quarta-feira, 10 de março de 2010

Crescer (parte 2)

O desenvolvimento de um filhote da espécie humana acontece de forma muito vagarosa. Outros mamíferos, poucas horas após o nascimento, já estão saltitando por aí. Nós demoramos meses para conseguir sentar, rastejar, engatinhar. Um tempão para andar. Na vida social não é diferente. Levamos anos treinando para nos relacionar, e muita gente morre de velha sem ter aprendido.

Após as lições da infância, passamos a ter as primeiras incursões à selva da adolescência. Precisamos nos virar sozinhos num ambiente hostil. Não importa o que aconteça, nessa fase da vida está totalmente fora de cogitação chamar a mãe ou qualquer adulto responsável para resolver a querela.

Adolescentes são muito mais cruéis que as crianças. Identificam o ponto fraco da vítima e agridem sem piedade, numa atitude instintiva de se defender por meio do ataque. E são covardes: agem sempre em bandos. Não há graça em inventar um apelido jocoso para um colega se não tiver uma turma toda para rir dele. Não há sentido em desafiar as autoridades pichando um muro se não houver uma plateia para consagrar o "herói". Falta coragem para humilhar alguém sem o incentivo dos demais.

A verdade é que impera um medo tão grande de ser o próximo alvo, que todos permanecem em constante vigília, a fim de garantir que o grupo tenha sempre alguém a ser ridicularizado. Tudo dentro da filosofia "antes ele do que eu". 

A solução, mais uma vez, é a adaptação ao meio. Que, nesse caso, é quase sempre sinônimo de homogeneidade. Num grupo de adolescentes, todos procuram imitar uns aos outros em tudo. Sendo todos iguais, as chances de ser vítima de chacota por se encontrar fora dos padrões é diminuta.

Alguns raros espécimes humanos possuem uma estrutura emocional tão fortalecida que simplesmente não se incomodam. Adoram ler e estudar, tiram boas notas, participam das aulas, entregam trabalhos em dia, mesmo que isso signifique ser o último escolhido na formação dos times na aula de educação física. Vestem-se como bem entendem, mesmo que seu estilo renda muitas piadas. Mesmo esses, porém, costumam buscar abrigo entre seus semelhantes.

Independentemente das características do grupo como todo, poucas diferenças se notam entre os indivíduos que o integram, sejam eles nerds, emos, skinheads ou patricinhas. Ali, dentro do conjunto, cada um de seus componentes sente-se seguro, por mais assustador que o resto do mundo possa parecer.

(continua)

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