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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Abrindo as asas

Acontecimentos recentes têm a cada dia reafirmado a minha convicção de que mudar não apenas faz bem, como é também um processo natural. Muitas vezes, torturados pelo peso acachapante da rotina, sentimo-nos tentados a mudar o que quer que seja. O primeiro passo nesse rumo é extremamente válido, porque é ele (ou algum dos que se seguem) que nos desperta para o verdadeiro sentido da transformação. 

Quando nos prostramos como vítimas de uma inexorável inércia, moldamos a mudança em nossa imaginação. Pensamos em como nossa vida seria incrível em outras circunstâncias. Talvez em outra casa, ou em outra profissão, ou em outro relacionamento, ou em outro país. Cada qual nutre seus pequenos vislumbres de uma existência mais plena no campo que mais o incomoda.

O início dessa busca por algo de diferente tem o condão de mostrar que o problema, na maior parte das vezes, não estava onde imaginávamos, mas sim no simples fato de termos cedido à acomodação. E quando nos colocamos em movimento, começamos lentamente a sentir os primeiros benefícios dessa viagem mágica. O vento nos cabelos, o calor da marcha, a excitação do desconhecido. De repente, algo desperta dentro de nós: estamos vivos.

Não há nenhum demérito em mudar o destino no meio da jornada. Habituamo-nos a crer que o sucesso de uma missão está inevitavelmente atrelado a atingir um determinado objetivo. Na verdade, seria estupidez prosseguir na mesma direção uma vez que percebemos que não é para lá que queremos ir!

Não lembro exatamente quando foi que uma simples inquietação me impulsionou a tentar algo novo. Algo em mim dizia que era uma atitude cruel comigo mesma permitir que meu tempo de vida se escoasse, enquanto eu passivamente observava os acontecimentos se encadearem por conta própria. 

Eu não sabia como saciar a necessidade que urgia em mim. Então, fiz o que pude. Coloquei em prática minha vaga noção de mudança. Comecei a fazer coisas diferentes, todos os dias. Experimentar caminhos, sons, sabores, práticas. Não havia, ainda, nenhum interesse em me aprofundar em qualquer um daqueles novos conhecimentos.

Em dado momento, a busca criou vida própria. Uma experiência conduziu à outra, conheci pessoas que vivem de uma forma tão diferente da minha, venci preconceitos, desvendei novas filosofias. E me apaixonei pela jornada! Não há mais um ponto de chegada, onde me serão atribuídos os louros da vitória e eu descansarei na doce sensação da conquista.

Percebi que a natureza está em constante movimento e transformação. As águas dos rios correm para os oceanos. Evaporam, condensam-se e precipitam-se em forma de chuva. A semente, sob a chuva, germina. Os brotos crescem, florescem, frutificam, morrem e viram adubo. Lagartas se transformam em borboletas. Nada é naturalmente estanque. Só o ser humano faz um esforço hercúleo para manter posições.

Ao ouvir minha voz interior clamando por transformação, eu não sabia ainda o que poderia encontrar. Mesmo assim dei início a uma procura incerta que me conduziu por caminhos surpreendentes. Quando dei por mim, havia encontrado o que tanto buscava, onde menos esperava: em mim mesma. 

Minha grande transformação não é só resultado de coisas novas que agreguei (embora eu preserve o interesse no que ainda não entendo), mas do despojar de velhos hábitos e crenças. "It is hard to fill a cup that is already full"*. Subitamente senti despertar uma verdade ancestral, como que oculta no meu código genético. E a vida finalmente começa.

Não entendeu nada dessa "viagem"? Não se preocupe. Essa mensagem provavelmente não era para você. ;)


* É difícil encher um copo que já está cheio. Do filme Avatar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Mudar faz bem?

Uma frase bastante popular - cuja autoria desconheço - diz que se você fizer o que sempre fez, terá o que sempre teve. Alguma coisa faz mais sentido que isso?

A maior parte das pessoas que eu ouço reclamar da vida continua fazendo tudo exatamente igual todos os dias. E suas reações diante de quem faz algo de diferente transitam entre o ceticismo e o espanto, passando pelo desdém e pelo escárnio.

Pergunto-me se tais manifestações não seriam reflexo do que sentem em relação a sua própria falta de coragem, disposição e força de vontade para promover as mudanças de que necessitam.

