Foi o caso, por exemplo, do famoso cartunista
Henfil (autor das charges que ilustram esse texto), irmão do militante
Betinho, exilado durante a ditadura militar. Henfil fez de seu traço e de seu humor armas sutis contra o regime militar. Assim como seus dois irmãos, Henfil herdou da mãe a hemofilia. Por conta disso, os três contraíram o vírus da Aids em transfusões sanguíneas. Depois de muita luta pela democracia, Henfil morreu de Aids, aos 44 anos de idade, sem nunca ter votado para presidente.
Também foi o caso de tantos torturados e mortos nos porões do
DOI-CODI. Tanta gente obrigada a atuar na clandestinidade simplesmente para manifestar seu pensamento sem sofrer consequências nefastas! Hoje temos a liberdade tão fácil que não damos a ela o valor que merece. Podemos divulgar à vontade até a mais patética das ideias, desde que não seja difamatória, racista ou consista em qualquer tipo de crime.
Então eu não concordo que votar seja um saco. É trabalhoso, sim. Mas veja: a gente não compra uma casa sem antes pesquisar se o preço está de acordo com o mercado, sem conhecer o bairro, a vizinhança, sem checar a estrutura, verificar se a documentação está correta... A gente não vai fazer o financiamento ou assinar o cheque sem verificar tudo isso, só porque o anúncio no jornal diz que é uma oportunidade imperdível, certo? Dificilmente alguém (que tenha opção de escolha, claro) decide a escola em que o filho vai estudar sem ter qualquer informação sobre o lugar, os professores, a direção, o método de ensino... Mesmo que o comercial na televisão mostre criancinhas felizes e sorridentes, os pais vão querer ter certeza de que estão fazendo a melhor escolha, dentro de suas possibilidades.
Ao votar, escolhemos nossos representantes, que tomarão em nosso nome decisões que traçarão os rumos do nosso país pelos próximos anos. Por que deveríamos escolhê-los só pelo que vimos na propaganda eleitoral gratuita, ou porque recebemos um santinho na rua, ou porque um conhecido disse que vai votar em tal pessoa? Um direito conquistado com tanto sacrifício merece ser trocado por algum favor de um candidato que já mostra seu caráter antes das eleições comprando votos? Será que é certo se deixar levar por notícias tendenciosas de jornais, revistas e emissoras de TV/rádio que têm seus interesses fortemente comprometidos com determinados candidatos ou partidos? E ainda: devemos acreditar em qualquer corrente cibernética que recebemos por e-mail sem atestar a veracidade ou confirmar a fonte das informações?
Acredito que, para fazer valer a democracia, precisamos cada vez mais escolher com cuidado, fiscalizar os eleitos, e exigir que façam o trabalho para o qual foram escolhidos com honestidade, que honrem o compromisso firmado com a sociedade.
Para quem conhece o valor de seu voto e deseja fazê-lo de forma consciente, felizmente, já temos à nossa disposição muitos mecanismos para investigar o passado, as propostas e as campanhas dos candidatos. Compartilho alguns desses mecanismos com vocês:
O site
Transparência traz várias informações interessantes. Dentre elas, destaco o
relatório de autodoações de campanha. Muitos candidatos supostamente "doaram" para a própria campanha valores muito superiores ao total de seu patrimônio. Por exemplo: o fulano possui patrimônio total no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), e doou para a própria campanha o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). De onde veio esse dinheiro? Qual o salário que essa pessoa precisaria ganhar para ter uma reserva dessas? Ou o candidato não declara a totalidade de seus bens, ou não declara a proveniência do dinheiro de sua campanha!
O site
Excelências acompanha os parlamentares em exercício no país. É possível saber quem sofreu alguma ação ou investigação (seja no Poder Judiciário ou no Tribunal de Contas), quem falta mais às sessões, as viagens, a produtividade, a variação do patrimônio e muito mais.
No site
Às Claras podemos verificar quem financiou a campanha de quem nas eleições de 2002, 2004 e 2006. É possível saber nome e CPF/CNPJ de cada doador ou, na ausência de qualquer identificação, dá pra desconfiar do candidato, especialmente quando grandes somas não têm sua origem explicada.
Já o
Vote na Web é um site em que é possível conhecer os projetos de lei em trâmite no Congresso. Os visitantes cadastrados podem dizer se aprovam ou não a iniciativa. É bom saber se a pessoa em quem você pretende votar já fez alguma coisa que preste, ou só propôs projetos de alteração de nome de rua ou de praça e outras coisas super úteis.
O
Guia Voto Consciente da Gazeta do Povo também tem informações interessantes, especialmente no Portal dos Candidatos, que mostra a declaração de bens, antecedentes criminais e prestação de contas de todos os candidatos paranaenses. A busca pode ser feita por partido, região de atuação, nome e cargo pretendido.
Em resumo, não desperdice o seu voto. Faça valer esse direito que a nossa Lei Maior nos assegura. Conheça o seu candidato, procure compreender suas propostas e perceber se elas têm a ver com suas necessidades e seus anseios. De repente o principal projeto do seu candidato é aumentar o efetivo de policiais nas ruas, mas você pensa que investir na educação e na saúde é o caminho mais inteligente para diminuir a criminalidade. E aí? Será que não existe outro candidato com planos mais alinhados com o que você acredita?
Por fim, mesmo que o seu candidato não se eleja, não deixe de fiscalizar o que os eleitos andam fazendo. Mande e-mails, telefone para o gabinete, denuncie na internet sempre que um deles trair a nossa confiança. O que está em jogo é o seu futuro e o das pessoas que você ama!
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Abraços e bons votos a todos! ;)
Oksana