sexta-feira, 19 de março de 2010

Você já se apaixonou por alguém?

Talvez a pergunta pareça estúpida, mas minha curiosidade provém do fato de que eu, em 28 anos e 7 dias de vida, só me apaixonei por uma única pessoa. Se alguma das minhas amigas estiver lendo esse texto, certamente está achando que eu sofri uma grave amnésia ou que depois de tanto tempo sendo sincera, resolvi inovar virando uma mentirosa. Nenhuma coisa nem outra.

No passado, todas as vezes em que sorri ou chorei envolta em uma nova paixão, não era por uma pessoa real que eu suspirava, mas sim por uma pessoa ideal. Um ser idealizado não ultrapassa os limites de sua própria definição: uma ideia.

Construir a pessoa ideal não é difícil. Fiz isso tantas vezes que poderia até redigir a receita. 

Pessoa ideal
 
Você vai precisar: a) da soma das suas aspirações românticas; b) de imaginação; c) de carência a gosto.

Misture os ingredientes e derrame na forma de sua preferência. Pode ser aquele cara gato da academia que você nunca ouviu falar uma palavra além de bom dia, mas uma vez preenchido com o conteúdo ideal, vai se transformar imediatamente em alguém que você apresentaria com a mesma satisfação aos seus amigos, à sua família e aos seus colegas de trabalho. Culto, divertido, carinhoso, educado e bom de cama. Perfeito.

Pode ser também o vizinho novo, que você viu uma vez na garagem e outra no elevador. Você ouviu o porteiro chamá-lo de Doutor, então já passou a fantasiar com o dia em que ele a chamará para jantar, fascinado pelo seu sorriso encantador e ar de mistério. Obviamente, ele mesmo vai cozinhar, num dia em que não estiver de plantão - um oftalmologista, talvez? - e puder recebê-la em seu apartamento muito bem decorado. Apertará o play e a trilha sonora conterá todas as suas canções preferidas.

Mas pode ser alguém mais próximo. Talvez o cara com quem você está saindo. Ele faz questão de rachar a conta desde a primeira vez em que a convidou para jantar, mesmo tendo sido ele quem escolheu o local e até mesmo o vinho. Mas você nem pensa que ele talvez seja pão-duro. Com certeza ele valoriza a sua independência profissional e financeira. Um homem moderno. Você já descobriu duas ou três coisinhas que não condizem com informações que ele mesmo forneceu a respeito dele. Mas você deve ter se confundido, não é que ele tenha mentido. Ou talvez ele tenha aumentado um pouco as coisas só para impressioná-la, o que deve ser um bom sinal. Não?

É possível passar meses e mesmo anos amando uma pessoa ideal, sem perceber - ou evitando enxergar - que a pessoa real que dá vida aos movimentos de nosso personagem perfeito é absolutamente diferente do que gostaríamos. Eu já passei pela sensação numa relação de que quando é bom, é ótimo, mas quando é ruim, é a pior coisa do mundo. E depois de um tempo comecei a notar que havia muito mais momentos ruins do que os bons.

Analisando com mais cuidado, percebi que os numerosos momentos de infelicidade eram justamente aqueles em que eu entrava em contato com a pessoa real. Seus insuportáveis defeitos, suas faltas intoleráveis. Quem é essa pessoa?, eu pensava. Alguém capaz de me magoar, de não entender minhas melhores piadas, não segurar minha mão na rua? Alguém que tem ataques de ciúme, que troca minha companhia por outros programas, que não tem um abraço infinito? Quem é esse cara que inventou bobagens para me conquistar, que mentiu descaradamente, que subestimou minha inteligência? Quem é esse desconhecido que não apoia meus sonhos, que duvida da minha capacidade, que não sabe ser generoso?

Muitas vezes fechei meus olhos porque não queria ver. É triste admitir a derrota. É difícil reconhecer que investimos tanto numa ilusão. Mas nada mais infeliz e patético do que insistir no engano, enquanto a realidade grita desesperadamente para sair de dentro do pequeno baú em que se encontra acorrentada.

Um dia conheci um homem de verdade. Não havia nada além de verdade no modo como ele me olhava, nos sorrisos que me dedicava, mesmo antes que qualquer um de nós soubesse que o interesse era recíproco. Era tudo verdade no seu passado, na sua família, na sua vida. Só verdade preenchia nossos encontros, nossas conversas, nossa saudade, nossos desejos, nossos planos para o futuro. 

Eu logo me apaixonei. Não queria saber de mais ninguém, os casos pretéritos pareciam tão distantes que mal me lembrava de seus nomes, mesmo daqueles que ainda telefonavam e não eram atendidos. No dia em que nos beijamos pela primeira vez, senti que o tempo podia parar ali mesmo. O coração se dividia entre a ansiedade pelas delícias do porvir e o medo de que elas não viessem. Ele era tudo que eu queria.

Ele me atraía sob todos os aspectos: física, intelectual e afetivamente. Tratava-me com respeito e admiração, demonstrava o desejo mais intenso que já conheci, olhava para mim como se eu fosse a mulher mais linda do mundo. Tinha o maior interesse em desvendar cada característica minha e me fazia rir. Devo confessar que senti medo de estar, mais uma vez, amando uma criação da minha mente fértil.

A certeza de estar apaixonada por uma pessoa real só veio quando descobri, satisfeita, que ele não é perfeito. Ele tem seus defeitos e às vezes erra. Jamais seria irresponsável comigo e com meus sentimentos, mas nem sempre sabe a forma certa de agir. E nada disso o torna menos apaixonante, menos amável. 