Mudar (para melhor) faz bem para quem muda. Mas ao que tudo indica a mudança alheia faz um mal danado para quem sofre de inveja, estagnação ou simples aversão ao que não consegue compreender. A boa notícia é que esse mal tem cura.

Tratamento recomendado: pílula vermelha.
Posologia: dose única.
Possíveis efeitos colaterais: incapacidade de voltar a adormecer a consciência que desperta, inevitável sentimento de exclusão social, desilusão como caminho intermediário entre a ilusão e a realidade e, por fim, a estranha sensação de que estar em paz consigo mesmo supera todas as aparentes dificuldades do caminho.

E aí? Alguém se habilita?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Um belo sem-vergonha

A 28ª Oficina de Música de Curitiba terminou neste domingo, 31/01/2010, em grande estilo, com a plateia do Guairão lotada de músicos e apreciadores de boa música. O pernambucano Antônio Nóbrega fez o show de encerramento, que reuniu canções de seus seis últimos espetáculos. 

No palco, Nóbrega canta, atua, toca diversos instrumentos, dança, faz mímica e brinca com a plateia. Ainda menino, estudou violino e canto lírico durante anos, e fez parte da Orquestra Sinfônica do Recife. Depois de integrar o Quinteto Armorial, a convite de Ariano Suassuna, passou a ter contato com diversas expressões da cultura popular brasileira. A partir de então, teve início um trabalho ímpar.

O espetáculo contém maracatus, baiões, frevos-canções, choros, sambas, marchas-de-bloco. Nóbrega toca rabeca, violino, bandolim. Sete talentosos músicos o acompanham no violão, cavaquinho, saxofone, flauta, acordeon, alfaia, bateria e instrumentos diversos de percusão. De vários eu nem conheço o nome. Exercício interessante para ouvidos leigos como os meus é o esforço de identificar, no harmonioso conjunto que compõe cada canção, o som específico de cada instrumento.

Um espectador um dia disse a Nóbrega: "você pula tanto feito um cabrito durante o show que eu me canso só de ver". As estripulias do artista ora parecem brincadeira de criança, ora invocam a lembrança do Carlitos, de Chaplin. O personagem conquista a plateia, arranca risos, emociona.

Não sei descrever a beleza do primoroso trabalho de divulgação do cancioneiro popular, de encantamento com uma arte de raízes brasileiras de verdade. Algo que passa longe de futebol e bunda.

Aos quase 58 anos de idade, Antônio Nóbrega é um adulto sem nenhuma vergonha de ser menino. O mestre da arte brincante é um artista sem a menor vergonha de fazer rir e sorrir. E o espetáculo com que nos presenteia inspira a ser feliz. 

Para saber mais a respeito desse artista incrível, clique aqui, aqui e aqui.

Beijos!

sábado, 30 de janeiro de 2010

Inovações culinárias

O clima em Curitiba nessa sexta-feira foi algo realmente fora do comum. Além de muita, mas muita chuva mesmo, passamos o dia aos sobressaltos com trovões balançando as janelas e clarões de relâmpagos que iluminavam um dia particularmente escuro. Por fim, por volta das 20h, abriu o maior sol, como se estivesse amanhecendo, e dois enormes arco-íris nos acompanharam no caminho para casa.

Com tanta água desabando, muita gente desmarcou compromissos, faltou ao dentista, os salões de beleza ficaram vazios e, provavelmente, os bares também. E eu ainda não havia feito nada de diferente no dia. Almocei no mesmo restaurante de sempre, trabalhei, cumpri meus prazos, naveguei na internet... Nada de novo.

Felizmente, o friozinho e a chuva fizeram o clima perfeito para pilotar o fogão e preparar uma sopinha de batatas, frango e champignon, servida dentro de um pão italiano coberto de azeite de oliva por dentro e por fora, e levado ao forno até ficar crocante. O momento foi ideal para também abrir o vinho que o Dé ganhou de Natal da melhor sogra do mundo - a dele. 

E então a experiência diferente do dia foi preparar assim, de última hora, sem planejar, uma ocasião perfeita para celebrar o amor.

Clique para aumentar.
Breve desacordo entre o marcador de horas do forno micro-ondas e o do forno elétrico.


Beijinhos.

