sábado, 17 de maio de 2014

Tokaoki

Sei que de vez em quando alguma alma vaga por aqui, talvez em busca de atividade que indique a sobrevida desse espaço. Se esse for o seu caso, vem pra cá ver o que ando aprontando: http://tokaoki.com

Beijos,
Oki

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Hipnagogia produtiva

Sabe aquelas noites em que você demora a pegar no sono, com a cabeça fervilhando de ideias? Muitas vezes até surge algo interessante no emaranhado de pensamentos, e você pensa: "espero me lembrar disso amanhã". Dificilmente lembra, é claro.

Ontem foi uma dessas noites para mim. Em algum momento, com grande sacrifício, estiquei o braço para fora do ninho aquecido debaixo das cobertas e, antes que meus dedos congelassem, alcancei o celular na mesinha de cabeceira e digitei algo. Lembrei disso agora e fui ler. Fiz um esforço para recordar qual foi o pensamento que deu origem à ideia que me pareceu merecer ser registrada à meia-noite e meia.

Lembrei: eu havia acabado de sair de um banho quentinho e relaxante, finalizado com uma mistura de água quente e sal grosso despejada do pescoço para baixo, imaginando as aporrinhações de um dia difícil escorrendo pelo ralo. Deitei na cama e fiquei pensando que aquele pequeno ritual havia me feito sentir bem, independentemente de qualquer comprovação científica confiável de seus efeitos. "É mais fácil viver acreditando em alguma coisa", pensei comigo. E, claro, "mal não faz" e não incomoda ninguém (ao contrário das correntes enviadas por e-mail encabeçadas pela frase "vai que...").

Nesses momentos em que a gente tenta dormir, o cérebro adquire uma capacidade surpreendente de trabalhar com associações rápidas. Daí que por alguma razão me lembrei da teoria do pensamento positivo e todas as suas vertentes e, em contrapartida, das pessoas que dizem crer no poder do pensamento negativo. "Dizem crer" porque, lendo as tais teorias, concluí que a ideia não é bem o que parece. Não sei se os autores da teoria fizeram alguma confusão ou - o que é mais provável - apostaram na polêmica como estratégia de marketing.

Bom, se você nunca ouviu falar no assunto, explico bem brevemente (porque a teoria do poder do pensamento negativo é tão boba óbvia quanto a teoria do pensamento positivo): tem gente que afirma que se você pensar positivo coisas boas acontecerão (mesmo que você não faça nada para realizá-las), certo? Então, tem um outro pessoal que afirma que os otimistas, esses protótipos de Pollyanna, vivem num mundo de ilusões, fechando os olhos para as possíveis dificuldades no caminho e, por isso, não se preparam para lidar com falhas e adversidades. Os pessimistas, por outro lado, esperando sempre pelo pior, tomariam as devidas precauções para evitá-lo, tornando-se assim, bem sucedidos.

Para mim, no entanto, a atitude descrita não é a de um pessimista, mas sim de um realista com tendências ao  otimismo. Uma pessoa realmente pessimista, partindo do pressuposto de que as coisas vão dar errado, desiste delas antes mesmo de tentar. É preciso ter um lampejo de esperança no sucesso para arriscar-se. Ninguém se atreve a coisa alguma quando tem certeza do fracasso. 

Nesse momento do meu monólogo silencioso, um pensamento alheio interrompeu minha linha de raciocínio, mas apenas para corroborar minha ideia. Foi o flash da lembrança da voz de uma amiga, repetindo a frase que aprendeu com sua sábia mãe: "espere pelo melhor, mas se prepare para o pior". "Exatamente", assenti. 

Prossegui lembrando que eu mesma, inclusive, tenho um método que costuma ser extremamente útil em situações difíceis, de medo, angústia e aflição: consiste em visualizar o pior cenário possível e imaginar um jeito de lidar com ele. Pronto, se tenho solução para o pior que pode acontecer, qualquer coisa melhor que isso é lucro. Se tenho um problema no trabalho, por exemplo, o pior cenário provavelmente é a possibilidade da demissão. Penso então no que faria se fosse demitida: enviaria muitos currículos, pediria o auxílio de amigos e conhecidos para encontrar uma nova colocação e, até conseguir, cortaria bruscamente os gastos. E se a coisa ficasse ainda pior, o mercado estivesse em recessão, meu currículo não interessasse para ninguém? Então eu cogitaria mudar de área de atuação, talvez fizesse um novo curso, vendesse docinhos, sei lá. Tenho marido, mãe, sogros, amigos, gente para me dar força enquanto eu precisar. Passar fome eu não vou. Pra que desesperar?