Reconhecer nele um ser humano e, portanto, sujeito a falhas, foi reconfortante. Felizmente ele não é perfeito, caso contrário, não existiria. E, se existisse, eu não o mereceria. Ele é apenas uma pessoa real, característica que, somada a todas as demais, torna-o apto a ocupar de modo vitalício o lugar de amor da minha vida.

Não preciso me refugiar num mar de fantasias, nem esperar eternamente por impossíveis mudanças de comportamento ou de caráter. A realidade é uma delícia! Momentos ruins são tão raros, tão pequenos, tão facilmente superáveis, que se perdem no tempo, no esquecimento. Os momentos de felicidade se sucedem com tanta naturalidade que não precisamos nos agarrar à lembrança de um deles com a esperança de que um dia retorne. 

Agora, pense de novo e me responda: quantas vezes você se apaixonou por uma pessoa real? Esse alguém que ocupa seu coração e seu pensamento hoje é de verdade ou pura imaginação? Se após um exame acurado o diagnóstico for ilusionite aguda, não se desespere, isso tem cura.

Talvez o tratamento exija apenas a aceitação das pessoas como são. Defeitos muitas vezes são o que fazem o charme de alguém. Além disso, todos passamos por algumas penas na vida que desenvolveram nossos calos. Ninguém está livre disso. Acrescentar uma dose de compaixão ao olhar e enxergar a situação como um todo pode nos fazer menos críticos e mais tolerantes.

Existem defeitos, porém, que não merecem ser suportados. Um cara que não a respeita, que não a trata como prioridade, que não se comove com seu sofrimento e não faz planos com você não merece esforço. Um homem que trai, que não é seu melhor amigo, que não deseja ardentemente fazê-la feliz é um desperdício de tempo. Se os defeitos dele constam numa lista de coisas abomináveis para você - não para mim, para suas amigas ou para sua mãe, mas para você -, não perca seu tempo tentando transformá-lo. Parta hoje mesmo em busca da realidade.

Ela pode parecer assustadora no começo, mas eu garanto que, enquanto o seu coração bater, você terá forças para enfrentá-la. Confie em mim. Não é que um dia você acorda e percebe que está vivendo seu sonho. A grande sacada é que, quando você aprende a amar alguém de verdade (começando por você mesma), com todas as dificuldades que isso implica, qualquer dia da realidade é mais gostoso que a mais bem elaborada de suas fantasias. Sonhar é bom, mas delícia mesmo é acordar.

Beijos!

11 comentários:

  1. Eu acho que o exemplo do cara da academia é lenda... sério que tem gente que passa por isso? ;)

    Bjo!

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  2. Jamais, Kelly! Duvido! É minha imaginação fértil que ataca novamente! huahahahahahaha

    Bjo!

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  3. fiquei com inveja.
    da ruim, mesmo (que eu nem acredito na "boa").

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  4. Fiquei com inveja também!! Mas discordo do comentário da Vanessa, que diz só existir a ruim.

    A inveja boa é aquela que faz você querer ter o mesmo que a outra pessoa, mas não desejar que ela perca o que tem. Deu pra entender?

    Você apenas admira a situação, quer passar por ela também, mas espera, de coração, que ela se perpetue na vida do "invejado", mesmo porque, são casos como o teu, Oksana, que me fazem não perder a esperança, me fazem acreditar que a felicidade a dois existe e não precisa, necessariamente, ser o martírio que a maioria das pessoas diz que é. =D

    Oksana, o texto está liiindo, liiindo... Ainda estou esperando o tal "homem da minha vida", e fico feliz por ver que alguém já encontrou.

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  5. Oksana,
    eu já me apaixonei muuuuuiiitas vezes! O bom da vida é viver apaixonada! Não precisa ser para sempre a paixão por uma pessoa, basta que seja intensa enquanto dure. Agora, só uma pessoa me fez ficar muito tempo apaixonada, aquela com quem estou há mais de 30 anos... Muito lindo seu texto. Beijos.

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  6. Nossa, Oksana, eu também só me apaixonei uma vez. E eu tenho certeza de que era realmente o meu grande amor, mas eu não fui correspondida. Os objetivos dele não eram os mesmos que os meus para iniciarmos uma relação.
    Eu que sou emotiva, piegas, romântica e chorona acredito que só existe um amor, e se não o tenho, é melhor ficar sozinha pelo resto da vida (lendo Cinco Minutos do José de Alencar e chorando feito uma tonta por não ter a mesma sorte da Carlota).
    Se em vez de "a" tivesse "ota" no meu nome, talvez minha sorte fosse outra.

    Adorei o post.
    Beijos!

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  7. Engraçado vir aqui e ler justamente sobre isso! Há tps que venho pensando nessa coisa de paixão, e particularmente na semana que li seu texto andava oscilando entre a derrota de admitir que fiz outra má escolha e orgulho de constatar que desta vez agi com toda honestidade que sou capaz.

    (manda a verdade que se diga que ser honesta não me trouxe vantagem alguma, pelo menos aparentemente!)

    respondendo: sim. Uma única vez. Essa descoberta é recentíssima e seu texto tem o mérito de clarear as idéias que se batiam na minha cabeça de vento. Infelizmente o moço não pôde corresponder a contento, o que faz a coisa parecer perder todo o sentido, mas enfim...

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  8. Eu tbm tenho um amor maravilhoso!! Aiai.. como amo!! rss bjs.

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  9. Eu ja me apaixonei sim, mas é a tal coisa que eu ando fugindo. Sinceramente? Não tenho mais nenhuma ambição romântica...

    Não mesmo

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  10. Sinceramente foi uma paulada (o texto) e eu to me recuperando pra poder te responder... rsrs

    Beijos

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  11. tá, mas e o blog? num volta? :(

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