Um pouquinho mais de Yoga

Na quinta-feira à noite, eu e namorido fomos conhecer mais uma escola de Yoga, a Govardhana. Fizemos uma aula experimental com o Goura, que também dá aulas de Sânscrito, filosofia e instrumentos musicais indianos. Foi com certeza a melhor aula até agora, apesar de eu ter gostado muito também da aula do Mahamuni, que também vai dar aulas na Govardhana a partir desse ano. Mais para frente eu faço um post a respeito das minhas impressões nessa jornada por diferentes escolas de Yoga.

O que posso dizer, desde já, é que sempre que estou em "estado de Yoga", ou seja, toda vez que pratico, independentemente do método adotado pelo instrutor, sinto que isso é algo que eu estava buscando. Essa sensação de paz, de estar fazendo uma coisa boa pelo meu corpo e pela minha mente. Sentir que, mesmo em pouquíssimo tempo de prática, a consciência corporal começa a se expandir, fazendo com que eu cuide, naturalmente, de manter uma postura melhor, mais centrada. Não tenho dúvida de que o trabalho físico se reflete em outros planos - e vice-versa.

Além dos benefícios do Yoga em si, essa experimentação toda tem trazido ainda outros aspectos positivos, como o fato de eu e o Dé estarmos conhecendo vários lugares novos e pessoas diferentes, que, por sua vez, abrem as portas para novas experiências, como o jantar indiano para o qual fomos convidados. E, assim, o projeto segue trazendo resultados incríveis a cada dia.

Beijos

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Paço de novo

Então o namorido topou a aventura - ele sempre topa :) - e à noite voltei ao Paço da Liberdade na companhia de meu amado. Desfrutamos de outro projeto cultural da casa, a Mostra Carta Branca, em que cineastas são convidados para indicar sete filmes para serem exibidos na sala CinePensamento.

O filme de ontem, indicado por Eduardo Valente, foi o Elefante, de Gus Van Sant (o mesmo de Gênio Indomável), uma versão pessoal do diretor sobre o massacre na escola Columbine (que deu origem ao premiado documentário de Michael Moore).

Tenho a impressão (talvez por ignorância minha, não sei) de que determinados filmes são escolhidos pelos críticos por razões incertas para ocuparem o posto de obra prima do momento. E, assim como a roupa nova do rei, tais expoentes de genialidade também supostamente só podem ser enxergados por quem é inteligente. Por medo de dizer que achou uma bosta e ser tachado de estúpido, todo mundo sai da sala de exibição bradando elogios: "revolucionário", "de uma originalidade ímpar", "sensível como o teatro". Como diria namorido, sorry, but I'm allergic to bullshit.

Mesmo na minha ignorância eu consegui visualizar alguns pontos positivos no filme. Vamos a eles: as tomadas meio vagas focalizando nada por motivo algum, em muitos momentos conseguem atingir o que me parece ser o objetivo do diretor: conduzir à introspecção. Isso também é reforçado pela trilha sonora, com sons distorcidos de modo a introduzir o personagem no contexto quando interage com os demais e, logo em seguida, introjetá-lo novamente em seus próprios pensamentos (que o espectador não sabe quais são, então só resta imaginar). A câmera na nuca dos personagens, caminhando com eles, uma fotografia primorosa, a naturalidade com que os adolescentes desenvolvem as cenas e, principalmente, a ausência de picos de emoção mesmo nas cenas que, em tese, seriam as mais dramáticas, têm por resultado um filme que exige que o espectador reflita, pense, tire suas próprias conclusões, até porque não apresenta as causas nem tampouco as soluções.

Parece bom, né? E seria ótimo, não fosse o enorme esforço para ficar acordada até o final. Não é que o filme seja ruim, longe disso, mas não é brilhante nem inesquecível. Pronto, falei. Podem os psycho cults me achincalhar agora. O rei está pelado, minha gente, vamos parar de surtar, por favor. 

A primeira vez que me lembro de ter me deparado com o fenômeno "roupa nova do rei" foi em Dogville, que é do mesmo ano que Elefante, 2004. Inclusive, Dogville era o favorito do Festival de Cannes, e acabou perdendo para o Elefante. Sobre o filme do cão: ok que o diretor tenha lá seus méritos de economizar no orçamento riscando o cenário com giz no chão, de retratar a maldade do ser humano e a hipocrisia da vida em sociedade e não sei o que mais. Mas daí a dizer que isso é o ápice da genialidade é carregar demais nos paetês imaginários da roupa do rei. Eu achei o filme MUITO chato, e o ritmo devagar quase parando é ainda mais difícil de suportar com a ausência de cenários. Só despertei mesmo na apoteótica cena final, em que a grande e graciosa heroína Grace termina, por meio da vingança sangrenta, igualando-se aos seus algozes. Pff. Aí vem um pshyco cult articulando exageradamente: o me-lhor filme que já vi na-mi-nha-vi-da! 

