segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dias de inverno

Interessante como membros da tribo urbanóide têm a crença de que a natureza seja um lugar. E mais: um lugar distante. A gente passa um final de semana no sítio para "entrar em contato com a natureza". Às vezes é preciso ir mais longe. Escalar uma montanha, ir a uma praia deserta, embrenhar-se por trilhas tortuosas e virar notícia no jornal das 8h, após o resgate pelos bombeiros.

Uma das definições da palavra "natureza" é o conjunto das coisas que de fato existem. Daí conclui-se, por evidente, que o ser humano faz parte da natureza. Entrar em contato com ela, portanto, pode ser uma viagem tanto ao cerrado quanto às profundezas do próprio ser. Mas admito que abraçar uma árvore é bem mais fácil do que o longo e árduo processo de autoconhecimento.

Um pequeno passo que pode dar início a essa jornada é observar como o restante da natureza se move. Nós, filhos rebeldes e arredios, fazemos de tudo para fugir das regras e viver da nossa própria maneira. Mesmo que isso signifique vivenciar uma sequência infindável de frustrações, sustentamos uma nem sempre verdadeira sensação de liberdade. 

Já os demais elementos - minerais, vegetais ou animais - preferem viver de acordo com as regras. A água não se esforça para se manter congelada quando a temperatura sobe; as cadelas não andam a seduzir machos quando não estão no cio; as flores não desabrocham fora de época.

A maior parte dos humanos rejeita a autoridade da natureza. Fazemos tudo quando e como bem entendemos. Vamos para a balada no momento em que corpo e alma exigem recolhimento e repouso. Ficamos em casa dormindo quando o organismo pulsa por ação. Cravamos pedúnculos em solo arenoso, quando o vento sopra em direção a terrenos mais férteis. Mantemo-nos encapsulados em semente, no meio de um jardim florido.

Talvez a vida possa ser mais simples se pudermos compreender melhor nossas estações. Aproveitar os dias longos e a sensação de plenitude do verão. Respeitar o tempo de plantar e de colher. Entender que há uma razão de ser para os dias de inverno.

Quem deixa de semear no tempo certo, não terá o que colher. Quem se distrair do momento da colheita, deixará que o fruto apodreça. Nos dias em que o frio e o cinza nos inspiram a seguir o exemplo dos ursos entorpecidos em suas tocas, é uma pena não podermos fugir do trabalho e outras obrigações para hibernar até que o sol volte a despontar. Mas aproveitar o momento para aprofundar a viagem ao âmago de si mesmo é uma opção viável para quem está em sintonia com a própria natureza.

Um comentário:

  1. Ah! Também queria hibernar um pouco nestes dias cinzentos, aliás saio de casa, a lua ainda está lá, creeedo! A Nina ronca feito sei lá o que...rsrsrs. E a galera indo pra cidade grande....kkkkkkkkkk

    Bjo

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