segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O convite - Flertando com a mudança.

Este texto é o 2º de uma série. Clique aqui para ler o anterior.

Matrix é um dos meus filmes preferidos. O primeiro, não os outros dois que completam a trilogia, trazendo interpretações e analogias forçadas, e deixando de responder as perguntas que eles mesmos propõem. O Matrix "original" é um filme completo em si, que dispensaria qualquer complemento. 

O que me encanta na trama é a possibilidade de se transpor a metáfora para incontáveis situações. Em Matrix, os seres humanos vivem presos em habitáculos atarraxados a máquinas que extraem energia de seus corpos,  enquanto suas mentes acreditam estar vivenciando uma existência que, na verdade, não passa de realidade virtual. 

Não é difícil visualizar situações às quais a metáfora se aplica. As reservas naturais do nosso planeta vão se esgotando e a maior parte das pessoas não se sente minimamente responsável por isso. Muitas apenas exclamam: "que horror! As pessoas deviam se envergonhar". O país segue imerso num mar de corrupção, e o assunto que corre solto é a novela, o Big Bosther, os desfiles do Carnaval. Uma pequena atitude de cada pessoa que vive em condições dignas poderia mudar o destino de incontáveis desafortunados pelo mundo afora, mas é difícil pensar nesse tipo de coisa quando a única preocupação é saber qual a próxima balada imperdível. 

Muita gente das classes mais endinheiradas acumula posses e viaja pelo mundo todo, sem a menor intenção de saber como vivem as pessoas dos países que visita. Há ainda os que se consideram benevolentes, por atirar migalhas a um povo morto de fome. Para religiosos, a ideia da Matrix pode se aplicar  de forma análoga àqueles que ainda vivem na ilusão da matéria, sem enxergar nada além desse plano.

Em qualquer dessas situações, a escolha entre a pílula vermelha e a azul representa, respectivamente, despertar para uma realidade que nem sempre é mais bonita, ou permanecer na ilusão. Nem todos os seres viventes têm a chance de fazer essa escolha. É necessário um mínimo de inquietação interna em busca da verdade para que a oportunidade apareça.

No filme, essa opção é oferecida ao protagonista Neo por Morpheus. Para mim, o convite para uma nova realidade foi feito pelo Yoga. Ao começar a conhecê-lo, percebi logo que, embora muitas pessoas sejam capazes de praticá-lo por anos a fio sem, no entanto, vivenciá-lo, há nele muito mais que um simples exercício físico ou de meditação: é um caminho de autoconhecimento.

Sendo assim, os primeiros sinais de transformação que o Yoga trouxe para minha vida foi uma consciência maior do meu próprio corpo. Também não foi difícil perceber que praticamente todos os instrutores de Yoga são vegetarianos. Dali em diante comecei a experimentar, por alguns dias, como seria minha rotina sem a ingestão de carne, e foi muito mais fácil do que eu esperava.

Também passei a prestar mais atenção ao meu processo digestivo quando comia e quando rejeitava carne. A diferença foi gritante. Na primeira hipótese, sentia-me mais bem disposta, mais leve. Por mais que exagerasse na comida, não precisava de um dia todo "lagarteando", como acontecia depois de uma orgia gastronômica numa churrascaria.

O problema é que minha única razão para ser vegetariana, até então, era o meu próprio bem estar físico. Talvez alguém me pergunte: "e isso é pouco?". Sim, é muito pouco. Infelizmente, assim como a maior parte das pessoas, eu não tenho amor próprio suficiente para deixar de fazer alguma coisa simplesmente porque me faz mal. 

Se não fosse assim, não existiriam mais fumantes, num tempo em que temos toda informação acerca dos malefícios do fumo à nossa disposição. Ninguém mais contrairia doenças sexualmente transmissíveis por ir para a cama com alguém que mal conhece sem usar proteção. Nenhum acidente automobilístico seria causado por embriaguez. Aliás, dificilmente alguém se embriagaria. Nem usaria drogas.

Difícil encontrar alguém que não saiba dos prejuízos que advêm do consumo excessivo de alimentos industrializados, açúcar refinado, manteiga, gordura trans, agrotóxicos, frituras, conservantes. Saber disso, porém, não impede que milhões de pessoas tenham doenças relacionadas à alimentação, como obesidade, colesterol elevado, problemas cardíacos e gástricos, só para citar algumas das mais comuns.

A verdade é que a maioria de nós não se ama o suficiente. Ao saborear um doce com mais calorias do que as necessárias para dois dias de atividade intensa, não costumamos pensar em quanto dele vai entupir nossas artérias e quanto vai virar celulite em nosso (pouco) amado traseiro.

E nas academias de ginástica, quantas pessoas estão realmente empenhando seus esforços na construção de um corpo mais saudável, e não somente mais bonito? Não é à toa que muitos jovens não se importam em sobrecarregar o fígado com excesso de proteínas, desde que isso enrijeça sua musculatura. Tantos maltratam o próprio corpo com anabolizantes, forçam o metabolismo com estimulantes, e consomem toda sorte de porcaria que um amigo bombado indicou. Saúde? Pfff... Quem se importa?

Diante disso, naturalmente, não havia em mim convicção para uma mudança de hábitos que, naquele momento, parecia extremamente drástica. Mas a ideia persistia rondando meus pensamentos.

Além de tudo, mesmo meus lânguidos esforços em favor da minha saúde precisavam de um embasamento maior do que a simples sensação de bem estar. Eu não estava tão disposta a confiar tanto em mim mesma. Foi então que minhas pesquisas tiveram início.

(continua)

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