Cuidar melhor de mim não é exatamente uma meta de ano novo por dois motivos: o primeiro é que não foi uma decisão tomada há 6 dias; o segundo é que não é uma determinação com prazo de validade, e mesmo que houvesse ele não seria de apenas doze meses.
Dito isso, quero registrar desde já alguns avanços. Antes, ainda, confesso que a tarefa – que deveria ser bastante simples – pareceu-me excessivamente complexa. Como um jogo de sudoku (novo vício) em que não sei por onde começar. O tempo transcorre enquanto observo os quadrinhos e seus poucos algarismos iniciais. Linhas, colunas, quadrados. Busco uma solução lógica que assegure a colocação perfeita do primeiro número. A partir dele, sei que os outros virão.
Assim tem sido a observação da minha vida. Sim, antes de começar a organização, é preciso observar, detectar falhas, traçar algum plano. Decidir o que deve ser dispensado, determinar onde guardar o que está fora de lugar, perceber o que está faltando e como/onde conseguir. Porém, quando não se sabe nem por onde iniciar o plano, bem, estagnar não é uma boa escolha. A contemplação deve ter fim, e a ação deve começar, de um jeito ou de outro. Como disse
Regina Brett, “
when in doubt, just take the next small step” (quando estiver em dúvida, apenas dê o próximo pequeno passo).
É óbvio que não sou a única com a sensação de que algo está faltando, algo está errado, algo está incomodando, sei lá, algo tem que mudar. Por alguma razão, eu sempre soube (porque, é claro, eu mesma decidi isso) que não teria força de vontade para me empenhar na implementação de melhorias em outras áreas da minha vida enquanto a afetiva estivesse uma bagunça. Cada pessoa sabe (ou deve saber) por qual prateleira começar a arrumar o armário. Qual cômodo deve receber prioridade na hora da faxina. Porque se não der tempo de limpar tudo... Não é?
Então agora essa área está muito bem, obrigada. Mas perceba: eu disse que está bem, não disse “resolvida”. Qual a diferença? Simples: o amor guardado dentro da gente, buscando quem o mereça, não é exatamente um problema que careça de solução. Além disso, e mais importante ainda, “solução” pressupõe “desfecho”, “termo” (até mesmo na medida em que representa o fim de um problema), e o amor está longe disso.
Amor é cultivo. É diário. É contínuo. Muitos amores terminam não por motivos terríveis como traições e desilusões, mas por mera desatenção. Há casos em que a sintonia termina (ou simplesmente se constata que ela nunca existiu), e terminam lado a lado dois desconhecidos. Em outros, a intimidade é superestimada e termina o encanto. Grosserias, indelicadezas, descontar frustrações. Logo com a pessoa amada? Como assim? Descontar no chefe seria melhor, mas ninguém o faz.
Existem casos, também, em que uma pessoa tem grandes sonhos, e seu par não oferece um mínimo de suporte, sequer emocional. Em alguns casais, há aquele que brilha, que se destaca, que cresce, e o outro fica à sombra até desaparecer. Em outros, a ternura simplesmente se esvai, na rotina cinza e fria, e então quais os motivos para permanecer ao lado de alguém sem carinho, solidariedade, respeito, cumplicidade, calor? Tem também aqueles que se unem exclusivamente por atração física, que não basta para segurar a barra do dia-a-dia.
Deve haver ainda outras milhares de possíveis razões para um amor não sobreviver, e apenas uma para que ele prospere: a vontade de ambos. Aquele cuidado constante e eterno por quem a gente quer bem.
No casamento dos meus amigos Tati e Felipe, o celebrante (Des. Salvatore Astuti) disse que quem quer ser feliz deve continuar solteiro. Casamento é para quem quer fazer feliz. Ontem fez um mês que eu e o Dé estamos morando juntos, e nesse tempinho tenho confirmado, a cada dia, a verdade desse pensamento.
Não tenho nenhuma dúvida de que o sucesso de uma união só é possível quando ambos estão dispostos a abrir mão de muita coisa em nome da felicidade de seu amor. Assim, nenhum fica desatendido, já que um cuida do bem estar do outro. Não tem lugar para egoísmo numa vida a dois, pelo menos não numa que seja feliz.
É por isso que o Dé vai de ônibus para o trabalho e deixa o carro dele comigo quando tem reunião muito cedo, pra que eu possa dormir mais um pouquinho. É por isso que eu preparo algo para comer à noite mesmo que eu não esteja com fome. É por isso que ele lava a louça depois que eu termino de cozinhar. É por isso que eu lavo as roupas dele. E assim por diante. Também por isso que a gente conversa, compartilha, acrescenta e apoia um ao outro, sonha junto.
Dizer que o amor requer cuidados contínuos pode dar a impressão de que é um trabalho desgastante, quando, na verdade, é a coisa mais gratificante que existe. Mas, por falar em gratificação, isso leva à próxima prateleira que pretendo arrumar. Estando a afetiva em ordem (e em constante manutenção), é hora de começar a dar um jeito na material.
Eu não gosto de falar de projetos em andamento, e sim de resultados, portanto, aguardem novidades. Mas tenham paciência! Como eu disse, cuidar de mim não é a meta do ano, e sim de uma vida. Apesar da pressa para organizar a minha vida no aspecto material, isso exige cautela e passos precisos. Talvez as próximas notícias não cheguem nesse ano ainda. Mas chegarão.
By the way, feliz 2010!
Beijinhos