que, quando você vê um amigo numa briga, primeiro chega dando uma voadora em quem o está agredindo, depois pergunta o que aconteceu e descobre de quem é a culpa. Porém, no momento em que eu estava apanhando, as pessoas me incentivavam a atitude cristã de dar a outra face. Diziam que eu devia agradecer, porque veja bem, podia estar doendo muito mais. Porque as pessoas sempre sabem mensurar o tamanho da sua dor.

Mas não serão esses momentos que pautarão minhas memórias futuras do ano de 2009. Uma lição valiosa que aprendi é a tão batida e tão pouco aplicada questão do ponto de vista. Da perspectiva de quem vê. E da disposição para ver determinadas coisas.

Quando a gente deseja comprar um certo carro, vê o modelo por toda parte. Quando não está interessada, pode ser atropelada por ele sem ter reparado na cor. Com a vida é a mesma coisa: quando estamos dispostos a enxergar as coisas boas, elas acontecem muito mais. E quem só está a fim de reclamar recebe a dádiva do universo: muita desgraça aparece pra ter assunto de sobra.

A verdade é que, de acordo com a minha lábia e a minha disposição para ressaltar estes ou aqueles pontos, posso convencer qualquer pessoa de que sou a vítima preferida do grande legislador Murphy, e de que tudo de pior acontece comigo. Posso fazer você acreditar que eu ando com um alvo gigantesco estampado na minha cabeça pra nenhum urubu errar a mira. Também posso, com a mesma facilidade, convencer de que sou a pessoa mais sortuda de todo o Cosmos. Tudo de melhor me acontece. Posso transformar as pequenas alegrias rotineiras em grandes feitos alardeados com pompas de ato heróico. Depende apenas das cores que eu escolher pra pintar minha história.

Estou de saco cheio de ouvir gente dizer que "esse foi um ano horrível", e que "o próximo será bem melhor", como se o dia 31 de dezembro tivesse propriedades mágicas, capazes de afastar todos os males da sua vida, eliminando automaticamente todas as mágoas, dívidas e dissabores. O dia 1º de janeiro, por sua vez, é praticamente um amuleto da sorte, que traz muito dinheiro, paz, tranquilidade, um chefe mais compreensivo ou o negócio próprio, muitos clientes, sucesso, beleza, magreza, tonuz muscular, disposição, cura unha encravada, má digestão, dor de corno e traz seu amor de volta em 7 dias.

Detalhe interessante é que as mesmas pessoas que acreditam nisso hoje são as que acharam 2008 um ano péssimo, e que apostaram todas as fichas em 2009. "Esse vai ser incrível", diziam. Rolou até trocadilho infame: "Em 2000, inove". Mas as pessoas parecem não ter inovado nada, e continuam com o mesmo discurso de "que tudo se realize no ano que vai nascer". Já posso até esperar o "2010 vai ser 10". Blé.

Se as coisas precisam mudar, por que não começar hoje? Pra que escrever uma listinha de metas para o próximo ano se eu não estou disposta a fazer a matrícula na academia hoje mesmo? Se eu não tenho coragem de pedir um aumento, por que acreditar que o meu chefe, por pura sensibilidade e caridade, irá me promover no semestre que vem?

E outra: será mesmo que foi tudo tão ruim assim? Ou as coitadinhas das coisas boas estão esquecidinhas num canto da lembrança, enquanto os desacertos estão figurando no centro do palco, com os holofotes voltados para eles? Quando foi que o papel de vítima das circunstâncias entrou tão na moda? Não vejo necessidade em se fantasiar de herói, anunciar vitórias aos quatro cantos, mas que coisa chata conviver com gente que só se queixa!

Você pode até me dizer: "mas eu lembro que ano retrasado você também acreditava que as coisas seriam  magicamente melhores no próximo ano!". Você pode me lembrar também de que até um tempo eu gostava bem mais de escrever sobre coisas ruins que me aconteciam, e fazia graça com a desgraça com muito mais facilidade. Esse era até o mote do meu blog antigo, talvez você lembre. E eu posso dizer que até 26 anos atrás eu usava fraldas, e felizmente não uso mais. Triste é o tempo passar e a gente não mudar nunca! Viva Raul! Também não quero ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

Hoje, sou assim: disposta a ver o bem. E não só o bem que virá, mas aquele que já veio, e que passa despercebido por muita gente, ocupada demais em reclamar. E talvez não seja mera coincidência o fato de tantas coisas boas estarem me acontecendo. Quer saber quais são? Não há sentido em enumerá-las. Ainda mais com esse tanto de gente infeliz à solta por aí, querendo companhia na miséria.