Mas seria absurdo dizer que, ao pensar no pior, estou sendo pessimista. É de extremo otimismo (quase pollyannístico) a atitude de visualizar uma solução para o pior cenário. É acreditar que sempre existe uma saída. A trilha sonora dessa ideia foi "Always look on the bright side of life":



Não lembro se mais alguma coisa pipocou no meu pensamento antes de brotar o texto que digitei rapidamente no celular, tomando o cuidado de manter a tela voltada ao meu lado da cama, de modo que a luz do visor não fizesse meu marido despertar de seu sono profundo. O que digitei foi isso (apenas corrigi  agora alguns erros de digitação e incluí o link de referência):

O problema do pessimismo é que ainda gostamos demais de ter razão. Diferentemente de Ferreira Gullar, para a maioria de nós, ter razão ainda importa mais do que ser feliz. Não é por mal. É um mecanismo de defesa, malandragem do ego. Então nos autossabotamos só para provar para nós mesmos que estávamos certos.
É claro que não faz sentido algum, mas isso acontece num nível inconsciente. Como no caso das pessoas que adoecem por falta de autoestima, e se gostam menos ainda porque a doença as tornou mais feias e frágeis. Ou aquelas que sentem tanto medo de sofrer num relacionamento que acabam com todas as chances de ele dar certo. Gente que tem tamanho pavor de se decepcionar que não dá chance para algo de bom acontecer. Por que fazem isso? Talvez por medo de não saber lidar com a felicidade, acomodando-se na insatisfação que já é terreno conhecido. Difícil saber ao certo.
O fato é que as pessoas não acordam um dia e pensam: "Tive uma ideia! De hoje em diante, serei infeliz! Vou enxergar somente os defeitos nas pessoas e esperar o pior de todas as situações! Dedicarei todos os meus esforços a levar uma vida absolutamente miserável." Ninguém decide conscientemente que vai ser infeliz, embora seja perfeitamente possível - e eu diria até recomendável - fazer a escolha CONSCIENTE de ser feliz. 

Ao final desse pensamento, devolvi o celular à mesinha de cabeceira, meti os braços debaixo das cobertas e tomei a decisão consciente de adormecer. Feliz.

Ps.1: Hipnagogia – (Grego: hipnos, sono; e agogós, condutor) – Condição crepuscular de transição da consciência entre o estado da vigília física ordinária e o estado do sono natural. É um estado alterado da consciência.
Ps.2: O título original desse texto era "Ideias sonolentas", e decidi alterá-lo após um amigo comentar: "Hipnagogia produtiva" e eu achar o termo bem mais interessante. De fato, eu até podia estar sonolenta, mas não minhas ideias, que foram até bastante lúcidas, como comentou depois o mesmo amigo (Sandro de Paula). Enfim, convenhamos que era um título bobo.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Cada um por si?




Talvez uma das mais tristes e preocupantes consequências de vivermos cercados de pessoas egoístas seja a dificuldade de confiar. É que quem só pensa em si mesmo sequer reconhece como traição suas mentiras ou omissões mal intencionadas. Talvez por falta de consciência, por excesso de autoindulgência ou pela simples ausência de um autoexame, essas pessoas consideram naturais e justificáveis todas as suas ações, não se importando com quem ficar ferido pelo caminho. Cada um que cuide de si!

E é tão bom poder confiar! As pessoas em quem confiamos formam uma rede de proteção sob o picadeiro da vida. Na maior parte das vezes, elas nem precisam fazer nada: basta sabermos que estão lá para saltarmos sem medo. Elas não precisam ser perfeitas nem mesmo iguais a nós. Podem errar, contrariar nossas opiniões, pensar diferente, jogar duras verdades em nossas faces, mas não nos afagam com falsos sorrisos. 

Os egoístas têm a grande capacidade de simplesmente não se importar. O sofrimento, a opinião, o desconforto e a discordância alheia não lhe incomodam. Basta que seus interesses e desejos sejam atendidos. É impossível contar com alguém que menospreza a empatia.

Mas é preciso ter cuidado. Não devemos deixar que os egoístas nos arranquem do peito a alegria de confiar. Porque o problema de se cercar de defesas é que os mesmos muros que nos protegem das coisas ruins, mantêm também afastadas as coisas boas. 

O melhor mesmo é manter o coração aberto! E quanto aos que não valem o nosso afeto nem merecem nossa confiança, saibamos tolerar, relevar e, finalmente, perdoar. Afinal, mesmo os egoístas e insensíveis trazem lições que, se tivermos a sorte de aprender direitinho, poderão nos ser úteis um dia.