Respiro fundo e concluo que preciso mesmo desenvolver mais a minha tolerância. Porque se desenvolver a força física, posso acabar partindo para a violência. Just kidding.

De qualquer forma, como se pode perceber, a experiência proporcionou alguma reflexão. É sempre bom conhecer coisas novas, mesmo que seja para não gostar delas. Ah, e o Paço me conquistou de vez: além dessa sala de exibição bacana (by the way, a exibição foi gratuita e aberta ao público, mesmo assim só tinha meia dúzia de espectadores) e da sala onde, mais cedo, eu havia visto o concerto de bandolim, tem mais várias outras atrações: a sala de internet (acesso gratuito), a biblioteca, a livraria e lojinha de souvenires, e o melhor de tudo: o café. Charmosíssimo, com flores amarelas sobre as mesinhas, com as enormes portas abertas com vista para as frondosas árvores da Praça Tiradentes. Lindo! Certamente voltarei.

Beijos

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Música no Paço da Liberdade e livros usados por aí

No horário de almoço de hoje fiz algo bem inovador: não almocei. Mas, calma, foi por um bom motivo. Andei sob o sol escaldante de meio-dia até a Praça Generoso Marques, a um quilômetro de distância. Meu destino era o Paço da Liberdade, que faz parte de um projeto de revitalização urbana chamado Arqueologia da Memória.

O prédio, construído no início do século passado (entre 1914 e 1916), é o único de Curitiba tombado nas três instâncias: municipal, estadual e federal. O Paço serviu de sede da Prefeitura, abrigando o gabinete de 42 prefeitos, sendo o último em 1969. Cinco anos depois, tornou-se sede do Museu Paranaense até 2002. De 2008 até 2009, o antigo prédio passou por uma grande restauração promovida pelo SESC/PR, e  passou a servir de espaço para diversos tipos de manifestação artística.

Eu nunca tinha estado lá dentro, mas já admirava o edifício por fora. Hoje tive a oportunidade de subir suas escadarias a admirar os detalhes internos da arquitetura restaurada pelos artesãos. Além disso, vi a exposição "Ler Vendo, Movendo", de Arnaldo Antunes, e assisti ao concerto solo (em princípio) para bandolim com Daniel Migliavacca. O concerto acabou não sendo exclusivamente solo, porque Daniel aproveitou a oportunidade para convidar o também bandolinista e compositor Jorge Cardoso para se apresentar para o público que lotou a platéia. Infelizmente, não pude ficar para ver os dois tocando juntos, porque o Daniel começou a tocar deselegantemente 30 minutos atrasado. Ainda bem que a bela música compensou esse deslize!

É sempre impressionante ver a perfeita integração entre um artista e seu instrumento musical, quando os dois parecem ser um só. Para quem ouve, a impressão é de que deve ser muito fácil produzir aquelas notas e acordes. Mas ao observar os movimentos ágeis e precisos do instrumentista, e a expressão de seu rosto num quase transe, nota-se que o entrosamento é resultado de anos de estudo, prática e dedicação intensa. Em tempos em que basta dinheiro para editar vozes e sintetizar arranjos, chamar o resultado de "música" e vender milhões de cópias, é bom demais presenciar a música de verdade sendo feita.

É uma pena que eu tenha descoberto só essa semana que, desde o dia 10 de janeiro, Curitiba está sendo palco de 90 concertos de artistas diversos, parte da programação da 28ª Oficina de Música de Curitiba, que termina no dia 31. Ainda dá tempo de acessar o site e aproveitar algumas das atrações. Muitas delas, como a que eu vi hoje, são gratuitas.

