terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Comer carne é mesmo uma necessidade biológica? (parte 1)

Este texto é o 3º de uma série. Clique aqui para ler os anteriores.

Não pretendo me aprofundar muito nas características biológicas que identificam os animais classificados como herbívoros (alimentam-se de vegetais, exemplo: vaca), carnívoros (alimentam-se de animais, exemplo: leão) e onívoros (alimentam-se de qualquer coisa, exemplo: porco). Existem diversos estudos sobre o assunto facilmente encontrados na internet, escrito por gente muito mais autorizada do que eu: médicos, nutricionistas, cientistas, engenheiros agrônomos, veterinários e outros.

Como em qualquer discussão polêmica, cada parte procura favorecer o seu ponto de vista como se disso dependesse sua própria vida. Assim, temos de um lado defensores ferrenhos do consumo de animais, com seus argumentos biológicos e, principalmente, culturais, embora estes se confundam com aqueles. De outra parte, vegetarianos não se satisfazem em explicar sua opção, mas angariam em todas as áreas do conhecimento raciocínios que comprovem que são eles, e não os demais, que estão certos.

Na linha dos argumentos biológicos, não existe consenso. É fato que o organismo humano difere absolutamente do carnívoro. Em muito se assemelha ao herbívoro, mas apresenta também características em comum com o onívoro.

Alguns pontos são mais frequentemente analisados nos trabalhos classificatórios de animais por hábitos alimentares. O primeiro deles é a dentição. Carnívoros possuem dentes bem diferentes dos demais animais: pontudos, afiados, feitos para dilacerar a carne e engoli-la aos pedaços. Carnívoros não mastigam. Se você tem um cachorro, já deve ter observado que qualquer coisa que ele abocanhe desaparece imediatamente.

Herbívoros possuem dentes chatos e largos, próprios para a mastigação. Onívoros têm dentes de todos os tipos. Muita gente acredita que esse seria um ponto de semelhança com os onívoros, afinal, nós temos dentes caninos. Minha opinião é de que, a não ser que você seja um vampiro, seus caninos devem ser ridiculamente pequenos como os meus, e não servem para dilacerar a carne crua de um animal. Por isso você precisa de um garfo e de uma faca. Além disso, gorilas só se alimentam de frutas e têm dentes caninos enormes (maiores até que os de um vampiro!). Vários herbívoros possuem grandes caninos.

Outro ponto bastante discutido é o fato de os humanos, assim como os herbívoros, possuírem enzimas digestivas presentes na saliva. Isso acontece porque nossos ácidos estomacais são dezenas de vezes mais fracos que os dos carnívoros. Assim, nós precisamos mastigar bastante e enviar para o estômago um alimento "pré-digerido". Os herbívoros são capazes de digerir alimentos que os carnívoros não conseguem, convertendo matéria vegetal em proteína.

A principal diferença entre os humanos e herbívoros, arguida com grande animação pelos defensores do onivorismo, é o fato de que nós temos, no estômago e no intestino, enzimas capazes de processar carne. Bem, elas certamente são capazes de digerir carne de gente (e outras coisas mais nojentas que preferi não escrever para você não vomitar), nem por isso tenho visto maminhas humanas nos cardápios de restaurantes por aí. E os próprios cientistas responsáveis por essa grande descoberta afirmam que isso é resultado da dieta adotada pela espécie. Ou seja: temos essas enzimas por que comemos carne há milênios, e não o contrário.



"É sempre nobre, generoso e necessário, falar em erros cometidos, enquanto se podem remediar."
Eça de Queirós
(continua)

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