terça-feira, 9 de março de 2010

Crescer (parte 1)

A nossa vida social começa, no mínimo, quando nascemos. Digo "no mínimo" porque há especialistas que afirmam que o início dela seria intra-uterino. É certo, porém, que do nascimento em diante passamos a nos relacionar com outras pessoas. Geralmente com a mãe, muitas vezes com o pai, ou com aqueles que fizerem esses papéis.

Conforme crescemos, esse núcleo de relações se amplia cada vez mais. Conhecemos os amiguinhos na nossa rua (as crianças de hoje não sei, talvez numa comunidade do Orkut?), os colegas e a professora na escola. Para quem se sentia seguro no núcleo familiar, essa transição pode ser um desafio. Para os que não encontraram segurança nem mesmo no seio familiar, ampliar a rede social pode parecer ainda mais ameaçador.

A solução é a mesma adotada pelo ser humano sempre que se depara com situações desafiadoras: adaptação ao meio. A maior parte das crianças não tem dificuldade para perceber que, no meio social, as consequências para suas ações são diferentes das que acontecem em casa. A professora não dá chinelada no traseiro (se der, denuncie) nem proíbe de jogar video game, mas pode mandar para a diretoria, dar nota baixa, enviar um bilhete relatando a ocorrência para os pais. Isso, claro, para  quem teve a sorte de não nascer no tempo de ajoelhar no milho, usar orelhas de burro, ficar de cara para a parede.

Entre os amigos e colegas, o jogo das ações e reações é ainda mais misterioso. Em pouco tempo, porém, já é possível saber que tipo de atitude faz sucesso e o que pode conduzir ao ostracismo social. Assim, no meio de uma massa razoavelmente homogênea, brotam pequenos agitadores sociais, rebeldezinhos encrenqueiros, miniaturas de humoristas (oi?) e, claro, os párias pré-púberes.

Dentre estes últimos, muitos têm características físicas definidas como impróprias, por um consenso geral que jamais precisou ser declarado. Mesmo que ninguém ensine, crianças sabem que as vítimas perfeitas são os baixinhos, gorduchos, narigudos, feiosos, orelhudos. Outros tantos conservam adereços da infância por mais tempo do que o autorizado (pelo mesmo consenso geral mudo): usam um gorrinho de lã com pompom feito pela mamãe para ir à escola na quinta-série - uma classe frequentada por adultos super-maduros de cerca de 11 anos. É o fim!

Há ainda os clássicos indesejáveis: os nerds. Como ousam gostar de estudar, tirar notas altas, ter a leitura como hobby e ir mal na educação física? Para muitas pessoas, a única vergonha maior do que ser nerd na escola é ser aquele menino tão tímido, mas tão tímido, que por vergonha de pedir para ir ao banheiro, fez xixi na calça.

(continua)

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