Na volta para o escritório, entrei num sebo chamado Joaquim Livraria. Pequeno, porém cheio de material de qualidade. E estava tocando uma seleção de músicas francesas maravilhosas, fiquei com a maior vontade de perguntar o que era. Mas já eram quase duas horas, e eu nem tinha almoçado ainda! Ainda acabei dando uma paradinha em outro sebo, o Só Ler, bem menos charmoso e com muito mais livros e revistas. A maioria, claro, não vale nada. Pilhas e mais pilhas de revistas velhas de fofoca e resumo das novelas (finalmente descobri algo pior do que as revistas novas de fofoca e resumo das novelas), artesanato e mulher pelada, além de incontáveis volumes de enciclopédias antigas e aqueles detestáveis romances com nome de mulher (Júlia, Sabrina, Bianca). De qualquer forma, encontrei o que eu queria: livros de exercícios de Inglês em diversos níveis, totalmente novos, sem nenhum risquinho sequer a lápis, por R$ 3,00 cada um.

Parei na panificadora da esquina e comprei uma coxinha de frango e uma esfiha de carne, que me serviram de almoço ao chegar ao escritório, esbaforida e muito atrasada. Certamente já cumpri a meta de algo inédito para o dia, mas esse negócio é viciante, e já estou pensando se arranjo um programa legal para a noite, desde que namorido se interesse em me acompanhar em mais uma aventura.

Beijos

domingo, 24 de janeiro de 2010

O projeto segue

De hoje em diante os textos voltam a ter títulos variados. Caso contrário, o sucesso do PCM conduzirá a uma série nada criativa, chegando, talvez, ao "Projeto Cuidar de Mim - parte 1254,5". De qualquer forma, continuarei usando os marcadores "projeto" e "coisas diferentes" para que os assuntos relacionados possam ser facilmente localizados na aba correspondente no menu à sua direita.

Ontem acabei não escrevendo - às vezes fica difícil encontrar tempo para o mundo virtual quando muito nos ocupamos com o real. Mas hoje aproveito a chuva torrencial que frustrou meus planos de um passeio no parque para contar os acontecimentos recentes.

Nesse sábado eu e namorido recebemos três queridos amigos que ainda não conheciam o lardocelar. É tão bom ter visitas! Em primeiro lugar porque é algo que obriga a espantar a famigerada preguiça para colocar a casa em ordem. O prazer de ver tudo limpinho, cheiroso e organizado compensa a trabalheira.

Além disso, amigos sempre trazem uma energia renovadora. Ainda mais quando, junto com o bom papo e os abraços calorosos, presenteiam-nos com flores e espumante para celebrar. Um lanche gostoso, café fresquinho, um cheesecake de damasco e muito carinho foram meus principais artifícios empregados a fim de que eles tenham vontade de voltar sempre.

Hoje fiz uma coisa absolutamente inédita: acordei às 6h da manhã. Num domingo, gente! Fui fazer uma prova de concurso. Aquelas coisas que você pensa: onde eu estava com a cabeça quando fiz a inscrição? Bem, uma vez que a taxa foi devidamente paga e havia uma etiqueta com o meu nome colada numa carteira da PUC, ficar dormindo não me pareceu uma boa ideia, por mais tentadora que ela fosse.

Voltando ao lar, preparei um almoço aplaudido como sempre pelo meu maior fã e apoiador, grande entusiasta de minhas cada vez mais sofisticadas incursões culinárias.

O finzinho do domingo se aproxima, com aquela cara de dia lavado pela chuva. Se vocês me dão licença, vou ali viver e amanhã eu volto.

Beijos

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Projeto Cuidar de Mim - parte 4,5

Uma atualização rapidinha. Depois de almoçar com mamãe e colocar a conversa em dia - pense que não faz nem dois meses que deixei de morar com ela, e antes os papos eram diários - e passar na loja da minha amiga para entregar a encomenda, peguei aquele trânsito gostoso do centro da cidade, escorrendo suor dentro do carro (muito sensual). Claro que Curitiba programou mais uma daquelas reviravoltas típicas do nosso clima. Inverno glacial pela manhã, forno de micro-ondas no almoço, provavelmente no final da tarde uma tempestade tropical e talvez uma nevezinha à noite.

Ainda no clima de coisas inéditas, ao chegar no escritório entrei no site da Federal e descobri que eu passei no vestibular! Ano passado, num dia de tédio, resolvi tentar algo novo e fiz minha inscrição no curso de Gestão da Qualidade. Não me pergunte o que vou fazer com isso, ainda não sei nem se vou concluir essa segunda graduação. Mas o plano então era dar pelo menos uma estudadinha. Porém, com a correria que foi a coisa de montar casa, obras, pedreiros, pintura das paredes (feita por nozes - eu e namorido), escolha de móveis, mil orçamentos e finalmente a mudança, lógico que não rolou.