Prefiro então desejar a cada um dos meus (8) leitores que encontrem a felicidade também. E, principalmente, que estejam com os olhos abertos para vê-la quando aparecer.

Se me permitem dar uma dica, eu descobri que é bem mais fácil enxergar o que me acontece de bom se não estiver atenta à vida alheia. Se não fizer comparações injustas. Se não estabelecer metas impossíveis. E se valorizar menos os fracassos e mais as conquistas. Ok, foram várias dicas. Não vou cobrar nada, fica de presente de Natal, beleza?

Curtam o Natal com suas famílias e amores! E sejam felizes não só no ano que vem, mas hoje, amanhã, depois e sempre!

Beijinhos repletos de felicidade,

Oki

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Ma oeee, quanto tempo!

Ei, amigos da Rede Sbrubles, estamos aqui nesse lindo dia de merda, mais uma bela quinta-feira de trabalho, uhuuu. Já há muitos e muitos dias eu vinha estranhando o sumiço do chefinho. Não me pediu nada, nem fez a cRássica pergunta: "quais são suas pendências?", nem coisa alguma. Nas vezes em que ligou aqui no meu ramal foi só para pedir pra encaminhar um e-mail, coisa pouca.

Eis que hoje, para minha desgraça infinita alegria, ele finalmente lembrou-se da ecxistência de moi! Chegou aqui todo serelepe e, com um arzinho de ironia (que não cai bem num chefinho, convenhamos, ironia é coisa de subordinado. Não?) disse que acredita que o meu silêncio signifique que estou resolvendo todas as minhas pendências (ah, sempre as malditas pendências) e que vou entregar tudo pronto amanhã. Oi? Vontadinha de perguntar: e em Papai Noel, acredita também?

Ocorre que amanhã é meu derradeiro dia de senzala trabalho antes da alforria das férias. Duas semaninhas tão esperadas em que ficarei curtindo a vida adoidado arrumando a casa, lavando, passando, tirando pó, organizando, dando retoques na pintura das paredes riscadas pela chegada dos móveis, coisas do gênero.

Entã, vejam só, amigos, que loucura. Como uma mesma situaçã pode ensejar tão diferentes interpretações, não? Eu cá com minhas teclas ingenuamente acreditando que chefinho tinha resolvido me dar uma folga, afinal ele deve ter percebido pela profundidade das minhas olheiras que eu sou uma pessoa moribunda cansada de tanto trabalhar e à noite arrumar a casa e talz. Com a sensibilidade inerente ao espírito masculino, ele deve ter sentido que essa nova rotina pós-mudança com tantos detalhes a acertar, compras a fazer, coisas a arrumar, está cansativa demais. Por isso, esse homem benevolente estaria me poupando das atribulações ordinárias do trabalho.

Enquanto isso, na sala da justiça, chefinho estava esperando a conclusão daquelas tarefas chatinhas que se encontram sobre minha mesa desde o início da era cenozóica. Pessoinha impaciente, viu? Mas, como ele não é bobo nem nada, bem no fundo ele já sabia que eu não estava fazendo muito além daquele esforço hercúleo para manter as pálpebras abertas, e veio até aqui hoje fazer um terrorismo.

Claro que a tarde já está quase acabando, e que amanhã, além de todas as motherfucker pendências, preciso fazer o lançamento das horas trabalhadas no mês. Aqui por essas bandas, isso também é conhecido como pain in the ass (com sotaque britânico, bem bonito). Portanto, a coisa mais inteligente a fazer, qual é? Ahm? Dou-lhe uma... Dou-lhe duas... Dou-lhe três! Vendido para a senhora de chapéu na quarta fileira!

Ó-BE-VE-O: escrever um texto que, se não for a pérola que faltava para finalmente me render um prêmio Nobel da literatura (hipótese muito provável), pelo menos terá servido para me manter acordada por alguns minutos. Porque pior do que não resolver as stupid dumbshit goddamn motherfucker pendências, é ser flagrada dormindo pelo chefinho, né não?


Beijo, outro, tchau.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Chuchuzinho

A Dona Shirley era mãe do ex-marido da minha mãe. Eu a conheci quando tinha 11 anos de idade, e 3 anos depois ela faleceu. Apesar do pouco tempo em que esteve comigo, ela é minha referência de avó, já que a minha avó materna faleceu quando eu tinha só um aninho, e a paterna eu nunca conheci.

