terça-feira, 10 de agosto de 2010

Cuidando do meu nariz!

Bem, queridos, estou de volta ao trabalho. Oi? Você não sabia que eu estava de férias? Sim, claro, estava ocupada demais fazendo nada para vir aqui e escrever que estava de férias. Mas agora acabou. 

Em sentido geral, pode-se dizer que voltar ao trabalho é uma coisa boa. Significa que sou um ser humano capaz e produtivo, que tenho uma ocupação, um meio honesto de obter uma contraprestação por meus serviços, possibilitando que eu pague minhas contas, adquira coisas que eu quero, realize sonhos, conquiste objetivos. Em sentido estrito, porém, significa apenas que em vez de estar de pijama embaixo das cobertas vendo Two and a half men estou com as mãos congelando no teclado, cheia de prazos a cumprir. Saco.

Essas minhas férias fugiram completamente à ideia glamourosa de viajar, escapar desse frio tenebroso, conhecer outros lugares, tomar marguerita no bar da piscina, aquela coisa básica. Tirei duas semanas para incorporar a sabedoria dos nossos irmãos ursos e hibernar. Passei tanto tempo deitada - dormindo, lendo, assistindo à TV ou comendo - que meu corpo está inteiro dolorido, ainda tentando se habituar novamente à posição vertical. 

Aproveitei também para fazer uma pequena intervenção cirúrgica em meu nariz, para realizar um velho sonho... Respirar. Ah, a alegria das pequenas coisas... 

Na verdade eu já fiz uma rinoplastia há 10 anos. Embora tenha melhorado um pouco o aspecto estético do meu nariz - que era simplesmente MEDONHO - a cirurgia não ajudou em nada na parte funcional. E graças à minha impossibilidade quase absoluta de respirar pelo nariz, com o tempo fui ganhando cada vez mais problemas: uma tosse constante, manchas nos dentes e até uma alteração progressiva da minha arcada dentária superior, prejudicando minha mordida. 

Mesmo assim, operar o nariz DE NOVO não foi uma decisão nada fácil, porque a primeira vez foi bastante traumatizante. Eu não sou de fazer drama à toa, suporto a dor com relativa facilidade e aquela nem foi a minha cirurgia mais difícil, mas acredite: eu sofri. 

Primeiro que o meu cirurgião era um poço de sensibilidade. Na primeira vez que me examinou, comentou com o médico residente ao seu lado: "Olha a ponta desse nariz! Sério, nunca vi uma ponta de nariz tão feia na minha vida!". E eu tipo: "Ahm, com licença, não quero incomodar, mas... Eu estou aqui."

Além disso, não sei se foi somente o fato de as técnicas cirúrgicas serem mais primitivas à época, se o meu nariz além de ter a ponta mais feia do mundo ainda era o mais difícil de operar do universo ou o cirurgião não era dos melhores, mas eu acordei da anestesia completamente desfigurada. Claro que eu não sabia disso, já que estava lentamente despertando de uma anestesia geral, e não tinha como entender porque as pessoas que tinham conversado comigo alegremente horas antes (outros pacientes que conheci enquanto esperava ir para o centro cirúrgico) me olhavam como se eu fosse uma estranha. "Devem estar bem loucos da anestesia", eu pensava.

Aí a enfermeira vinha, muito gentil, e enxugava com um chumaço de algodão as lágrimas que escorriam do meu olho direito. Nunca as do esquerdo. Quando consegui erguer a mão até os olhos descobri a razão: o que escorria do meu olho direito não eram lágrimas, mas sim sangue que saía do meu nariz e entrava no olho. Até que a gênia da enfermeira finalmente teve a ideia de reclinar um pouco a cama, de modo que o sangue escorresse só por baixo, a não por todas as partes.

Meu rosto estava inteiro inchado e cheio de hematomas. Até minhas gengivas e meu céu da boca incharam. Parecia que tinham tocado fogo em minha face e apagado com um tamanco holandês. De repente, um sopro de conforto em meio ao sofrimento: minha mãe surgiu na porta da sala, procurando por mim. Eu disse "oi", e ela continuou procurando por mim. Chamei, ela me olhou, e continuou procurando por mim. Eu estava ainda muito atordoada para entender a verdade: minha mãe não me reconhecia. Quase tive que lembrar de algum segredo só nosso para dizer e provar que eu era eu mesma. Quando finalmente ela se convenceu de que aquela figura disforme era sua filha, com sua voz doce, disse-me: "já volto" e foi lá fora desmaiar.

Os dias seguintes foram bem difíceis. Eu sentia dor o dia todo. Queria morrer quando as pessoas apareciam pra me visitar. Minha mãe dizia: "Mas como vou dizer para não virem?", e eu: "Dizendo! Fala que tenho uma doença infecciosa e mortal!". Mas minha mãe, presa às convenções sociais, achava falta de educação. Hoje me pergunto se ela não estava secretamente cobrando ingresso dos visitantes.

Depois de uns dias, voltei ao consultório do médico para tirar o tampão, forma moderna de tortura, consistente em pedaços quilométricos de gaze embebida em pomada, socada nas vias nasais até as proximidades do cerebelo. As secreções e o sangue tendem a ressecar dentro do nariz, fazendo a gaze aderir ao tecido em processo de cicatrização. Feito isso, num exercício extremo de sadismo, o algoz médico puxa a gaze com uma pinça, descolando pedaços da alma do paciente no processo.

Findo o sofrimento, terminei com um nariz esquisito, torto, com uma ponta excessivamente arrebitada, e o melhor: respirando exclusivamente pela boca. Meu cirurgião, sempre sensível aos anseios da alma feminina, concluiu: "Não ficou dos 10 mais bonitos, mas, comparado ao que era, acho que está ótimo!".

Agora aposto que você entende porque demorei mais de 10 anos para reunir toda coragem necessária para enfrentar a faca de novo. 

Bem, como disse, estou de volta ao trabalho, o que me impede de passar o resto do dia escrevendo no meu blog. Sim, eu sei, trabalhar é super inconveniente. Vou almoçar agora, e amanhã ou depois eu volto para contar o restante da aventura.

Um comentário:

  1. Desculpa, foi impossível segurar a gargalhada!! Eu só conseguia pensar que queria uma foto do antes, durante e depois (pra ver se teu médico tinha alguma razão rsrs)

    Melhoras para vc viu.

    Beijo

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