quarta-feira, 9 de junho de 2010

Aos avulsos

Mais um 12 de junho se aproxima. Aos que acreditam que essa é mais uma data de estrito apelo comercial, informo que estão absolutamente certos. Em outros países, o equivalente ao nosso dia dos namorados é o 14 de fevereiro, dia de homenagem a São Valentim, que supostamente lutou contra as ordens de um imperador malvadão que havia proibido os casamentos na Idade Média.

O Valentine's Day coincide com a véspera das festas realizadas na Roma antiga em honra de Juno (deusa da mulher e do matrimônio, não a moça do filme) e de Pan (deus da natureza, não a rádio, nem os jogos). Uau, realmente surpreendente e raro que tenha surgido uma lenda sobre um santo católico milagroso e romântico justamente na data de um ritual pagão de fertilidade, não? Mas isso não vem ao caso.

Por falar em paganismo, no Brasil, o dia dos namorados foi ideia de um publicitário chamado João Dorio. A data foi escolhida por duas razões: a primeira é por ser véspera do dia de Santo Antônio, nosso popular casamenteiro. A segunda (e principal) é que o meio do ano costumava ser pobre para o comércio brasileiro. Do dia das mães (em maio) até o dia dos pais (em agosto), o povo não tinha nenhuma razão para movimentar a economia e demonstrar afeto através do consumismo desenfreado. Então coube aos nossos brilhantes publicitários popularizarem o conceito e transformarem a data em mais um momento de gastos obrigatórios.

Para quem está desacompanhado, essa época do ano é bastante propícia a depressão profunda, isolamento social, tentativas de suicídio, sensação de absoluta incompetência emocional e atitudes desesperadas. Destas últimas, destaco as mais comuns: telefonar para o(a) ex; dar uma chance a um(a) desconhecido(a) de perfil pouco promissor de alguma rede social na internet (Orkut, Facebook ou pior, ParPerfeito); cair em ciladas como encontros às escuras (seu amigo jura que você vai gostar da amiga super divertida da namorada dele, e ao chegar ao encontro você percebe que ele esqueceu de mencionar o bigode da moça); dentre outras.

Eu conheço várias pessoas maravilhosas que estão solteiras. Evidentemente, como todas as pessoas maravilhosas, essas também são bem humoradas, inteligentes, divertidas, lindas e super bem resolvidas. Mas eu sei bem como é chato estar só quando todo mundo parece ter achado a metade da laranja ou seja lá qual for a fruta do momento. Especialmente nessa época do ano, em que não há um único outdoor, comercial de TV ou estreia no cinema que poupe os solteiros da imagem de casais felizes e lindos (calma, gente, são só modelos, provavelmente eles nem se conheciam antes da sessão de fotos).

Se você, como meus maravilhosos amigos e amigas solteiros, está avulso nesse dia dos namorados, eu suplico: não se deixe levar pela amargura. Em primeiro lugar, repito o que você já está cansado de saber, mas eu sei que às vezes você ignora (been there, done that): estar acompanhado não é garantia de felicidade. Incontáveis casais continuam juntos após anos de agressões mútuas, sem proporcionar nada de bom um ao outro. Acredito mesmo que muitas pessoas sentem um prazer secreto em tornar miserável a vida de seu parceiro. O sentimento de posse torna inconcebível a ideia de deixar a pessoa ir embora e ser feliz. Pior ainda: ser feliz com outra pessoa.

Além disso, confie em mim quando eu digo que a facilidade para encontrar o par ideal é inversamente proporcional a quanto especial você é. Não, não estou falando isso pra encher sua bola. É sério! Pessoas superficiais, ordinárias, sem graça, simplórias encontram semelhantes com uma facilidade enorme. Óbvio, esse é o tipo mais abundante de ser humano.

Se você é uma pessoa decente, fiel a seus princípios, inteligente, bem educada, gentil, divertida, batalhadora e dona de mais uma série de predicados, já faz parte de um grupo bem mais seleto. Num mundão desse tamanho, nem sempre é fácil encontrar essa turma, toda espalhada.

Nem por isso você deve ceder à pressão das campanhas publicitárias, das suas tias e do universo todo que parece às vezes esfregar na sua cara que você é a única pessoa incapaz de arranjar alguém que preste. Não caia na tentação de afrouxar seus critérios pra encontrar alguém que se encaixe neles. Não vale a pena. Você merece mais.

Como eu disse aqui, depois de sofrer muito por ter deixado entrar na minha vida pessoas que nem de longe me mereciam, que não tinham sequer a capacidade de perceber o meu valor, decidi não mais  elastecer meus critérios ao ponto de deformar meus próprios sonhos. Algo me dizia que ainda encontraria alguém que não iria me desapontar. E eu estava quase completamente certa. Quase, porque encontrei alguém que não apenas se encaixa nos meus critérios, mas supera todas as minhas expectativas.

É essa sensação que eu desejo para todos os meus amigos e amigas maravilhosos e, ainda, solteiros.

Beijos!

3 comentários:

  1. Sis, que engraçado... ainda hoje pela manhã lembrei da época em que eu SEMPRE olhava seu blog (o quem no cosmos?), e disputava o primeiro comentário com o não menos fã Bernardo Sinho!

    Depois, o trabalho não permitia mais, e desde então, quando eu chego em casa - que já não é mais tão comum - quero mais é ficar sossegada com as minhas sobrinhas!

    Hoje, para minha surpresa, vi que não está bloqueado o acesso ao blog, MUAHAHAHA!

    Espere o retorno, não com o mesmo afinco, é verdade, já que o tempo não me permite, mas presente estarei sempre que possível!! Amo!

    Grande beijo!

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  2. Porque você é uma pessoa sensível...

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  3. Que lindo!! Muito generosa você, viu? Mesmo estando muito bem obrigada, escreveu para aqueles que não iam passar a data tão bem assim.

    Adorei mesmo o texto. Penso sempre nisso. Repito comigo como um mantra: nada de elastecer os critérios, nada de elastecer os critérios. Na verdade, nem tenho vontade de abrir mão deles. Espero continuar firme nessa tese de que "antes só do que mal acompanhada".

    Bjos!

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