Era uma figura especial, minha Vó Shirley. Toda bonitona e namoradeira, nunca estava sozinha. Quando partiu dessa pra melhor, estava noiva, acredita?

Fazia questão absoluta de me apresentar pra todo mundo como "a neta mais velha". Queria porque queria que eu fosse desfilar num evento do clube que ela frequentava. Eu era uma adolescente desajeitada, com cabelo ruim, nariguda e me vestia super mal, mas aos olhos dela, eu era uma "moça linda".

Almoçávamos toda quarta-feira na casa dela. A comida, obviamente, era deliciosa. Comida de vó sempre é uma delícia. Tinha uma mania que era a maior piada na família: se você se distraísse conversando, a mineirinha vinha e recolhia o prato. "Ô, vó, tô comendo ainda!". "Ah, pensei que já tivesse acabado".

Há alguns dias foi aniversário dela, acho que no dia 10, não tenho certeza.

Mas foi hoje que eu lembrei dela, porque no restaurante que eu almoço todo dia tinha salada de chuchu. Essa iguaria mais insossa da culinária brasileira era uma maravilha quando preparada por ela. Eu não conseguia entender como o tempero dela tornava aquilo tão gostoso. Limão, sal, pimenta do reino, cheirinho verde. Minha mãe fazia em casa, não ficava igual.

Até hoje eu pego salada de chuchu sempre que tem no buffet de qualquer restaurante, ou na casa de alguém,  com a esperança de sentir de novo aquele gostinho. Nunca é tão boa.

Fiquei pensando em como simples detalhes muitas vezes marcam mais do que grandes gestos. Tenho diversas lembranças da minha querida avó, mas é uma simples salada de chuchu que me faz sorrir na fila do buffet e me deixa o maior aperto de saudades.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Vergonha


Durante toda a minha infância (assim como nas fases que a sucederam), eu tive praticamente nenhum contato com meu pai. Talvez a falta de influência paterna, somada ao total desinteresse da minha mãe por esportes, justifique porque o futebol nunca foi uma paixão na minha vida.

Eu devia ter uns 8 anos de idade quando decidi que torceria para o mesmo time que a maioria dos meus amiguinhos da escola, o Coritiba. Já que eu não tinha uma tradição familiar a honrar, não faria sentido algum optar por um time que me tornasse menos popular entre os meus pares.

Já na adolescência, cheguei a ir a uma meia dúzia de jogos com amigos realmente apaixonados pelo time. Qualquer adolescente busca incansavelmente a identificação com um ou mais grupos, então era interessante assumir o rótulo de coxa branca, algo que me aproximava de indivíduos com a mesma característica.

Um dia, porém, sofri o trauma. Pausa dramática. Respira fundo. Até hoje é triste lembrar aquele dia. O Coxa recebeu o time do São Paulo em casa. O ano, não tenho certeza, mas provavelmente foi 1999. O Couto Pereira estava superlotado, a entrada era gratuita para mulheres e crianças, e uma multidão ainda se acotovelava lá fora, querendo entrar. Eu me perdi do amigo com quem eu tinha ido, porque me afastei procurando um espacinho onde desse para respirar. O contato físico involuntário era inevitável, por mais que a gente evitasse encostar nas pessoas.

De repente, senti uma coisa quente no lado esquerdo do meu corpo, que estava se fundindo com o lado direito do corpo de um desconhecido. Eu e ele olhamos para a fonte de calor e identificamos, com a mesma cara de nojo-pavor-asco-absoluto que alguém da arquibancada superior havia vomitado na gente.

Corri para o banheiro, tentei lavar como pude aquela nojeira na pia. Tirei minha camisa (estava com uma blusinha por baixo, óbvio) e joguei fora. O grande problema era o meu cabelo, repleto de resquícios mastigados de almoço cobertos de suco gástrico do fidumaégua. Saí tentando controlar o enjôo e o choro. Peguei um busão, cheguei em casa e passei umas duas horas debaixo do chuveiro. O Coritiba venceu o São Paulo por 2x1, mas eu nem comemorei. Depois do fatídico acontecimento, só voltei ao estádio uma vez, num jogo de quarta-feira, contra um time de várzea, com cerca de 7 torcedores no estádio, contando comigo.