Pense bem, se eu não consegui compreender nem tampouco decorar as fórmulas de física, cadeias nucleares, equações matemáticas, tabela periódica e sabe-se lá o que mais no 2º grau (na minha época o ensino não era médio), quando estudar era (devia ser) minha principal e praticamente única ocupação, imagine se ia fazer isso agora. Trabalhando o dia inteiro, ainda pra melhorar.

Quando passei na 1ª fase já foi uma surpresa. Fiz 45 pontos (de 80 questões), pensei que tinha ido super mal. Aí quando saiu o desempenho individual, descobri que essa pontuação foi a 2º maior do curso (o 1º foi 46). Essa molecada de hoje deve ser muito tapada mesmo!

A 2ª fase foi só redação. Ou "questões discursivas", como o pessoal resolveu chamar agora, talvez pra tentar não assustar as crianças com a temível palavra "redação". Claro que eu era a única pessoa da sala que não estava em pânico. Primeiro porque escrever é totalmente a minha área, é onde eu me acho. Segundo porque ser reprovada não mudaria absolutamente nada na minha vida. Não ia levar bronca da mãe, nem precisar passar outro ano no cursinho, nem perder a viagem de férias, nem ver os amigos avançando enquanto eu ficava pra trás.

Agora voltei do horário do almoço, entrei no site pra ver a lista de aprovados e... tcharam, lá está o meu nome. Pena que a festa de comemoração não é aqui na Reitoria, se não podia atravessar a rua, me atirar na lama e voltar pro escritório. Pena.

Projeto Cuidar de Mim - parte 4

As pessoas mais interessantes que eu conheço são aquelas tomadas por algum tipo de inquietude interna. Não são necessariamente agitadoras sociais, excessivamente impulsivas ou dadas a manifestações efusivas. Muitas vezes possuem o semblante tranquilo e a fala mansa. Mas ao descerrarem o peito e revelarem o que lhes vai no âmago - coisa que fazem com sobriedade e cautela - é possível ao observador mais atento constatar o que têm em comum. Uma incapacidade de se conformarem, de se acomodarem aos moldes que lhe são sugeridos.

Sabe aquela pessoa com quem um dia, sem saber bem porque, talvez numa mesa de bar, a partir de um assunto aleatório você acabou se enveredando em profundas divagações sobre a origem e o destino da humanidade, elocubrações sobre as razões e o sentido da vida, inspirações mil sobre o sentido do universo? Gente que gosta de pensar um pouco, como se diz, outside the box, ir além do papinho brabo sobre as notícias (?) da vida dos famosos, lidas em revistas e sites de fofocas. Eu confesso que às vezes só de olhar para uma pessoa eu concluo que ela não serve pra esse tipo de conversa, o que é um preconceito da minha parte. É tão bom quando a gente se surpreende com a revelação de um inconformado sob as vestes de um bem-ajustado cidadão. Não é à toa que um dos sinônimos para revelar é rebelar-se.

O que isso tudo tem a ver com o meu projeto pessoal? É que a minha ideia de cuidar bem de mim tem muito a ver com o conselho do professor de Sofia no best seller de Jostein Gaarder: "Não quero que você pertença à categoria dos apáticos e dos indiferentes. Quero que viva a sua vida de forma consciente".


Assim quando digo que estou em busca de algo diferente - um despertar de consciência, novas formas de coexistir, um caminho para algo maior, um sentido para a existência - não significa, necessariamente, que para ter sucesso na minha empreitada, eu precise encontrar alguma coisa. Talvez o sentido esteja na própria busca, a beleza da viagem pode estar no caminho, e não no destino final. Uau, como acordei filosófica hoje. Deve ter sido alguma coisa no café da manhã.


A proposta de experimentar coisas diferentes é toda muito legal, por vários motivos. Sinto-me muito mais viva. É ótimo deitar na cama à noite e lembrar de um dia em que algo, de fato, aconteceu, para além das minhas fantasias e divagações. Tão gostoso saber que não permiti que transcorresse um dia inteirinho da minha vida sem aprender nada, sem conhecer uma pessoa, sem fazer algo de bom pra alguém (nem que esse alguém seja eu mesma). Tão insossos e, até mesmo, tristes eram os dias em que eu acordava, trabalhava, voltava para casa e não tinha nada, absolutamente nada de novo escrito no livro da minha história. Além de tudo, ainda há a vantagem implícita de sempre ter assunto, para falar ou escrever aqui.


O desafio pode parecer muito difícil, mas juro que não é. Quer um exemplo? Algo simples que qualquer pessoa pode fazer pra tornar o dia de HOJE diferente do de ontem: almoce num lugar que você não conhece ainda. Ou, ainda, depois do almoço, em vez de voltar correndo para o escritório, dê uma volta, olhe as vitrines, as árvores, conheça melhor o bairro em que você trabalha. Passando de carro a gente nunca percebe os detalhes. Vá a uma banquinha e compre uma revista de um assunto totalmente diferente do que você está acostumado a ler: games, arquitetura, softwares, ciência, religião. Só fuja das revistas de fofoca, por favor.


Segue resumex das coisas inéditas que fiz essa semana: segunda-feira conheci o Centro de Estudos Budistas Bodisatva e participei de uma meditação e estudo do Budismo Theravada. Na terça, fui a um sebo no horário de almoço e encontrei o fantástico livro da Hellen Keller, The Story Of My Life, em inglês (o que me ajuda a aperfeiçoar o vocabulário), comprei e comecei a lê-lo. À noite conheci o Gaya Yoga Spa e fiz uma aula experimental de Vinyasa Yoga. Na quarta fui passear pelo centro na hora do almoço - e não comprei nada, o que realmente é inédito! - e à noite fiz uma aula experimental também de Vinyasa Yoga no Gandiva (deu pra reparar que estou tentando escolher uma linha e um local para praticar Yoga?). Na quinta fiz mais uma aula experimental, dessa vez de Iyengar Yoga, na Casa Máy. Depois fui ao supermercado exercitar a paciência  (a tarefa é tão enfadonha que faz a gente considerar a hipótese de se mudar pra uma comunidade hippie e produzir o próprio alimento). E, ao chegar em casa, fiz uma dúzia de chocolates eróticos, encomenda de uma amiga. Outro dia posso explicar melhor essa história. Além disso, todo dia tenho lido coisas diferentes na internet - longe dos sites de grandes conglomerados, da imprensa vendida e manipulada.

Agora estou indo almoçar com mamãe num restaurante que ainda não conheço, e depois vou entregar os  caralhinhos chocolatinhos pra minha amiga.

Amanhã prometo dar mais umas ideias para imprimir um ar de novidade nessa sua rotina cansada.

Beijos

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Projeto Cuidar de Mim - parte 3

Hoje vou traçar algumas diretrizes para orientar o Projeto a um resultado prático (ou vários). Em primeiro lugar, todo projeto precisa de um objetivo. O meu, por óbvio, é cuidar de mim. Achou muito vago? Ótimo. Isso aqui é um projeto pessoal, e não um trabalho de conclusão de curso. Não quero delimitar coisa alguma. Quero sim é ampliar!

Então, sem mais suspense, a etapa atual do projeto consiste em fazer coisas diferentes. Só isso? Aham.

Há tempos tenho a nítida impressão de que o meu bem-estar é constantemente ameaçado, em diversas frentes, por um único inimigo, que se disfarça das mais variadas formas: a preguiça. Suas múltiplas facetas: procrastinação, hábito, monotonia, tédio, rotina, costume, prostração, falta de vontade, comodismo, indisciplina.

A preguiça de levantar da cadeira e movimentar o corpo, de aprender uma coisa diferente, de conhecer pessoas, de sair do marasmo, de acordar mais cedo, de levar adiante um plano, de experimentar algo novo, e até de pensar. Esta última é a mais perigosa de todas as formas de preguiça, e, curiosamente, a que atinge a maior parte das pessoas que conheço (provavelmente das que não conheço também).

As pessoas se acostumam a engolir as notícias do jornal como se as emissoras de TV e rádio fossem, de fato, veículos de transmissão da verdade, e não instrumentos de convencimento patrocinados por interesses, muitas vezes, diferentes e até contrários aos nossos. Assistem ao filme com mais indicações ao Oscar e não são capazes de formular uma opinião própria mais aprofundada sem antes ler a crítica da revista semanal. Vêm a novela e têm a capacidade de acreditar que a vida deveria mesmo ser daquele jeito - cobertura à beira-mar, casa de veraneio em praia de luxo, viagens ao redor do mundo em vôos de primeira classe e hotéis 5 estrelas. O próprio espectador, ao constatar que sua realidade está muito distante daquilo tudo, conclui, naturalmente, que sua vida é um fracasso. O pior: numa rodinha de amigos em que todos têm formação em nível superior, quase todos já viajaram por diversos países e falam mais de uma língua, têm ótimos empregos e ganham super bem - ou seja, a suposta elite cultural do país - o assunto gira em torno de uma pequena discussão sobre qual programa é mais legal: A Fazenda ou Big Brother.