O tempo passou e o futebol se tornou uma coisa cada vez mais banal para mim. Se alguém me pergunta para que time eu torço, respondo por força do hábito, mas não tenho a mínima ideia do nome dos jogadores, do técnico, nem quando é o próximo jogo. Não me faz falta nenhuma.

Por sorte, vivo com um homem que também não dá a mínima para futebol. Sério mesmo, toda vez que ouço o papo chato dos maridos, noivos e namorados fanáticos das minhas amigas eu faço uma prece silenciosa de agradecimento. Jamais o meu namorido trocaria um programa comigo por um jogo na TV ou no estádio. Nunca eu vou ter que ouvi-lo dizer publicamente que eu sou uma chata porque não entendo o amor dele por um time. O Dé até gosta de jogar com os amigos de vez em quando, mas não vê sentido em sentir apreço exagerado por qualquer time, em dedicar uma fé cega como se o clube fosse o caminho da salvação, ou em perder uma tarde de domingo, uma noite de quarta ou qualquer outro momento assistindo a um jogo, enquanto a vida acontece lá fora.

É exatamente o mesmo que eu penso. A alegria que sinto quando meu time ganha talvez não seja tão grande quanto a de pegar quase todos os semáforos abertos no caminho para o trabalho, ou de descobrir uma nova cor de esmalte que super combina com meu tom de pele, ou de ter uma boa ideia para a petição em que estou trabalhando. Quando meu time perde, nem penso em me incomodar. Pra mim é absurdo alguém sofrer porque uns caras que ganham pra chutar bola fazem mal o seu trabalho.

Não consigo entender como tem pessoas que se dedicam de forma tão intensa e passional à torcida. Chorar, desesperar, brigar, perder amizade, passar o dia enchendo o saco dos amigos que torcem para o time adversário que perdeu. Tudo isso por causa de um jogo? Na boa, não entra na minha cabeça. O que o futebol tem de tão especial quando comparado aos outros esportes, que torna um grupo de homens correndo atrás de uma bola assim tão atraente? Por que ninguém arranca os cabelos porque uma dupla de vôlei de praia perdeu? Ou ri da cara de alguém que torce pra um japorongo que perdeu no ping pong?

Claro que na Copa do Mundo é divertido reunir os amigos, torcer pela seleção, embora não do mesmo jeito que torço pelos atletas brasileiros de outras modalidades. Atualmente, a maior parte dos jogadores de futebol, em especial os da seleção, sofrem de uma crise de estrelismo lazarenta. Diferente do pessoal que luta, muitas vezes sem patrocínio, que dedica a vida a representar o país no esporte.

Diante disso, há anos eu me considero indiferente em relação ao futebol e, mais ainda, ao Coritiba.

Isso até o domingo passado, 6 de dezembro, quando parte da torcida coxa branca protagonizou cenas de completa brutalidade e selvageria. O time caiu pra 2ª divisão? Cago pra isso. Não dou a mínima. Foda-se. Encontrar um fio de cabelo branco me entristece mais.

Inaceitável é invadir o campo, agredir árbitros, policiais e outros torcedores. Grotesco é espalhar o pânico nas ruas, jogar bombas em ônibus, destruir o patrimônio público. Vergonhoso é mandar para o hospital várias pessoas que não tinham nada com a história, como uma enfermeira que voltava de ônibus do trabalho e, atingida por uma bomba, perdeu três dedos da mão direita. Vexame é atingir um policial desmaiado com uma barra de ferro na cabeça. Desonra é sair distribuindo tiros, cacetadas e porradas, como se isso consertasse a situação do time que jogou mal. Sem falar na burrice que é destruir o próprio estádio e submeter o clube ao risco de uma punição mais severa.

Isso tudo me causa muito mais asco do que aquela vomitada que levei na cabeça.

Depois dessa, quero que meu velho hábito perca a força. Quando me perguntarem pra que time eu torço, quero dizer: nenhum.

Ps.: quero deixar claro que não tenho nada contra a maioria dos torcedores, tanto do Coritiba quanto de outros times, que têm amor (para mim inexplicável) pelo time e não precisam agir como animais para demonstrar isso. Esse texto reflete apenas a minha opinião de que o futebol devia ser apenas uma distração, e não motivo de fanatismo, de discórdias e de vexames como o acima descrito. Todo mundo é livre para concordar ou discordar, mas qualquer comentário que me desrespeite será sumariamente deletado, porque eu que mando nessa bagaça.