Alguma coisa precisa ser feita. Já. Sei bem que é por passar pelo menos oito horas na frente do computador, sentada na mesma posição, cinco dias por semana, que eu tenho dores nas costas, nos ombros e no pescoço, além de um encurtamento muscular horroroso nas pernas e de uma vista cansada, com astigmatismo crescente. Por que eu permito que a preguiça e a rotina me façam mal assim?

É por tomar os relacionamentos por garantidos, que às vezes perco a compostura e ergo a voz com as pessoas que amo. Depois me arrependo. Por estar tão habituada à minha vida, muitas vezes deixo de dar valor e agradecer profundamente por tudo que tenho. Percebe? Ou precisa de mais exemplos?

No livro O Mundo de Sofia (um dos meus preferidos nessa vida), Jostein Gaarder explica que o que diferencia um filósofo das outras pessoas, é que estas se habituam ao mundo, à vida, a tudo que as cerca, e com isso se tornam indiferentes. Segundo o escritor, a principal característica de um filósofo é a capacidade de se surpreender.

Há um texto que me foi apresentado pela minha amiga Letícia - filósofa tanto por formação quanto segundo a definição de Gaarder - que descreve os efeitos da rotina sobre o ser humano. O artigo circula na internet há anos, e a autoria é atribuída a Airton Luiz Mendonça. Consta nos sites pela world wide web afora que o artigo teria sido publicado no jornal O Estado de São Paulo. Porém, em consulta ao site do periódico, não encontrei qualquer referência ao texto ou ao autor. 

Whatever. O que interessa é que o texto é bem interessante e você pode lê-lo na íntegra no site da Lê. Segundo o artigo, em termos gerais, somente experiências novas fazem o cérebro trabalhar pra valer. É que nas situações corriqueiras, repetidas à exaustão dia após dia, a mente funciona em modo automático. E faz todo o sentido, não? O exemplo que o texto dá é perfeito: depois de algum tempo que já aprendemos a dirigir, não precisamos mais ficar pensando "agora vou pisar na embreagem para passar para a segunda marcha, depois soltar da embreagem lentamente, ao mesmo tempo em que vou acelerando. Opa, vou também ligar o pisca avisando que vou virar à esquerda. Que bom seria se eu conseguisse fazer tudo isso e ainda mudar de estação em busca de uma música mais legal". A ação, ou melhor, as múltiplas ações acontecem de forma tão natural que parece evidente que o esforço do cérebro não é mais o mesmo de quando estávamos assimilando todas essas informações. Creio que seja desnecessário explicar os motivos pelos quais considero importante manter o cérebro em constante aprimoramento - embora muita gente prefira exercitar apenas a b... ela forma física.

Da mesma forma que o autor do texto mencionado, eu também vejo o lado positivo da rotina. Além de otimizar as coisas, como ele cita, eu percebo ainda o aspecto benéfico da disciplina. Afinal de contas, não adianta nada eu experimentar uma porção de coisas diferentes, descobrir várias que me servem, que são boas para mim, e não ser capaz de levar qualquer delas adiante. Além disso, há experiências novas que não se esgotam no período de um dia. Fazer um curso, por exemplo. Por isso meu projeto inclui, além de fazer coisas diferentes, incorporar à minha rotina aquelas de que eu gostar mais.
 
Tenho também a regra de que a coisa diferente do dia seja algo que me faça bem (ou, pelo menos, não faça mal). Tomar ácido, cheirar uma carreirinha ou bater o meu recorde pessoal no rodízio de pizzas com 24 pedaços*, portanto, estão fora de cogitação.

Amanhã conto um pouquinho mais sobre o plano que, inclusive, já está em fase de execução.

Beijo

* Realmente já comi 23 pedaços de pizza num rodízio. Mas isso foi praticamente em outra vida. Quando encarnei como ogra, sabe?